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Em tempos de internet sem fio ultrarrápida, comunicações instantâneas, micro comunicações em texto, áudio e vídeo, muitas vezes um meme com a referência certa consegue explicar para uma criança algo que uma palestra de 45 minutos não consegue.
A evangelização também é constantemente impactada por essas ferramentas e não há novidade nisso, como já relatei em outra oportunidade, o chamado a evangelização por meios digitais não é uma coisa nova e o próprio papa São João Paulo II já o fez. Sem desprezar essa ferramenta que considero a maior invenção para a comunicação humana desde a escrita, uma coisa ainda é uma verdade universal, o exemplo ainda é uma poderosa arma de evangelização, mas uma pergunta necessária é,
“Ainda temos exemplo para oferecer?”
Muitos dos que já desistiram de tentar por algum motivo, facilmente normalizam seus erros e estimam seus pecados com frases feitas populares como, “só quem pode julgar é Deus”, “o único perfeito foi Jesus”, “o quê vale é a intenção”. Não preciso dizer que sim, afirmações como essas tem seu valor em determinados contextos, mas a bem da verdade, elas são comumente ouvidas da boca de pessoas que no geral estão buscando tornar seus erros aceitáveis aos olhos dos outros, sem demonstrar nenhum compromisso em buscar melhorar.
A duas semanas atrás, eu cheguei na igreja para missa no domingo pela manhã como de costume, uma mulher se sentou ao meu lado e trouxe consigo seu filho de aproximadamente uns 5 anos de idade. O menino, como muitas crianças nessa idade, estava inquieto, queria correr, subir no banco, brincar dentro da igreja. Ele queria muitas coisas, exceto ficar quieto, a mãe o repreendia sucessivas vezes, mas não tinha muito sucesso em fazê-lo ficar quieto.
Quando a missa começou, todos ficamos de pé e o menino me notou, não demorou muito para que eu percebesse que o menino estava estranhamente quieto, de início pensei que ele estivesse mais calmo porque a missa havia começado, mas foi ao vê-lo tentando imitar a maneira como eu junto às mãos durante a leitura do evangelho que percebi que ele estava me imitando.
Não sei o quê aquele menino considerou interessante em mim que o fez começar a me imitar, talvez naquele momento Deus tenha me usado para demonstrar para aquela criança a importância de se comportar um pouco mais durante a missa, ou ele apenas achou que eu era um cara engraçado e que ficar me imitando seria divertido. Mas de uma coisa eu tenho certeza, Deus usou a disposição do menino em me imitar para falar comigo, me lembrar o poder de evangelizar pelo exemplo.
No momento da comunhão, a mãe do menino levantou, olhou para o menino e mandou ele não sair dali, levantou e foi para a fila receber Jesus, mas eu continuei sentado. Não ia comungar do Corpo de Cristo naquele domingo, o menino olhou em volta, percebeu muitos levantarem e me perguntou,
“Porque o senhor não vai para fila?”
A pergunta possui uma resposta simples para um católico, se você está em pecado mortal não deve se aproximar da comunhão eucarística. Eu tenho em meu repertório de catequista umas vinte metáforas de como explicar isso para crianças de todas as idades e das mais variadas realidades socioculturais, mas a catequese é mais complexais e desafiadora quando é feita com a sua vida, a final a pergunta foi “porque o senhor não vai para fila?” e não “quando as pessoas não devem ir para a fila?”.
Eu pensei por alguns segundos antes de responder e em seguida comecei com uma pergunta,
“Você já fez catequese para receber a primeira comunhão?”
Eu sabia pela aparente idade dele que a resposta seria não e o não dele veio em forma de outra pergunta,
“O quê é catequese?”
Eu expliquei para ele, que antes de receber Jesus na Eucaristia, todos nós precisamos aprender um pouco mais sobre quem é Jesus e o que Ele espera e deseja nós, isso é a catequese para a primeira comunhão e é comum fazer isso na infância e logo chegaria o tempo dele começar a fazer. Mas depois que crescemos a nossa vida muda um pouco e as vezes precisamos reconhecer que não estamos indo bem naquilo que aprendemos sobre Deus e no que Ele espera e deseja para nós, aí precisamos voltar para o padre nos ajudar a começar de novo, só depois disso podemos ir novamente para a fila receber Jesus.
Ele sorriu e perguntou, “e quando o senhor vai?”, eu respondi que o mais breve possível e ele me desejou sorte e quando a mãe retornou, ele esperou que ela olhasse para ele e perguntou “mãe, quando é que eu vou para a catequese?”.
Podemos explicar, instruir, ensinar e até treinar alguém na fé, sem necessariamente vivê-la, mas acredito ser impossível evangelizar sem ao menos buscar viver a fé, não há uma única história de Santo ou figura bíblica que tenha evangelizado alguém sem o exemplo de sua própria vida de fé. Sim o exemplo é muito mais desafiador do que a regra, pois no exemplo mora a nossa própria conversão diária e como Jesus me lembrou naquele domingo, pela inocente ação da imitação e pela curiosa pergunta daquele menino, evangelizar pelo exemplo não transforma apenas o evangelizado, também nutre constantemente a conversão do evangelizador.
Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.