Matrimônio e celibato, obviamente, diferem em aspectos importantes. Tais diferenças, contudo, não entram em conflito. Os valores de ambos “se interpenetram”. De fato, matrimônio e celibato “se explicitam e complementam” (14.04.1982). O primeiro revela a natureza esponsal da vocação celibatária, assim como a segunda revela o valor extraordinário da união matrimonial. Vejamos.
Como pode o amor matrimonial lançar luz sobre a natureza da vocação celibatária? Conforme João Paulo II, a fidelidade e a “total autodoação” vivida pelos cônjuges oferece um modelo para a fidelidade e a autodoação requeridas dos que optam pelo celibato. Ambas as vocações expressam, à sua maneira, o amor conjugal ou matrimonial, que exige “a total doação de si mesmo” (cf. 14.04.1982). Além disso, os filhos provenientes do matrimônio ajudam as mulheres e os homens celibatários a compreender que eles e elas também são chamados à fecundidade – uma fecundidade espiritual. Desta forma vemos como a realidade “natural” do matrimônio nos orienta para a realidade “sobrenatural” do celibato para o reino. De fato, o conhecimento completo e a valorização do plano de Deus para o matrimônio e a vida familiar são indispensáveis à pessoa celibatária. Inclusive, segundo frisa João Paulo II, para que a pessoa celibatária “esteja bem consciente do que está escolhendo ( … ) deve também ter boa consciência do que ela está renunciando” (05.05.1982).
O celibato, por sua vez, “tem uma particular importância e uma eloquência especial para os que abraçaram a vida matrimonial” (14.04.1982). O celibato, como antecipação direta do matrimônio celeste, mostra aos casais que tipo de união o sacramento deles representa. Noutras palavras, o celibato ajuda os casais a perceber que também o amor deles se orienta para “o Reino”. E, pelo fato de se absterem da união sexual, os celibatários demonstram o grande valor dessa união. De que maneira? O tamanho de um sacrifício mede-se pelo grau de valor dado à coisa sacrificada. Por exemplo, não fazemos o propósito de não pecar durante a quaresma; pois o pecado deve ser evitado sempre. Para que o nosso sacrifício tenha merecimento, devemos sacrificar algo que tenha valor real. A Igreja aprecia muito o celibato precisamente porque ela avalia altamente o que ele sacrifica, isto é, a união sexual e tudo o que a ela está ligado.
A negação de si mesmo, incluída em tal sacrifício – lembramos uma vez mais -, não deve ser vista como uma repressão da sexualidade. O celibato para o reino deve ser uma frutuosa vivência da libertação do desejo sexual, entendido como o desejo de fazer de si mesmo um “sincero dom” para os outros.
Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.
Fonte: WEST, C. Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II. Madrid: Myrian, 2008.





Deixe um comentário