Teologia do Corpo - São João Paulo II

ESCOLHIDOS EM CRISTO DESDE O COMEÇO 

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Assim como no início dos tempos Deus inscreveu organicamente a união matrimonial de Adão e Eva no mistério da criação, ainda hoje continua inscrevendo organicamente a união “esponsal” do novo Adão com a nova Eva (Cristo e a Igreja) no mistério da redenção. A união esponsal torna-se, de fato, o fundamento sobre o qual Deus constrói o mistério da nossa salvação em Cristo (cf. 29 /09 e 13.10.1982). 

Aqui, no caráter “nupcial” da criação e da redenção, reconhecemos uma continuidade essencial do plano de Deus em relação à humanidade. Geralmente somos inclinados a pensar na vinda de Cristo como um “plano B”, que se tornou necessário quando o pecado do primeiro casal frustrou o “plano A”. Nossa necessidade da redenção do pecado parte certamente da realidade da nossa queda. Mas o plano de Deus de tornar-nos participantes de seu eterno “intercâmbio de amor” continua o mesmo, ontem, hoje e sempre. O pecado, pode-se dizer, causou um desvio na realização daquele plano, mas não o destruiu. O plano de Deus a respeito do homem permanece, apesar do pecado. Esse plano – de sempre e para sempre – é que todas as coisas sejam “recapituladas em Cristo” (cf. Ef 1,10). 

O Papa não podia acentuar mais que Cristo – o Cristo encarnado – esteve sempre no centro do plano de Deus a respeito do homem e do universo. Como ele escreveu na primeira linha de sua primeira carta encíclica, “Jesus Cristo é o centro do universo e da história” (RH, n. 1). Deus destinou-nos à união com Cristo, não somente após o pecado e nem somente para nos redimir do pecado. Ele “nos escolheu (em Cristo) antes mesmo da criação do mundo” (Ef 1,4). 

Isto significa que a graça da inocência original (lembre as expressões de solidão original, unidade e nudez) “foi concedida em vista dele (Cristo) ( … ) mesmo que isto – segundo as dimensões do tempo e da história – tenha precedido a Encarnação” (06.10.1982). Noutras palavras, o amor (graça) que o primeiro casal humano conheceu em seus corpos foi, em certo sentido, um antegozo e uma previsão do amor (graça) que Cristo derramaria, no decorrer da história, através de seu corpo. Com efeito, o amor que o primeiro casal humano conheceu “no princípio” em seus corpos dependeu, de alguma forma, do amor que Cristo derramaria sobre sua Esposa, a Igreja. A criação nos prenuncia a redenção e para ela nos prepara. A união do primeiro Adão com a primeira Eva prenuncia e nos dispõe para a união do novo Adão com a nova Eva: Cristo e a Igreja. 

Apesar de isto nos exigir, muitas vezes, um repensar de ideias comumente aceitas, a Encarnação não é um plano posterior na mente de Deus. Como afirma o Catecismo, “desde o início, Deus tinha em vista a glória da nova criação em Cristo” (CIC n. 280). Podemos deduzir isto das palavras de São Paulo, que conecta a união “numa só carne” do Gênesis, com a união de Cristo com a Igreja. “Por isto, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois serão ‘uma só carne’. Este mistério é grande – eu digo isto com referência a Cristo e à Igreja”. (Ef 5, 31-32). Desde o início – antes do pecado – a união conjugal já prenunciava a Encarnação, a união de Cristo com a humanidade “numa só carne”. 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

Fonte: WEST, C. Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II. Madrid: Myrian, 2008.