Sobre o avanço da civilização

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É comum nos depararmos com choques geracionais, a geração anterior começa a olhar para a nova geração considerando que a sua era muito melhor, enquanto a geração atual se pergunta como era possível viver de tal maneira. 

Esse ciclo tende a se repetir e não há de fato nada de novo nisso. Mas junto com esse erro, cada nova geração vai se desligando do legado que a geração anterior deixou, porque somos cada dia mais levados a observar os benefícios e facilidades do nosso tempo como se fossem direitos inatos concedidos a nós magicamente, como se não tivesse existido gerações inteiras de lutas e esforços para materializar e popularizar esses benefícios. 

Esse fenômeno chega a ser contraditório, visto que, ao passo de que as gerações mais jovens são incapazes de viver sem as facilidades modernas e muitas vezes incapazes até de imaginar como seria a vida sem elas. Elas também não conseguem olhar para essas facilidades e reconhecer nelas o esforço de seus antecessores e despertar por eles algum sentimento de gratidão ou admiração. 

Não acredito que todos deveriam aprender a sobreviver sozinhos na floresta, o conhecimento está disperso na sociedade e se você vive, trabalha, visita ou gosta de florestas você deveria sim aprender a sobreviver em uma, pois a chance desse conhecimento ser útil para você em algum momento é muito maior. Mas se você é uma pessoa urbana, criada em condômino fechado, que gosta de shopping e só de pensar em atividade ao ar livre você já desanima. As chances de você estar sozinho numa floresta para precisar desse conhecimento são bem menores e talvez seja mais útil você usar o seu tempo de outra maneira. 

Além disso, é importante perceber que a sociedade não é uniforme, alguns lugares estão em um estágio onde a conexão a internet é considerado um direito humano básico e em outros a preocupação é a disponibilidade de água potável. Esses dois exemplos extremos uso como demonstração das diferenças da sociedade que por muitas vezes insistimos em tratar como uniforme, mas cada sociedade avança na medida de suas possibilidades e de seu contexto. 

É comum nós como católicos buscarmos destacar as contribuições da Santa Mãe Igreja para o desenvolvimento da sociedade, com a boa intenção de demonstrar como a Igreja ajudou e ajuda até hoje e destacar a sua importância. E sim, é um fato que as inúmeras contribuições da Igreja para alcançarmos o padrão de sociedade que temos hoje estão incutidas em nosso dia a dia, na literatura, na moral, na educação, no direito, na arte, na ciência, na saúde, na assistência social, na estrutura dos povos soberanos e da paz entre esses mesmos povos. 

Todavia usar essas contribuições, antigas ou atuais, para tentar converter alguém ao catolicismo é um erro, porque as duas possibilidades mais prováveis são a do possível novo convertido se converter ao assistencialismo ou o convertido se perder no próprio argumento assistencialista. Já que em uma sociedade com diferentes realidades e um povo incapaz de reconhecer as contribuições do passado, esse caminho não os farão entender que o amor é a Cristo. 

Todo católico precisa compreender e ser capaz de fazer com que outros que ele deseje evangelizar compreenda, que sim a Igreja Católica foi uma das grandes responsáveis pela universalização da fidelidade matrimonial monogâmica, mas um católico não é fiel ao seu cônjuge por amor ao cônjuge, isso é muito pouco, a fidelidade é por amor a Cristo. 

A Igreja Católica não se tornou a maior detentora e administradora de hospitais, asilos e orfanatos por pena, compaixão e muito menos amor ao pobre, idoso ou órfão. Todo bom católico precisa desejar que eles deixem de existir, nós fazemos isso por amor a Cristo. 

A Igreja Católica não foi a precursora das universidades e não criou inúmeras escolas porque deseja simplesmente instruir as pessoas, ensinar-lhes um ofício ou uma profissão, o católico constrói, promove e mantem essas instituições por amor a Cristo, porque deseja que todos possam conhecer e viver a verdade da Boa Nova. 

Ao lançar esse olhar católico sobre as ações da Igreja e sobre todas as nossas ações, fica fácil perceber não simplesmente a contribuição da Igreja para o avanço da civilização e a quem devemos nutrir gratidão ou admiração por esses avanços, mas também como podemos preservar esses avanços e continuar avançando. Precisamos continuar conduzindo nossas vidas por amor a Cristo e Ele tudo fará. 

Santo Agostinho de Hipona nos diz que “Deus não permitiria um mal se não soubesse tirar dele um bem maior”, imagine o que Ele permite e fará com a nossa dedicação por amor a Ele. 

Pode ser difícil de perceber isso no estilo de vida instantâneo e conectado da modernidade que muitos de nós vivemos, mas lembre-se que para a internet funcionar entre os continentes, existe uma infraestrutura gigante de cabos submarinos. Mas só conhecemos os mares hoje para fazer um cabo submarino sair da Europa até o Brasil, porque séculos antes, portugueses e espanhóis começaram a desbravar os mares para chegar até a América e a grande perseverança deles em enfrentar tais jornadas perigosas para chegar até aqui estava firmemente pautada em uma coisa, converter e salvar as almas do novo mundo. 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.