Teologia do Corpo - São João Paulo II

A ESPOSA COMO “IRMÔ E “JARDIM FECHADO” 

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Naquela esplêndida ode bíblica sobre o amor erótico, Cântico dos Cânticos, o amante repetidamente se refere à amada como “irmã”, antes de chamá-lá de “esposa”. “Feriste meu coração, ó minha irmã e esposa, feriste meu coração com um só de teus olhares ( … ). Como são belos os teus amores, ó minha irmã e esposa ( … ). És um jardim fechado, minha irmã e esposa, jardim fechado e fonte lacrada” (Ct 4, 9-10, 12). O Papa vê uma “eloquência especial” nesta expressão poética. 

O reconhecimento da amada, primeiro como “irmã”, demonstra que o amante a respeita como alguém que participa da mesma humanidade. Isto soa como o eco das palavras de Adão: “Desta vez sim é osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2, 23). Em resumo, vendo-a primeiro como “irmã”, ele mostra que o desejo de tê-la como “esposa” não é um desejo de luxúria e sim de amor. Da mesma forma como o homem normal rejeita a ideia de valer-se luxuriosamente de sua irmã, assim deve um homem rejeitar a ideia de aproveitar-se luxuriosamente da esposa. Com “uma ternura desinteressada” (30.05.1984), o verdadeiro amante só deseja ser um dom sincero para sua amada, em conformidade com a imagem de Deus. 

O noivo demonstra ainda melhor o genuíno caráter de seu amor à noiva ao valer-se das expressões “jardim fechado” e “fonte lacrada”. Essas expressões indicam que ele está disposto a recebê- la como a “mestra de seu próprio mistério” (30.05.1984). Todo ser humano é um inviolável mistério, um reflexo do próprio mistério de Deus. Se o amante quer entrar nesse “jardim” e participar do mistério da mulher, não pode invadi-lo à força ou tentar arrombar a porta. Tampouco pode dominá-la para lhe arrancar a chave, o que seria uma violação. Para respeitar a mulher como “a mestra de seu próprio mistério”, o amante não tem outra coisa a fazer que fiar-se à sua liberdade. Ele só mete “a mão na fechadura” (Ct 5,4) depois do “sim” que ela lhe dá livremente. Na liberdade mais total, sem qualquer mostra de coação, ela diz: “Eu sou para o meu amado” (Ct 6.3). 

O detalhe aqui é que o amor autêntico proporciona uma certa “entrada” no mistério do outro, sem nunca violar o mistério pessoal (cf. 30.05.1984). Se o “amor” de uma pessoa viola o amado ou a amada, não é amor e nem pode chamar-se amor. É uma falsificação do amor, é luxúria. 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

Fonte: WEST, C. Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II. Madrid: Myrian, 2008.