Se os namorados do Cântico dos Cânticos nos ajudam a distinguir entre amor autêntico e luxúria, o casamento de Tobias e Sara, no livro de Tobias, demonstra de maneira precisa o que se encontra em jogo nesta distinção. Aqui aprendemos que a união sexual é “um teste de vida e morte” (27.06.1984).
Como diz a história do Antigo Testamento, Sara já tinha casado sete vezes, mas os maridos, um após outro, morreram antes de se unir sexualmente com ela (cf. Tb 6, 13 -14). (Sete vezes seguidas! Que lua-de-mel!?). Então um anjo aparece a Tobias e lhe diz que ele deve casar-se com Sara. João Paulo II homem de fina percepção – observa que Tobias tinha razões de sobra para ficar com medo. De fato, no dia do casamento, o presumível futuro sogro já estava abrindo a sepultura para o noivo (cf. Tb 8, 9).
Tobias, corajosamente, enfrenta o teste. Toma Sara como esposa, consuma o casamento – e vive. Por quê? Porque, “durante o teste na noite de núpcias, o amor, fortalecido pela oração, tornou- se mais forte que a morte”. O amor “é vitorioso porque reza” (27.06.1984).
Dê uma boa olhada na oração de Tobias. Ela contém uma síntese de tudo o que expusemos na teologia do corpo apresentada pelo Papa.
“Tu és bendito, Deus de nossos pais, e bendito é teu nome pelos séculos dos séculos. Bendigam-te os céus e toda a criação por todos os séculos. Tu fizeste Adão e lhe deste Eva como auxiliar e amparo, e de ambos surgiu a descendência humana. Foste tu que disseste que não era bom o homem ficar só: façamos para ele uma auxiliar que lhe seja semelhante. Agora não é por luxúria que me caso com esta minha irmã, e sim com reta intenção. Ordena que tenhas misericórdia de mim e dela e possamos chegar os dois a uma ditosa velhice. Ambos disseram: amém, amém, e dormiram a noite inteira” (Tb 8, 5 – 8).
Como vemos, Tobias primeiro louva a Deus por sua imensa bondade. Em seguida, como Cristo ensinará mais tarde, Tobias coloca seu coração ao plano original de Deus a respeito do matrimônio. Chama Sara de “irmã”, como o amante do Cântico dos Cânticos. Ele contrasta a luxúria com a sincera doação de si mesmo. Sabe que precisa da misericórdia de Deus para viver a verdade do amor, e almeja passar sua vida com ela. O “amém” de Sara mostra que ela participa do mesmo e único desejo.
Se a união sexual é um “teste de vida e morte”, então, diante do autêntico amor nupcial, a morte não tem chance. “Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão?” (I Cor 15, 55). Os esposos que, pela graça de Deus, se amam conforme o plano original do Criador – e confiam na sua misericórdia quando falham no seu amor mútuo – não precisam temer o “teste”. Eles estão prontos e dispostos a colocar-se “entre as forças do bem e do mal ( … ), porque o amor confia na vitória do bem e está pronto a fazer o que for necessário para garantir sua vitória” (27.06.1984).
O amor matrimonial autêntico está pronto a fazer qualquer sacrifício, para que a luxúria não triunfe, e assim o valor da vida humana possa brilhar em toda a sua beleza e esplendor. Este é o amor que a Igreja apresenta ao casal na encíclica Humanae Vitae. Um amor sacrificai. O mesmo amor com que “Cristo amou a Igreja”.
Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.
Fonte: WEST, C. Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II. Madrid: Myrian, 2008.




