Sobre homilias rápidas

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Recentemente na catequese da Audiência Geral, centrada no Espírito Santo, o Santo Padre Papa Francisco enfatizou que “a Igreja se alimenta da leitura espiritual da Sagrada Escritura, ou seja, da leitura feita sob a orientação do Espírito Santo que a inspirou”.

Apenas esse trecho seria mais do que o suficiente para que todos os católicos refletissem sobre sua vida e intimidade com a Sagrada escritura, porém uma outra afirmação do Santo Padre tomou a atenção da internet. A recomendação para que a homilia seja curta. 

“Para isso, a homilia deve ser curta: uma imagem, um pensamento e um sentimento. A homilia não deve durar mais de oito minutos, porque depois desse tempo, a atenção se perde e as pessoas dormem, e têm razão. Uma homilia deve ser assim. Digo isso aos sacerdotes que falam muito e não se entende do que estão falando. Uma homilia curta: um pensamento, um sentimento e uma ação, como fazer. Não mais que oito minutos. Porque a homilia deve ajudar a transferir a Palavra de Deus do livro para a vida”.

Eu lendo a catequese do Santo Padre a compartilhei e me identifiquei com ela em vários níveis, de imediato porque de fato muitos padres que conheço e na paróquia que sirvo se delongam em suas homilias e muitas vezes não se fazem entender com razoável clareza. Rotineiramente eu saio da missa levantando hipóteses de qual era a intenção ou do que ele queria dizer e tenho consciência de que isso não é o ideal. 

Mas indo a um nível mais individual como leigo, tive que olhar para o meu serviço e meu próprio desafio de me fazer entender para aqueles que me ouvem, em pregações, em catequeses, ao responder perguntas e tirar dúvidas e tantos outros momentos que somos incitados a partilhar a palavra de Deus. 

Depois em um nível mais pessoal, como católico, o que eu estou fazendo pelos padres para ajudá-los nesse sentido. Não foi difícil perceber que nada, eu estava atrapalhando, mas como já tinha compartilhado a recomendação do Santo Padre sobre os oito minutos de homilia nas redes sociais, percebei que não era o único, recebi inúmeros relatos e reclamações em reação ao post, sempre apontando o mesmo problema em relação aos seus padres. 

“Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15, 5b).

Sabendo disso, não respondi a ninguém e fui rezar, no dia seguinte comecei a responder todos eles com uma sugestão simples, a mesma que decide adotar para mim.

“Reza uma Ave Maria pelo padre, depois chega nele e diz, ‘padre hoje eu não entendi nada, mas rezei pelo senhor’”. 

Para essa sugestão eu recebi todo tipo de reação, de pessoas que acolheram e decidiram adotar, até pessoas que a ignoraram porque queriam mesmo era falar mau do padre. 

Mas o meu pensamento com essa sugestão é simples, em minha atuação profissional falo a muitas pessoas frequentemente, mas nem sempre é possível saber de imediato se eles compreenderam aquilo que eu desejo transmitir. Com o padre acontece a mesma coisa, ele está ali falando para um público muito heterogêneo, são pessoas de diversas idades, níveis de instrução e classe sociais. 

Eu não posso fazer muito por ele, naquele momento é ele transmitindo para nós mais de dois mil anos de sabedoria da Santa Mãe Igreja. Mas eu posso rezar para que o Espírito Santo fale por ele e posso mantê-lo informado sobre quando eu não entendi, quem sabe na próxima ele aborda de uma maneira diferente e eu entenda. 

Torna-se uma relação de boa vontade entre nós. Eu acolho da assembleia o que me for possível, ele transmite do presbitério o que for possível. Ele reza por mim de lá, eu rezo por ele de cá, nós rezamos juntos. Isto é ser Igreja, isto é ser Corpo de Cristo. 

E você, levou mais de oitos minutos lendo isso?

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.