Teologia do Corpo - São João Paulo II

PATERNIDADE/MATERNIDADE RESPONSÁVEL

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Então, fidelidade às promessas matrimoniais significa realmente que os casais não devem nunca limitar o número de filhos? Não. Ao chamar casais para um amor responsável, a Igreja chama-os também para uma paternidade responsável. 

Como deixou claro o papa Paulo VI, “exercem a paternidade/maternidade responsável tanto aqueles que, prudente e generosamente, decidem ter uma família numerosa, quanto os que, por razões sérias e com o devido respeito à lei moral, decidem não ter mais filhos por enquanto ou mesmo por um período indeterminado” (HY, no 10). É bom notar que famílias numerosas devem resultar de uma prudente troca de ideias do casal, não do “acaso”. Note também que os casais precisam ter “sérias razões” para evitar a gravidez e devem respeitar a lei moral, a “ética do sinal”. 

Admitindo que um casal tenha sérias razões para evitar um filho (financeiras, físicas, psicológicas … ), o que poderia ele fazer para não violar a expressão perfeita de seu sacramento? Ou então, que poderia fazer para evitar a concepção de um bebê, sem ser infiel às promessas matrimoniais? Você está fazendo isto agora mesmo (suponho). O casal pode abster-se do sexo. Não há nada de errado em abster-se do sexo, quando existe uma boa razão para isto. A Igreja sempre reconheceu que o único método de “controle da natalidade” que respeita a linguagem do amor divino é o “autocontrole”. 

Outra pergunta: estaria o casal falsificando sua união sexual, se praticasse o sexo durante o período de infertilidade natural? Tomemos, por exemplo, um casal que já ultrapassou a idade fértil. Eles sabem muito bem que da sua união não vai mais surgir um filho. Neste caso, estariam violando o “sinal”, ao se unirem sexualmente, sabendo de antemão o resultado? Estariam praticando a contracepção? Não! Porque esta só acontece quando ao relacionamento sexual se acrescenta algo que a torna sem efeito, o que pode acontecer por vários meios: hormônios, cirurgias e o velho método do coito interrompido. 

Os casais que usam o método natural de limitação da família, quando têm justas razões para evitar uma gravidez, nunca tornam inférteis seus atos sexuais, nunca praticam a contracepção. Eles estudam sua infertilidade e somente se unem quando são naturalmente infecundos. Os leitores não familiarizados com os métodos naturais de limitação devem saber que a sua garantia é de 98 a 99 por cento, desde que sejam usados corretamente. Além disso, qualquer mulher, independente da regularidade de seus ciclos menstruais, pode usá-los com sucesso. Claro, não é o “método do ritmo” de nossas avós. 

QUAL A DIFERENÇA?

Para muitos, isto é como querer rachar cabelos. “Que grande diferença existe – perguntam eles – entre tomar nós mesmos infértil uma união e esperar que ela se tome infértil naturalmente? O resultado não é o mesmo? Em ambos os casos: evitar filhos”. A isto, respondo com outra pergunta: “Qual é a grande diferença entre matar a vovó e esperar que ela morra naturalmente? O resultado é o mesmo: a vovó morta”. Sim, mas no primeiro caso temos um pecado grave, no segundo, não. É exatamente a mesma coisa quanto aos contraceptivos e à abstinência periódica. 

Como observa São João Paulo II, a diferença entre a abstinência periódica e a contracepção “é muito mais ampla e profunda do que geralmente se pensa, uma diferença que, em última análise, envolve dois conceitos irreconciliáveis da pessoa humana e da sexualidade” (Familiaris Consortio, no 32). Uma diferença, realmente, de proporções cósmicas. 

Primeiro, é importante compreender o seguinte: a Igreja nunca afirmou que é pecado evitar filhos naturalmente. O fim (evitar filhos), porém, não justifica os meios. Pode muito bem existir uma boa razão para desejar que a avó passe à outra vida. Talvez esteja sofrendo horrivelmente, por causa da idade e da doença. Nada disto, porém, justifica tirar-lhe a vida. De maneira semelhante, pode haver boas razões para evitar o concebimento de mais um filho. Talvez os pais estejam em situação financeira muito séria. Ou já tenham quatro filhos com menos de quatro anos de idade, e a situação emocional deles chegou aos últimos limites. Nada, entretanto, justifica a tentativa de esterilização do ato sexual, assim como nenhuma situação justifica provocar a morte da vovó. 

Tanto a morte natural dela quanto o período natural de infertilidade da mulher são determinados por Deus. Mas, ao encurtarmos a vida da vovó ou esterilizarmos o sexo, estamos tomando em nossas próprias mãos as forças da vida – assim como o enganador nos tentou a fazer no início – com a promessa de tornar-nos como Deus (cf. Gn 3,5). Portanto – conclui o Papa “a contracepção deve ser considerada tão profundamente imoral, que nunca, por razão nenhuma, seja tida como aceitável. Pensar ou dizer o contrário equivaleria a afirmar que, ao longo da vida, podem surgir situações nas quais seria legítimo não reconhecer Deus como Deus” (10.10.1983). 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

Fonte: WEST, C. Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II. Madrid: Myrian, 2008.