Uma das maiores objeções à Humanae Vitae é que ao seguir seu ensinamento (a abstinência periódica, para evitar a gravidez) os casais ficam impedidos de expressarem um ao outro o seu amor. Mas de que “amor” se trata? – perguntamos. Do autêntico amor conjugal, que espelha o amor de Deus, ou da sua costumeira falsificação – a luxúria?
Foi Deus quem uniu o amor conjugal e a procriação. Como, porém, Deus não pode contradizer-se a si mesmo, não pode haver “contradição entre as leis divinas ligadas à transmissão da vida e as relacionadas com a promoção do amor conjugal autêntico” (GS, no 51). Concordo que pode tornar-se difícil seguir os ensinamentos da Humanae Vitae, mas não deve nunca existir uma contradição no amor.
Pode ser difícil por causa da luta interna que todos experimentamos entre o amor e a luxúria. Esta última nos incita, nos impele fortemente para o relacionamento sexual. Se, no entanto, a intimidade sexual resulta apenas da luxúria, ela não é amor. “Muito ao contrário – diz ele – é uma negação do ( … ) amor” (AR, 150-151). Na realidade, o que muitas vezes chamamos de amor, quando o submetemos a um exame crítico minucioso, ao contrário de todas as aparências, não passa de uma forma de ‘usar’ a outra pessoa” (AR p.167).
Para que serve realmente a anticoncepção? À primeira vista, a pergunta pode parecer estranha, mas vamos pensar um pouco. Os contraceptivos não foram inventados para evitar a gravidez. Já dispúnhamos de um meio cem por cento eficaz, cem por cento seguro para isto – a abstinência. Em última análise, a contracepção tem como objetivo poupar-nos a dificuldade que experimentamos ao ter de optar pela abstinência. Quando toda a fumaça desaparecer, veremos que os contraceptivos foram criados por causa da nossa falta de controle; para justificar a nossa entrega à luxúria.
Por que castramos ou esterilizamos nossos cachorros e gatos? Porque eles são incapazes de dizer não aos seus impulsos de união, porque não são livres. Se nós fazemos isto através dos anticoncepcionais, estamos rebaixando o “grande mistério” da união numa só carne, o estamos colocando no mesmo nível de um par de cachorrinhos no cio. O que é que, em primeiro lugar, nos distingue dos animais (lembra a solidão original)? A resposta é: a liberdade. Deus nos deu a liberdade como a capacidade de amar. A anticoncepção nega essa liberdade. Ela diz: “Eu não posso abster- me”. Por isto, a união sexual contraceptiva não só ataca o sentido procriativo do sexo, mas também faz com que a união sexual deixe de ser um ato de amor” (22.08.1984). Se você não é capaz de dizer não ao sexo, que significado tem o seu “sim”? Somente a pessoa que é livre com a liberdade “para a qual Cristo nos libertou” (cf. Gl 5, 1) é capaz de um autêntico amor.
Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.
Fonte: WEST, C. Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II. Madrid: Myrian, 2008.




