Sobre o Santo Terço – Uma Oração em Família

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O Rosário, com sua simplicidade e profundidade teológica, é uma oração tradicionalmente rica que tem sido uma ferramenta poderosa para a Santa Mãe Igreja em tempos de necessidade. A Igreja sempre reconheceu a eficácia do Rosário, confiando-lhe as causas mais difíceis através de sua recitação comunitária e prática constante. Em momentos de perigo para a cristandade, a força do Rosário foi vista como a salvação, com a Virgem do Rosário sendo saudada como propiciadora da libertação. 

O Papa São João Paulo II acreditava que diante das dificuldades globais do início deste novo milênio era necessária uma intervenção divina para orientar os corações daqueles em conflito e dos líderes das nações, trazendo esperança para um futuro mais brilhante. O Rosário é, por natureza, uma oração de paz, pois consiste na contemplação de Cristo, Príncipe da Paz. Quem assimila o mistério de Cristo pelo Rosário compreende o segredo da paz e o transforma em um projeto de vida. A serena repetição das Ave Marias exerce uma ação pacificadora sobre quem reza, predispondo-o a receber e espalhar a paz verdadeira, um dom especial do Ressuscitado.

Além disso, o Rosário, ao facilitar o encontro com Cristo nos mistérios, revela também o rosto de Cristo nos irmãos, especialmente nos que mais sofrem. Meditar nos mistérios gozosos, por exemplo, nos faz desejar acolher e defender a vida, preocupando-se com o sofrimento das crianças. Seguir os passos de Cristo nos mistérios da luminosos nos leva a testemunhar as bem-aventuranças na vida diária. Contemplar Cristo carregando a cruz ou crucificado, nos mistérios dolorosos, nos inspira a ser cireneus para os irmãos que sofrem. Olhar para a glória de Cristo ressuscitado e Maria coroada, nos mistérios gloriosos, nos motiva a tornar o mundo mais belo e justo, conforme o desígnio de Deus.

O Rosário nos torna construtores da paz no mundo. Suas características de petição insistente e comunitária, em sintonia com o convite de Cristo para “orar sempre, sem desfalecer” (Lc 18, 1), nos permitem esperar que, também hoje, possamos vencer a difícil batalha da paz. O Rosário nos leva a ver os problemas do mundo com um olhar responsável e generoso, alcançando a força de enfrentá-los com a ajuda de Deus e testemunhando a caridade em todas as circunstâncias.

O lugar para recomeçar essa mudança é o seio familiar, o Rosário sempre foi uma oração pela paz e pela família. Era particularmente amado pelas famílias cristãs, favorecendo sua união. É preciso resgatar essa preciosa herança, voltando a rezar em família e pelas famílias, utilizando esta forma de oração. Por isso o papa São João Paulo II nos exorta a oração familiar, “se encorajei a celebração da Liturgia das Horas pelos leigos na vida ordinária das comunidades, faço o mesmo quanto ao Rosário. São caminhos complementares da contemplação cristã. Peço aos pastores das famílias que promovam com convicção a recitação do Rosário”.

A família que reza unida, permanece unida. O Santo Rosário, por antiga tradição, é uma oração ideal para reunir a família. Ao fixar o olhar em Jesus, os membros da família recuperam a capacidade de se olhar nos olhos, comunicar, solidarizar-se, perdoar-se e renovar o amor pelo Espírito de Deus. Evitando assim muitos problemas das famílias contemporâneas que derivam da dificuldade de comunicar. Retomar o Rosário em família significa inserir na vida diária as imagens do mistério da salvação: Jesus e sua Mãe Santíssima. A família que reza unida o Rosário reproduz o clima da casa de Nazaré, colocando Jesus no centro, compartilhando alegrias e sofrimentos, colocando nas mãos de Jesus suas necessidades e projetos, e recebendo d’Ele esperança e força.

O Rosário também pode acompanhar o crescimento dos filhos. É o itinerário da vida de Cristo, desde a concepção até à glória. Hoje, a tarefa dos pais de acompanhar os filhos nas diversas etapas da vida tornou-se mais difícil. A sociedade da tecnologia e da globalização criou uma distância cultural entre as gerações. Os apelos e experiências invadem cedo a vida das crianças e adolescentes, causando angústia nos pais. Rezar o Rosário pelos filhos e com os filhos, educando-os para este momento diário de oração em família, pode não resolver todos os problemas, mas é uma ajuda espiritual significativa.

Pode-se objetar que o Rosário parece uma oração pouco adaptada ao gosto das crianças e jovens de hoje. No entanto, se for bem apresentado e adaptado, com símbolos e práticas atraentes, pode ser compreendido e valorizado. Uma pastoral juvenil criativa e apaixonada pode, com a ajuda de Deus, fazer coisas significativas. Se bem apresentado, os jovens podem surpreender os adultos, assumindo o Rosário com entusiasmo.

Por tudo isso, deixo o pedido outrora feito pelo Santo Padre, papa São João Paulo II, como um lembre, um pedido vivo e constante a arder no coração de cada filho de Deus. 

Queridos irmãos e irmãs, uma oração tão fácil e ao mesmo tempo tão rica merece ser redescoberta pela comunidade cristã. Façamo-lo como reforço à linha traçada na Carta apostólica “Novo millennio ineunte”. Dirijo-me aos Bispos, sacerdotes, diáconos, agentes pastorais, teólogos, consagrados e consagradas, famílias, doentes, idosos e jovens: retomai confiadamente o terço do Rosário, descobrindo-o à luz da Escritura, em harmonia com a Liturgia e no contexto da vida cotidiana. Que este apelo não fique ignorado!

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

Quer se aprofundar no assunto? Leia também:

Santa Sé. Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae do Sumo Pontífice João Paulo II ao Episcopado, ao Clero e aos Fiéis sobre o Rosário. Dicastero per la Comunicazione – Libreria Editrice Vaticana, 2002. Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/2002/documents/hf_jp-ii_apl_20021016_rosarium-virginis-mariae.html