Teologia do Corpo - São João Paulo II

ESPIRITUALIDADE MATRIMONIAL

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Em que consiste a espiritualidade matrimonial? Em viver a vida de casados de acordo com a inspiração de Deus. Isto requer que os dois se abram ao poder vivificador do Espírito Santo e lhe permitam guiá-los em todas as suas escolhas e comportamentos. Segundo o Papa São João Paulo II, a união sexual em si mesma, com todas as suas alegrias emocionais e prazeres físicos, deve ser uma expressão da “vida segundo o Espírito Santo” (cf. 01.12.1982). Quando os esposos estão abertos ao dom, o Espírito Santo impregna seus desejos sexuais “com tudo quanto existe de nobre e bonito”, com “o valor supremo do amor” (29.10.1980). Se, porém, pela sua “dureza de coração”, eles se fecham ao Espírito Santo, sua união sexual degenera bem logo num ato de luxúria, num ato de mútua exploração.

Sem o Espírito Santo, a fraqueza humana transforma o ensinamento da Humanae Vitae num fardo impossível de carregar. Mas a quem se destina esse ensinamento? A homens e mulheres escravizados por suas fraquezas? Ou a homens e mulheres libertados pelo poder do Espírito Santo? É isto que está em jogo no ensinamento da Humanae Vitae – o poder do Evangelho! A Igreja apresenta o ensinamento da Humanae Vitae com absoluta confiança, baseada no fato que “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5, 5). 

Cabe aos casais “implorar este ‘poder’ essencial através da oração; ( … ) devem buscar a graça e o amor na fonte perene da Eucaristia; ( … ) ‘com humilde perseverança’, devem superar suas fraquezas e pecados pelo sacramento da Penitência”. Estes – acrescenta São João Paulo II – “são os meios infalíveis e indispensáveis para formar a espiritualidade cristã da vida matrimonial e da família” (03.10.1984). Tudo isto, naturalmente, pressupõe a fé, a abertura do coração ao dom do Espírito Santo. 

Se o casal não vive uma espiritualidade verdadeira – ou seja, se os corações de ambos estão fechados ao poder transformador do Espírito Santo – inevitavelmente verá os ensinamentos da Igreja contra a anticoncepção como uma regra opressora. Em contrapartida, para os casais que fazem da sua relação sexual uma expressão de “vida no Espírito Santo” seria impensável tornar sua união estéril. Eles entendem que sua união deve simbolizar o amor vivificante de Cristo à sua Igreja. Em outras palavras, eles compreendem a teologia de seus corpos. Cheios “de veneração pelos valores essenciais da união conjugal (14.11.1984), estão preparados e dispostos a fazer qualquer sacrifício para que a luxúria não vença o amor”. 

Como relata Christopher West, “Estou longe de ser um homem perfeito, um marido perfeito, mas esta visão da espiritualidade matrimonial é real para mim. Como já disse, houve um momento em que estive a ponto de abandonar a Igreja, por causa do seu ensino contra os contraceptivos. Via esta sua determinação como uma ética opressiva e arbitrária. Mas quando, finalmente, desisti do meu orgulho obstinado, e rezei: “Ó meu Deus, se isto é verdadeiro, deves mudar meu coração”, imagine só! Deus começou a mudar meu coração. Pouco a pouco, eu comecei a experimentar o “etos da redenção”. Para os que vivem um autêntico etos cristão, a ideia de envolver contraceptivos nas relações sexuais torna-se repulsiva. Eles sentem-se livres da lei! Não a sentem mais como uma imposição. Ela brota do fundo como uma expressão de “vida segundo o Espírito”. Quando tal mudança acontece no coração, a pessoa começa a entender por que os mártires preferiram morrer a transgredir a lei de Deus. Repito: não sou um homem perfeito, mas posso dar testemunho dessa transformação. E se tal mudança foi possível em minha vida, também o será na vida de qualquer um”. 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

Fonte: WEST, C. Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II. Madrid: Myrian, 2008.