Sobre ensinar o que é ser católico

Written by

·

Vivemos um tempo em que a comunicação é veloz, os debates são constantes e as polêmicas tomam conta dos espaços de evangelização com uma frequência que, em muitos casos, chega a nos deixar cansados. Basta uma busca rápida na internet para encontrar páginas, perfis, vídeos e textos de autodeclarados evangelizadores cuja missão parece ser mostrar “o que não é católico” ao mundo. E, de fato, esse tipo de conteúdo atrai milhões.

Mas aqui te convido a uma pausa. Uma pausa para refletir. Não estaria a ânsia por apontar os erros alheios nos afastando do primeiro chamado de todo católico, ser outro Cristo?

É claro que há erros que precisam ser corrigidos, heresias que precisam ser denunciadas, comportamentos incompatíveis com a fé católica que não podem ser normalizados. Isso é verdade, e a Santa Mãe Igreja sempre se posicionou diante dos desvios. Os concílios estão aí para nos lembrar disso. No entanto, antes de ensinar o que não é católico, é preciso ensinar o que é ser católico.

E ser católico é, antes de tudo, seguir Jesus Cristo, reconhecendo-O como o Filho de Deus, vivo e presente na Eucaristia. É crer na Palavra proclamada, é obedecer à Santa Mãe Igreja, é viver os sacramentos com fé e temor, é buscar a caridade como coroa de todas as virtudes. Ser católico é amar a Verdade, não apenas apontar os erros.

É comum vermos jovens que sabem de cor listas de erros teológicos de outras religiões, mas que não sabem rezar o Santo Terço. Sabem identificar o que é protestantismo, espiritismo, modernismo e até marxismo, mas não sabem explicar com clareza o que é a graça santificante, o que é o estado de graça, o que é uma confissão bem feita ou o porquê de vivermos a Missa aos domingos.

Se o católico aprende primeiro o que está fora da Igreja, sem antes ter sido bem formado no que é a fé da Igreja, corre um risco grave de tornar-se um “guarda de fronteira” e não um discípulo de Cristo. Corre o risco de conhecer os muros que cercam a cidade santa, sem jamais adentrar o Templo. Como bem advertiu São João Paulo II,

“A fé se fortalece quando é transmitida, mas ela precisa primeiro ser bem compreendida e vivida.”

Sem essa vivência profunda, o zelo pode se transformar em rigidez e a correção, em julgamento.

A pedagogia de Jesus nos Evangelhos é clara, primeiro Ele chama à conversão com ternura, depois instrui com profundidade, e por fim corrige com firmeza. E essa correção, sempre feita com autoridade, é sustentada por Seu amor. São Paulo segue o mesmo caminho ao exortar as primeiras comunidades, com zelo, mas também com compaixão.

Se queremos formar um povo santo e fiel, precisamos começar pela base sólida, ensinar o que é ser católico. E ser católico é conhecer a beleza da doutrina, a profundidade da liturgia, a riqueza dos sacramentos, o valor da penitência, a grandeza da Eucaristia e a doçura do Imaculado Coração de Maria. É reconhecer os santos como irmãos que trilharam o caminho antes de nós e saber que também somos chamados à santidade. Como nos ensina Santa Teresa de Ávila, 

“Nada te perturbe, nada te espante, tudo passa. Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta.”

É esse coração repousado em Deus que permite ensinar com firmeza e doçura, sem agitação nem escândalo.

Não se trata de fingir que os erros não existem ou de cair no relativismo. Trata-se de formar soldados com armadura e não apenas com espadas. Por que de que adianta saber lutar se não se sabe por quem ou pelo quê se luta?

Somente quando o católico conhece verdadeiramente a sua fé é que poderá defendê-la com caridade e verdade. E se for preciso apontar os erros, que o faça não por gosto do combate, mas por amor à salvação das almas.

Ensinar primeiro o que é ser católico é plantar raízes firmes para que os ventos dos tempos não nos arranquem do Corpo de Cristo. É viver, com autenticidade, a beleza da fé que professamos no Credo, a cada Missa.

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.