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No domingo permanecer e recordar

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Jo 14,23-29

“Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23).

O Evangelho de hoje nos oferece uma promessa que poucos corações compreendem em profundidade, ser morada de Deus. Sim, Deus não quer apenas ser conhecido, Ele quer habitar em nós.

Mas para que essa morada aconteça, não basta emoção, nem um vago sentimento religioso. Jesus diz, “se alguém me ama, guardará a minha palavra” (Jo14,23). Não é sobre palavras bonitas. É sobre obediência. Não é sobre religiosidade ocasional. É sobre fidelidade constante.

São Gregório Magno ensina que guardar a palavra é mais do que decorá-la, é vivê-la de tal modo que ela se torne carne em nós.

Santo Agostinho, comentando esse versículo, diz que o amor que não guarda os mandamentos é apenas aparência, pois o verdadeiro amor por Cristo se manifesta no desejo sincero de agradar a Deus.

E o que acontece com aquele que guarda a palavra?

“Meu Pai o amará, e viremos a ele e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23).

Santo Tomás de Aquino afirma que a alma em estado de graça se torna templo da Trindade, pois onde está o amor, ali Deus habita. E quando Deus habita, tudo é transformado.

Mas não é fácil guardar a Palavra, Jesus sabia disso, por isso nos dá o Espírito Santo.

“O Defensor, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, Ele vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que Eu vos disse” (Jo 14,26).

Veja que riqueza, o Espírito Santo ensina e recorda. Quantas vezes esquecemos o que Deus já nos disse? Quantas vezes a dor, a dúvida, o mundo barulhento apaga em nós a memória da promessa? Mas o Espírito vem e quando O invocamos, Ele recorda a Palavra esquecida e a faz arder novamente em nosso coração.

São João Crisóstomo ensina que o Espírito Santo é o memorial vivo da Igreja, pois Ele mantém acesa a chama da verdade, mesmo nos tempos de trevas. Por isso, não nos desesperemos. O que hoje está frio pode ser reacendido. O que está confuso pode ser esclarecido. O que foi esquecido pode ser lembrado.

E então, no coração que guarda a palavra e acolhe o Espírito, Jesus oferece mais uma promessa, “deixo-vos a paz, a minha paz vos dou” (Jo 14,27).

Mas veja que Ele não diz “dou como o mundo dá”, o mundo dá paz condicional. Dá uma falsa tranquilidade baseada em acordos frágeis, prazeres passageiros e fugas da realidade. Cristo, ao contrário, dá uma paz que permanece mesmo na cruz, mesmo na ausência, mesmo na morte.

Santo Tomás de Aquino explica que a verdadeira paz é o repouso da alma em Deus, e isso só pode ser alcançado quando a vontade humana está em conformidade com a vontade divina. Por isso, Ele pode dizer, “não se perturbe o vosso coração, nem se intimide” (Jo 14,27b).

Essa é a paz de quem sabe que mesmo na ausência visível, Ele está presente em nós. Que mesmo quando não compreendemos, o Espírito está nos ensinando e recordando. E quando tudo parece perdido, ainda temos uma morada. E essa morada somos nós mesmos.

Você tem sido morada de Deus? Ou será que tem se tornado abrigo apenas para a ansiedade, para os ruídos do mundo, para as feridas não curadas?

E se hoje você não sente paz, se a palavra parece esquecida, se o amor esfriou. Peça ao Espírito. Guarde o que já ouviu e Ele virá. E n’Ele, o Pai e o Filho virão também e farão em você uma morada para ali permanecer.

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.