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No domingo a promessa permanece

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Lc 24,46-53

“Enquanto os abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu. Eles o adoraram. Em seguida voltaram para Jerusalém com grande alegria. E estavam sempre no templo, louvando a Deus” (Lc 24,51-53).

A cena da Ascensão nos comove e nos desafia. Jesus, depois de ter vencido a morte, de ter se deixado tocar, de ter comido com os discípulos, sobe aos céus diante dos olhos deles e parte em corpo e alma, glorificado, para junto do Pai.

Esse detalhe não pode passar despercebido. A última imagem que os discípulos têm do Senhor não é de um adeus, mas de uma bênção eterna, dada com as mãos erguidas. Ele não parte em silêncio. Não se despede com tristeza. Ele abençoa. E ao abençoar, Ele permanece.

Grandes doutores da Igreja ao refletiram a riqueza desse momento encontraram ali valiosas lições, São João Crisóstomo, por exemplo, ensina que a Ascensão não é ausência, mas plenitude. O Cristo que sobe ao céu não se distancia, mas se eleva para estar presente em todos os lugares, por meio do Espírito prometido.

Enquanto Santo Agostinho medita que Cristo subiu ao céu com a nossa humanidade, para que nós, ainda em peregrinação, já tivéssemos um lugar preparado na eternidade. A sua Ascensão é, portanto, a exaltação da carne que Ele assumiu e que agora está sentada à direita do Pai.

O doutor angélico, Santo Tomás de Aquino, em sua Suma Teológica, afirma que a Ascensão era necessária para completar a obra da Redenção, pois o Cristo, depois de sofrer, morrer e ressuscitar, devia conduzir a natureza humana à sua meta última, a união eterna com Deus.

Após a assunção de Jesus, acontece algo curioso que também merece nossa atenção, os discípulos voltaram para Jerusalém com grande alegria (Lc 24, 52b). Como podem estar alegres se acabaram de ver o Senhor subir e desaparecer nas alturas? Só se entende isso quando se experimenta a paz de confiar na promessa de Deus, mesmo quando os sinais visíveis desaparecem. Jesus não está mais diante dos olhos, mas está presente no coração.

Eles já não têm medo da ausência, porque confiam na promessa da presença invisível. Eles agora compreendem que o Cristo não está menos presente por estar oculto. Ao contrário, como nos ensina São Gregório de Nissa, “Ele tornou-se ainda mais íntimo à alma que O busca com amor e fé”.

Na Ascensão, o Senhor sobe aos céus, mas também envia os discípulos como testemunhas, envia a Igreja e promete o Espírito Santo. E é essa promessa que os mantém em Jerusalém. Unidos. Perseverantes. Louvando no templo. Com esperança.

A Santa Mãe Igreja nasce assim, de olhos erguidos, mas com os pés em Jerusalém. De corações ardentes, mas com mãos que perseveram no templo. Cheios de saudade, mas tomados de alegria.

E nós, como temos reagido às “ausências” de Deus?

Quantas vezes reclamamos por não mais sentir aquilo que sentíamos. Por não vermos milagres como antes. Por não ouvirmos respostas imediatas. Quantas vezes temos dificuldade em reconhecer a presença de Deus quando os sinais são retirados? Quando não sentimos mais as consolações? Quando não há mais manifestações visíveis?

A Ascensão nos ensina que nem sempre Deus está onde os olhos veem, mas sempre está onde o coração ama.

E se Cristo subiu aos céus, é para que nosso desejo também se eleve. Como nos ensina Santo Agostinho, “Ele subiu diante dos nossos olhos, para que o nosso coração subisse com Ele”.

Hoje, talvez você se perceba olhando para o alto, com saudade do que já experimentou, com incertezas sobre o futuro, com o coração inquieto diante do silêncio de Deus. Mas lembre-se, Ele ainda abençoa, Ele ainda envia, Ele ainda promete e Ele voltará.

Até lá, permaneça como os apóstolos, com alegria, com fidelidade, com adoração. Sabendo que você já está no coração d’Aquele que está à direita do Pai e a Trindade a quem tudo pertence, em tudo pode ser encontrada, do mais elevado milagre ao menor dos detalhes.

Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.