(Jo 20,19-23)

“Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas do lugar onde os discípulos se encontravam por medo dos judeus, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: ‘A paz esteja convosco’. […] Soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados’.” (Jo 20,19.22-23).
Era o primeiro dia da semana, o mesmo em que o túmulo foi encontrado vazio, mas as portas continuavam fechadas, e os corações, trancados pelo medo. Eles sabiam que o Senhor havia ressuscitado, mas ainda não sabiam o que fazer. Conheciam a notícia, mas ainda não haviam sido alcançados pela paz.
E então, no meio da escuridão da dúvida e do silêncio da alma, Jesus entra. Ele não bate, Ele não força, pelo contrário, Ele se põe no meio.
São Gregório Magno ensina que Jesus, ao entrar com as portas fechadas, mostra que já não está sujeito às leis da matéria, mas também revela algo mais profundo, que nada pode impedir Sua presença quando o coração, mesmo temeroso, ainda O deseja. Cristo entra onde há medo, e Sua presença transforma o ambiente.
“A paz esteja convosco” (Jo 20,19b). Três vezes Ele repete essa saudação. E nenhuma delas é uma fórmula vazia. A paz que Ele oferece não é a ausência de conflitos externos, mas a reconciliação interior com Deus, consigo mesmo e com os irmãos.
Santo Agostinho comenta que essa paz é fruto do amor que perdoa, e não da justiça que condena. É o eco da cruz, agora oferecido como consolo, é dom e é missão.
E então Jesus sopra, não é uma brisa suave. É o mesmo sopro que, no princípio, fez o homem viver (cf. Gn 2,7). Agora, o homem novo nasce do Espírito, agora, a Igreja respira.
Santo Tomás de Aquino ensina que o sopro de Jesus comunica graça santificante, prepara os apóstolos para receberem o Espírito em plenitude no Pentecostes e os estabelece ministros da reconciliação. Aqui começa uma nova criação, aqui começa a Igreja.
“Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22b). O Espírito é dom do Ressuscitado. É presença de Deus que permanece, ensina, recorda e santifica. É Ele quem transforma covardes em mártires, pecadores em santos, dúvida em anúncio.
E é a esse Espírito que Jesus associa uma autoridade surpreendente, “A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados” (Jo 20,23a). São João Crisóstomo afirma com clareza, “os sacerdotes receberam um poder que Deus não deu nem aos anjos nem aos arcanjos: perdoar os pecados”. Não por mérito pessoal, mas por graça do ministério.
O Pentecostes narrado por São João é mais silencioso que o narrado por São Lucas em Atos dos Apóstolos, nele não há fogo visível, não há vento impetuoso. Há um sopro, há uma palavra, há um envio. E isso basta.
Porque, às vezes, o Espírito vem com força, mas outras vezes Ele vem quando tudo ainda parece trancado, quando o medo ainda habita, quando o coração está cansado e mesmo assim, Ele entra.
Hoje, talvez você esteja com suas portas fechadas, com promessas ouvidas, mas sem coragem para sair. Mas o Senhor ainda vem e se coloca em seu meio. Ainda sopra e deseja te enviar.
E onde o Espírito é acolhido, tudo muda. Porque Ele é a força que nos faz levantar, é a paz que reconstrói, é o sopro que faz a Igreja respirar.
Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.




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