Jo 16,12-15

“Ainda tenho muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de compreender agora. Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, Ele vos conduzirá à plena verdade. […] Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso vos disse: o que Ele receberá de mim, Ele vos anunciará” (Jo 16,12-15).
A Igreja celebra neste domingo a Solenidade da Santíssima Trindade. Não se trata de um simples tema litúrgico ou de uma doutrina complexa a ser decorada. É o coração pulsante da nossa fé, a fonte e o fim de tudo o que cremos, vivemos e esperamos. O Deus Uno e Trino, Pai, Filho e Espírito Santo.
Mas, diante de um mistério tão grande, Jesus não impõe a revelação. Ele a oferece com ternura e pedagogia, “Ainda tenho muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de compreender agora” (Jo 16,12).
É um gesto de cuidado, Jesus não quer apenas informar, Ele quer formar o coração. E Ele sabe que há verdades que só podem ser compreendidas à medida que o coração se purifica e amadurece. Por isso que Santo Agostinho, em sua obra De Trinitate, afirma que o mistério da Trindade não é algo para ser resolvido como um problema lógico, mas acolhido como uma realidade que se deixa contemplar na fé e se experimenta no amor. Deus é relação eterna de amor entre Pessoas. E nós, criados à Sua imagem, só somos verdadeiramente humanos quando vivemos nesse dinamismo de doação e comunhão. Por isso Jesus promete, “Quando vier o Espírito da Verdade, Ele vos conduzirá à plena verdade” (Jo 16,13a).
O Espírito Santo é o dom do Ressuscitado, Ele não vem como mestre autônomo, mas como aquele que revela, lembra, santifica e conduz. São Gregório Nazianzeno ensina que a revelação de Deus se deu de forma gradual porque no Antigo Testamento, o Pai era anunciado de forma explícita, o Filho era velado. No Novo Testamento, o Filho é revelado e o Espírito é prometido. Agora, na vida da Igreja, o Espírito é experimentado e a Trindade é confessada.
A revelação da Trindade, portanto, não é teórica, é existencial. Ela acontece no tempo, mas é eterna. É invisível aos olhos, mas transforma a história. É silenciosa, mas produz frutos visíveis na alma e no mundo.
E o Espírito não conduz apenas à verdade sobre Deus, mas também à verdade sobre nós mesmos. Porque, no fundo, é impossível compreender quem somos sem entender em quem cremos.
O doutor angélico, Santo Tomás de Aquino, na Suma Teológica, explica que o Espírito Santo é o laço de caridade entre o Pai e o Filho. E por isso, ao ser derramado sobre nós, une-nos ao próprio dinamismo trinitário. Não se trata apenas de conhecer Deus como três Pessoas. Trata-se de viver com Ele, por Ele e n’Ele.
Eis o que torna a Trindade viva, Ela não é um esquema, mas um mistério que nos habita desde o nosso Batismo. Ao sermos batizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, fomos inseridos nesse amor eterno que preenche o céu.
Jesus, ao dizer que o Espírito anunciará aquilo que recebeu d’Ele, completa o círculo da comunhão, “Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso vos disse: o que Ele receberá de mim, Ele vos anunciará” (Jo 16,15).
Veja, não há competição entre as Pessoas da Trindade, não há desarmonia, o que há é á unidade perfeita na diversidade pessoal. O Pai comunica tudo ao Filho, o Filho entrega tudo ao Espírito e o Espírito anuncia, age e santifica a Igreja.
São Basílio Magno, em seu tratado Sobre o Espírito Santo, diz que a Trindade é como o sol, o Pai é o foco da luz, o Filho é o raio que se estende, e o Espírito é o calor que nos toca e vivifica. É belo e é real, a Trindade não é uma invenção teológica, é a realidade última de todas as coisas.
E quando a Igreja celebra este mistério, ela nos convida a fazer algo muito concreto, contemplar a beleza da comunhão. No mundo marcado por divisões, individualismos e egoísmos, a Trindade nos ensina que a verdadeira vida nasce do amor recíproco, do dom de si, da unidade que respeita a distinção.
Se Deus, sendo Um, vive em comunhão, como poderíamos viver fechados em nós mesmos? Se Deus é relação, como poderíamos imaginar a santidade como um caminho solitário? Se Deus é comunhão de amor, então nada será pleno em nossa vida fora da caridade.
Hoje, o convite é esse. Permita-se ser conduzido à verdade, não a verdade fria de conceitos, mas a verdade viva do amor que se derrama no mundo desde toda a eternidade.
O Espírito conduz, Filho revela, o Pai ama, pois a Trindade, que nos criou por amor, nos espera no amor.
Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.




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