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No domingo, responda à pergunta

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Lc 9,18-24

O Evangelho deste domingo coloca Jesus em oração e, logo em seguida, coloca os discípulos em crise. Ele reza, eles observam. Então, de repente, a pergunta que atravessa os séculos, “Quem diz o povo que eu sou?” (Lc 9,18b) e, em seguida, o golpe certeiro,“E vós, quem dizeis que Eu sou?” (Lc 9,20).

Pedro responde. Não com estatísticas ou citações, mas com o coração iluminado pelo Espírito, “O Cristo de Deus” (Lc 9,20b).

São João Crisóstomo observa que a fé de Pedro nasce da intimidade com Cristo, não de rumores populares. O pescador que um dia tremeu diante das ondas agora se torna rocha pela confissão. E, como ensina Santo Agostinho, esta mesma pergunta ecoa em cada geração, exigindo uma resposta que não pode ser terceirizada. Precisamos descobrir pessoalmente quem é Jesus ou viveremos de opiniões alheias que não salvam.

Mas basta confessar que Ele é o Cristo? Jesus não permite ilusões e por isso revela imediatamente o caminho verdadeiro, paixão, morte e ressurreição (Lc 9,22). O Messias não virá com espada, mas com cruz. E logo acrescenta, “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia, e siga-me” (Lc 9,23).

São Basílio Magno comenta que a renúncia aqui não é desprezo da própria humanidade, mas libertação dos apegos que nos impedem de amar. É dizer, com a vida, que nenhum projeto vale mais que o Evangelho. Santo Tomás de Aquino aprofunda, tomar a cruz diariamente é aceitar, pela caridade, tudo o que nos une à paixão de Cristo, das pequenas contrariedades às grandes perseguições. Sem esse sim cotidiano, a confissão de fé vira teoria.

O sim cotidiano não é fácil e Jesus não suaviza. Pelo contrário, Ele inverte a lógica, “quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará” (Lc 9,24).

São Gregório de Nissa afirma que o paradoxo cristão está em perder para ganhar, em morrer para viver. A vida só floresce quando deixa de se encerrar em si mesma. Por isso São João Paulo II insistia, “O homem só se realiza plenamente no dom sincero de si” (cf. Gaudium et Spes 24).

E nós? Que resposta damos? Talvez repitamos a profissão de Pedro com os lábios, mas fujamos da cruz com o coração. Talvez queiramos um Cristo que resolva problemas, sem exigir conversão. Mas o Cristo verdadeiro continua perguntando, no silêncio da oração, na homilia dominical, na voz dos pobres, na dor que não entendemos, “E vós, quem dizeis que Eu sou?” (Lc 9,20).

Papa Bento XVI lembrava que a fé cristã não é adesão a uma ideia, mas o encontro com uma Pessoa que dá horizonte e sentido à vida. E esse encontro gera necessariamente uma escolha, seguir ou virar as costas.

Seguir pode ter variados significados para cada um de nós, pois Jesus nos convida a segui-Lo de maneiras únicas, para uns pode seguir pode ser renunciar ao egoísmo que paralisa. Para outros carregar cruzes diárias (pequenas ou grandes) com amor. Para outros mais pode ser confiar que perder, por Cristo, nunca é fracasso, mas parto de vida nova.

Como bem disse Santa Teresinha do Menino Jesus, “não morro, entro na vida”, esse é o destino de quem se perde por amor.

Neste domingo, Jesus continua em oração enquanto contínua a nos perguntar e esperar de nós uma resposta. Se Ele é mesmo o Cristo, que parte de nossas vidas ainda resistimos em entregar a Ele? Que cruz recusamos? Que salvação estou tentando conservar às avessas?

O discipulado começa na profissão de fé de Pedro, mas amadurece na Sexta-Feira Santa e desabrocha na manhã da Páscoa. Professar a fé sem carregar a cruz é ilusão, carregar a cruz sem professar a fé é ativismo estéril. O caminho cristão pede as duas coisas e o Espírito Santo, prometido a Pedro e à Igreja inteira, continua sustentando quem ousa dizer “O Cristo de Deus” (Lc 9,20b) e viver como tal.

Hoje, coloque-se sob o olhar d’Aquele que ora por você e permita que a pergunta de Jesus encontre resposta verdadeira nos seus gestos, escolhas e renúncias. E não tema, quem perde a própria vida por Ele já a encontrou, mesmo que o mundo não perceba.

Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.