
Entre os tantos assuntos que cercam a existência humana, talvez nenhum desperte tanta curiosidade e, ao mesmo tempo, tanto medo, quanto a morte. E diante do medo, a tendência humana tem sido a mesma há séculos, evitar o assunto. Mas evitar falar da morte é como recusar-se a respirar por medo de sentir aromas que não gostamos, cedo ou tarde, a vida nos obriga a encará-la.
Contudo, para nós, filhos da Santa Mãe Igreja, o olhar sobre a morte não é o da negação, nem o do desespero. Para o cristão, a morte não é o fim, mas o nascimento definitivo para a eternidade. A fé cristã não explica a vida com o ponto final da morte, mas com a vírgula da esperança.
O Catecismo da Igreja Católica nos ensina com clareza, “a morte é o fim da peregrinação terrestre do homem, do tempo da graça e da misericórdia que Deus lhe oferece para realizar sua vida terrena segundo o projeto divino e para decidir seu destino último” (CIC, 1013).
Sim, existe um destino último, existe uma eternidade. E a maneira como vivemos aqui e agora determina como viveremos lá e para sempre. A vida após a morte é real, é definitiva e é inseparável da nossa resposta à graça de Deus durante esta vida.
Mas o que acontece, de fato, depois da morte?
Muitos imaginam a morte como um apagamento ou uma reencarnação. Outros pensam que todos, independentemente de sua vida moral, irão para um lugar de paz. São ideias muito populares e muito equivocadas.
A verdade da fé católica, expressa ao longo dos séculos e reafirmada pelo Sagrado Magistério da Igreja, nos ensina que após a morte, passamos imediatamente por um julgamento pessoal. O II Concílio de Lyon (1274) e o Concílio de Florença (1439) afirmam, “as almas são imediatamente levadas ao céu, ao purgatório ou ao inferno, conforme o estado em que se encontram”.
É o que chamamos de juízo particular, quando nossa alma se apresenta diante de Deus e ali se define, com justiça e misericórdia, o destino eterno de cada um.
Quais são esses destinos eternos?
A doutrina da Igreja nos apresenta três realidades últimas. O Primeiro e desejado por todo católico, o céu. É a comunhão plena e eterna com Deus, com os anjos e com todos os santos. É a promessa de Cristo cumprida. É o lar para o qual fomos criados. No céu, não há dor, nem pecado, nem saudade, nem morte, só amor.
O segundo, aquele ao qual ativamente devemos evitar, o inferno. É a separação eterna de Deus, escolhida livremente por quem rejeitou a Sua graça até o fim. Sim, o inferno existe. E sim, ele está povoado. Não porque Deus deseje, mas porque respeita a liberdade de cada alma.
Como nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, “morrer em pecado mortal sem arrependimento e sem acolher o amor misericordioso de Deus significa permanecer separado d’Ele para sempre por nossa própria e livre escolha. Este estado de autoexclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados é o que se entende por inferno” (CIC, 1033).
O terceiro, e frequente destino das almas piedosas, o purgatório. É o estado de purificação final para aqueles que morreram na graça, mas ainda não totalmente santificados. É um dom de Deus, onde a alma é lavada de todo apego ao pecado, antes de entrar na glória. Como disse Santa Catarina de Gênova, “as chamas do purgatório são o próprio amor de Deus purificando a alma até que ela esteja pronta para o céu”.
E a reencarnação? E o descanso eterno indiferente ao estado da alma?
A reencarnação não faz parte da fé cristã, ela é incompatível com a verdade revelada por Cristo. O Papa Bento XVI foi claro ao afirmar, “a fé cristã é clara, cada ser humano é único e irrepetível. Não há repetição de vidas, há uma única vida que nos é dada para escolher Deus e o amor. Depois desta, o juízo” (Audiência Geral, 11/01/2012).
Já a ideia de que todos descansam em paz é um consolo barato que se tornou comum até nos meios católicos. Mas a verdade é que o descanso eterno é uma graça que se dá apenas àqueles que morreram em estado de graça. Por isso a Santa Mãe Igreja nos ensina a rezar pelas almas dos fiéis defuntos, a oferecer Missas por elas, a buscar indulgências, a pedir a misericórdia de Deus. Isso não é superstição, é doutrina.
Por que é importante falar sobre a vida após a morte?
Porque a eternidade começa hoje. A maneira como vivemos agora é o ensaio do que viveremos para sempre. Santo Agostinho já dizia, “Deus que te criou sem ti, não te salvará sem ti”.
Se a morte é certa, então nossa maior sabedoria está em preparar-se para ela com amor e vigilância. Não como quem teme um fim, mas como quem se prepara para um reencontro. Como quem, ao fim de uma longa viagem, se arruma para voltar para casa.
Nosso Senhor mesmo nos advertiu, “vigiai, pois não sabeis o dia nem a hora” (Mt 25,13). E São João Paulo II completava, “a eternidade é o selo que dá pleno sentido à vida humana”.
Portanto, não tenhamos medo de falar sobre a morte. Falar da morte com os olhos fixos na ressurreição é falar da esperança que não decepciona, é lembrar que a cruz não é o fim, mas o caminho, é viver sabendo que esta vida passa e que a eternidade, não.
Preparemo-nos para a vida eterna com os sacramentos, a oração, a caridade, a confissão frequente, a Eucaristia, as indulgências e o amor sincero a Deus. Vivamos como quem deseja o céu, porque é lá que a nossa história foi feita para se eternizar.
Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.





Você precisa fazer login para comentar.