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No domingo, enviados para encontrá-Lo

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“O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos, e os enviou dois a dois na sua frente, a toda cidade e lugar aonde Ele mesmo devia ir” (Lc 10,1-12.17-20).

O Evangelho deste domingo nos apresenta um Cristo que não apenas chama, mas envia. Ele não deseja discípulos retidos, mas missionários que O precedem. Vai adiante deles com Seu Espírito, mas envia-os com os pés, os lábios e os corações ardentes dos que creram. “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos” (Lc 10,2a), diz o Senhor. E não como lamento, mas como apelo. A missão não nasce do ativismo, mas da compaixão de Deus por Seu povo.

Santo Agostinho dizia que ninguém é digno de anunciar a Palavra de Deus se antes não se deixar curar por ela. Por isso, Jesus envia dois a dois, para que um sustente o outro, para que a missão seja sempre comunitária, fraterna, e porque a verdade proclamada em comunhão é mais crível do que qualquer argumento isolado. São Gregório Magno, ao comentar essa passagem, recorda que Jesus não manda os discípulos converterem pelo discurso persuasivo, mas pela paz e pelo testemunho de vida.

E o que devem anunciar? “O Reino de Deus está próximo de vós” (Lc 10,9b). Uma frase breve, mas carregada de eternidade. Anunciar o Reino é anunciar o próprio Cristo, que Se aproxima das misérias humanas, que Se abaixa para erguer, que Se deixa tocar para curar. Por isso, os discípulos não levam bolsas nem sandálias, porque não é a segurança humana que sustenta o anúncio, mas a confiança na Providência.

Mas nem todos acolherão. Jesus é claro, haverá cidades que rejeitarão a paz e não abrirão suas portas. E, mesmo assim, o Reino estará próximo. Aqui há um mistério profundo, o Evangelho jamais será invalidado pela recusa dos homens. Ele permanece eficaz porque é dom de Deus, não mérito nosso. Como ensina Santo Tomás de Aquino, a Palavra de Deus é eficaz por si mesma, mas frutifica conforme a disposição do coração que a acolhe.

Os discípulos voltam da missão cheios de alegria, os demônios se submetem, os milagres acontecem. Mas Jesus orienta seu olhar, “Não vos alegreis porque os espíritos se submetem a vós, mas porque vossos nomes estão escritos no céu” (Lc10,20). A verdadeira alegria não está nos frutos da missão, mas na intimidade com Deus que nos chamou. Como dizia São João da Cruz, no entardecer da vida, seremos julgados pelo amor.

A alegria dos discípulos deve ser, antes de tudo, fruto da humildade. São Bernardo de Claraval ensina que a alma que se alegra unicamente nos seus feitos acaba se esquecendo de que tudo é graça. Por isso, Cristo nos convida a buscar a fonte, não apenas os efeitos. Os sinais seguem os que creem, mas não devem se tornar o centro. O centro é Cristo, é a cruz, é a salvação que só Ele realiza.

Hoje, diante da messe ainda vasta e dos trabalhadores ainda poucos, a voz do Senhor continua a ressoar. Ele ainda escolhe, ainda envia, ainda capacita. Mas a missão começa na escuta, se sustenta na fidelidade e floresce na humildade. Como Pedro e Paulo, como os setenta e dois, como tantos que partiram sem bolsas ou garantias, somos chamados a preparar os caminhos por onde Ele mesmo há de passar.

Talvez nunca venhamos a ver todos os frutos do bem que semeamos, e por isso, não devemos fazer dos resultados visíveis a medida do valor do nosso serviço. O tempo de Deus não é o nosso, e muitas vezes o que plantamos hoje só florescerá no silêncio da eternidade ou no coração de alguém que jamais conheceremos. Da mesma forma, talvez não sejamos acolhidos por todos, e por isso, não devemos permitir que a rejeição nos paralise ou nos roube a paz. O Cristo também foi rejeitado, mas nem por isso deixou de amar, servir e seguir até o fim.

Independentemente das circunstâncias ou da resposta do mundo, o Reino dos Céus permanece próximo. E é nessa certeza, de que Deus está conosco e age mesmo quando tudo parece estéril, que reside nossa esperança mais profunda. Porque a nossa alegria não deve se fundamentar nas respostas que obtemos, mas sim no amor eterno que nos criou, nos sustenta e nos espera.

A verdadeira felicidade brota do fato de que nossos nomes estão inscritos no céu. Essa é a marca daquele que se deixou encontrar pela graça, se permitiu ser enviado como mensageiro da paz, e se deixou conduzir docilmente pelas mãos do Senhor da messe. É esse amor que nos precede, nos acompanha e nos aguarda. Esse amor que deve ser o verdadeiro critério de nossa missão, porque é para Ele que devemos realizar cada ato de amor missionário, pois para cada messe que Ele nos envia, do maior dos sacrifícios aos pequenos atos, Ele envia-nos para que possa encontrá-Lo porque lá Ele espera por nós.

Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.