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No domingo esteja pronto para a chegada dEle

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“Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino”
(Lc 12,32-48).

O Evangelho de hoje começa com um consolo e termina com um alerta. Jesus chama os discípulos de pequenino rebanho e lhes diz para não ter medo. Não porque as dificuldades sejam pequenas, mas porque o cuidado do Pastor é maior. O Reino não é conquista por mérito, é presente de amor. Não é fruto de negociação, mas dádiva gratuita. Santo Agostinho recorda que Deus não nos promete ausência de perigos, mas Sua presença constante e essa presença é a segurança do rebanho.

Por isso Jesus convida, “Vendei vossos bens e daí esmola. Fazei para vós bolsas que não se estraguem” (Lc 12,33a). Essa ordem não é a mera negação da vida material, mas o convite a uma liberdade interior que não se deixa escravizar pelo que passa. São Basílio Magno, nos ensina com clareza que não basta despojar-se, mas que é preciso fazê-lo com a reta intenção no coração, nos alertando que a caridade não é mera virtude de doação, “o pão que tu guardas pertence ao faminto; a roupa que acumulas pertence ao nu; o dinheiro que escondes pertence ao necessitado”.

Jesus, então, muda o tom e fala da vigilância, “que vossos rins estejam cingidos e as lâmpadas acesas” (Lc 12,35). São Cirilo de Alexandria interpreta essa imagem lembrando que o cinto é sinal de prontidão e a lâmpada é a fé alimentada pelas boas obras. Estar cingido é viver preparado, ter a lâmpada acesa é não deixar que a luz da oração se apague. Um cristão que não vigia, dorme espiritualmente e não é assim que o Senhor deseja nos encontrar.

A parábola do senhor que chega de viagem é ainda mais surpreendente, o dono, ao encontrar seus servos vigilantes, os faz sentar à mesa e os serve. Aqui está o coração do Evangelho, tal qual Ele o fez durante a Última Ceia, Ele também o fará na eternidade, porque o Senhor não volta para exigir, mas para partilhar o banquete da Sua alegria. São Gregório Magno ensina que Ele mesmo nos serve quando nos sacia com a luz da Sua presença. Esse é o prêmio da vigilância, não apenas escapar do castigo, mas entrar no descanso do Senhor.

Mas Jesus também adverte “a quem muito foi dado, muito será pedido; a quem muito foi confiado, muito mais será exigido!” (Lc 12,48b). Santo Tomás de Aquino, o doutor angélico, ensina que os dons de Deus não são privilégios para exaltação pessoal, mas responsabilidades para o serviço. Recebemos fé, Palavra, sacramentos, oportunidade e tudo isso será objeto de prestação de contas, porque o servo fiel não é o que sabe muito, mas o que ama muito e serve com diligência.

O Papa São João Paulo II dizia que o pior perigo para o cristão não é a perseguição externa, mas a acomodação interna. É viver como se o Senhor não fosse voltar, como se houvesse tempo infinito para mudar de vida. A vigilância evangélica não é tensão ansiosa, mas estado permanente de amor ativo, é estar pronto não apenas para o fim dos tempos, mas para cada encontro com Cristo no hoje.

Santa Teresa de Lisieux, com a simplicidade que escondia profundidade, dizia que queria viver como se Jesus fosse voltar esta noite, não por medo, mas por amor. É a mesma atitude que Jesus propõe, viver de tal modo que Sua chegada, seja quando for, nos encontre de pé, com o coração aceso e as mãos ocupadas com o bem.

Não sabemos o dia nem a hora e é justamente por isso que cada momento é hora de estar pronto. A vigilância não é olhar para o céu esperando sinais, mas viver na terra como cidadãos do céu, perdoando sem demora, partilhando sem calcular, rezando sem cessar.

E quando Ele vier, não nos encontrará com medo, mas com esperança. Não com as mãos vazias, mas cheias de amor. Não adormecidos, mas acordados para a eternidade. E você, se a hora fosse agora, estaria pronto para a chegada dEle? 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.