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No domingo, entrai pela porta estreita

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“Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão” (Lc 13,22-30).

Jesus caminha rumo a Jerusalém, e alguém Lhe pergunta, Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam? (Lc 13,23). A pergunta reflete a curiosidade de muitos, quantos se salvarão? Mas Jesus não responde com números. Ele não alimenta cálculos estatísticos, porque a salvação não é uma questão de quantidade, mas de decisão. E, em vez de satisfazer a curiosidade, Ele provoca a conversão, Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita” (Lc 13,24a).

A salvação é dom, mas exige resposta. Santo Agostinho comenta que a graça de Deus nos antecede e nos sustenta, mas não nos dispensa do esforço, a porta é estreita porque o caminho é de renúncia, de humildade, de desapego. Enquanto São João Crisóstomo explica que o Senhor não quer nos atemorizar, mas despertar-nos do sono da indiferença, muitos ouvirão falar d’Ele, até se sentarão à Sua mesa, mas não O reconhecerão como Senhor porque não deixaram a graça transformar a vida. A estreiteza da porta é, na verdade, a largura do amor que exige tudo.

A parábola continua, Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater” (Lc 13,25a). Aqui, Jesus nos recorda que a vida é tempo de decisão. Não podemos viver eternamente adiando a conversão. Como nos alerta São Gregório Magno, a misericórdia de Deus é infinita, mas o tempo da vida não é. Haverá um momento em que a porta se fechará, e o que terá valor não será a proximidade exterior, mas a comunhão interior. Não bastará dizer, “nós comemos e bebemos diante de ti” (Lc 13,26), se nossas vidas não testemunha os Teus ensinamentos e não reflete Tua vontade.

O Papa Bento XVI refletia que a porta estreita é o próprio Cristo, “Eu sou a porta” (Jo 10,9). Entrar por essa porta significa configurar-se a Ele, assumir Sua cruz, acolher Seu amor. Por isso, não se trata de esforço meramente humano, mas de correspondência à graça. Como nos ensina o Doutor Angélico, Santo Tomás de Aquino, a dificuldade não está na exigência de Cristo, mas na dureza do nosso coração, a porta se torna estreita porque nossa vontade se apega às coisas largas do mundo.

E Jesus conclui com uma reviravolta, “há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos” (Lc 13,30) Aqui se manifesta o critério de Deus, tão diferente do dos homens. Não são títulos, cargos, aparências religiosas ou prestígio social que decidem a salvação, mas a fidelidade humilde e perseverante. Santa Teresa de Lisieux lembrava que a santidade não está em fazer coisas extraordinárias, mas em fazer com amor as pequenas coisas. É esse amor que nos faz passar pela porta estreita, porque só o amor nos torna leves o suficiente para caber por ela.

Hoje, a Sagrada Liturgia da Santa Mãe Igreja nos convida a deixar de lado a curiosidade sobre quantos se salvarão e a assumir a responsabilidade sobre como estamos vivendo. A porta estreita nos provoca a pensar, quais pesos estamos carregando que nos impedem de passar? O orgulho? O egoísmo? As mágoas não curadas? Os apegos ao dinheiro e ao poder? A porta estreita exige abandonar o que não é essencial. Esse indispensável desapego, mesmo que sofrido, deve ser para cada católico sinal de graça, porque o próprio Cristo nos instrui que este é o caminho da santificação, “Se queres ser perfeito, vá, venda tudo o que tem e dê aos pobres, e terá um tesouro no céu. Depois, venha e siga-me” (Mt 19,21), caminho que nos leva a Ele, para Nele e com Ele estarmos na eternidade. 

A porta é estreita, mas está aberta, por isso não se trata de medo, mas de esperança. Cristo é essa porta e Ele mesmo nos conduz, se confiarmos. Entremos, pois, com coragem, com humildade e com amor. Porque um dia, quando a porta se fechar, não importará quão próximos estivemos exteriormente de Jesus, mas se deixamos que Ele habitasse verdadeiramente em nós.

Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.