“Quem se eleva, será humilhado e quem se humilha, será elevado”
(Lc 14,1.7-14).

Jesus é convidado para uma refeição na casa de um fariseu. O cenário é aparentemente comum, mas o olhar de Cristo penetra os corações. Ele observa como os convidados escolhem os primeiros lugares, disputando honras, prestígio e visibilidade. E, como Mestre que ensina a partir da vida concreta, Jesus transforma a cena em lição de eternidade, ““Quando tu fores convidado para uma festa de casamento, não ocupes o primeiro lugar” (Lc 14,8a).
Aqui não se trata de boas maneiras sociais, mas de espiritualidade profunda. Santo Agostinho recorda que a humildade é o fundamento de todas as virtudes, porque só ela abre espaço para que Deus seja tudo em nós. Quem busca ser o primeiro diante dos homens fecha-se para a graça de Deus, quem aceita ser o último abre espaço para ser exaltado pelo próprio Senhor.
São Gregório Magno, refletindo sobre este Evangelho, escreve que o orgulho é a raiz que contamina até mesmo as boas obras, enquanto a humildade purifica até os pequenos gestos. O verdadeiro discípulo não procura a honra, mas serve em silêncio, certo de que o olhar de Deus vê no escondido.
Jesus vai além, não basta escolher o último lugar, é preciso também escolher os convidados certos. “Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos” (Lc 14,13), porque a lógica do Reino dos Céus é diferente, lá não se mede nada pela capacidade de retribuição. O mundo calcula convites e favores, Cristo convida a amar sem esperar nada em troca. São João Crisóstomo nos ensina que se “queres honrar o Corpo de Cristo? Não o desprezes quando Ele está nu no pobre”. Porque a caridade verdadeira é aquela que rompe o círculo fechado do interesse e se abre ao dom gratuito.
Santo Tomás de Aquino explica que a humildade não é negar os dons que temos, mas reconhecê-los como recebidos de Deus e colocá-los a serviço dos outros. O humilde não finge ser pequeno, ele é grande, mas sabe que tudo é graça. Por isso, pode servir sem buscar aplausos, porque já sabe que é amado pelo Pai.
O papa Bento XVI nos recorda essa verdade ao afirmar que “a humildade é a linguagem de Deus”, porque Ele mesmo se revelou não no poder, mas no rebaixamento do Filho que tomou a forma de servo (cf. Fl 2,7). E o Papa Francisco insistia que a Santa Mãe Igreja deve ser sempre “hospital de campanha”, aberta aos feridos, onde os últimos têm prioridade, porque são eles os preferidos de Cristo.
E com essa parábola Jesus nos convida a uma profunda reflexão, em qual lugar buscamos nos sentar nos diversos “banquetes” do nosso dia a dia? Quais convites fazemos na vida? E quem incluímos em nossa mesa? Ao banquetearmos nos trabalhos que realizamos, nos estudos que fazemos, nos serviços que realizamos na Igreja, nos lugares que frequentamos, há humildade no que fazemos de melhor? Colocamos Cristo em tudo isso? A humildade não é romantismo piedoso, mas critério de salvação. Só quem aprende a humilhar-se poderá ser elevado, só quem ama sem esperar retorno participará do banquete eterno.
No fim, Jesus nos assegura que, “Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos” (Lc 14,14). A promessa que Jesus faz aqui é clara e nos ensina a diferenciar o mundo e O Reino do Céu, porque o mundo mede o sucesso pelo que se recebe, mas O Reino mede pela capacidade de dar sem esperar. A recompensa de Deus é muito maior do que qualquer honraria humana, e será concedida àqueles que escolheram o último lugar, não por humildade forçada ou intenções humanas, mas por amor.
Hoje, o Senhor nos convida a mudar de lugar, a sair da busca pelo reconhecimento, a deixar de lado o orgulho, a abrir espaço para os pequenos e os esquecidos. Porque no banquete eterno não haverá disputa de cadeiras, todos estarão no lugar certo, exaltados pela misericórdia d’Aquele que se fez último para que fôssemos primeiros no amor do Pai.
Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.





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