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No domingo, entregue-se ao amor que se entrega

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“Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que nele crer, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,13-17).

Estas palavras, tantas vezes repetidas, são o coração do Evangelho. Em poucas linhas, o evangelista São João nos revela o mistério da salvação, um Deus que não se fecha em si, mas que desce, que não condena, mas salva, que não retém, mas entrega.

Jesus começa lembrando que ninguém subiu ao céu, a não ser Aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. Santo Atanásio, doutor da Igreja, no célebre tratado Sobre a Encarnação, explica que o Filho eterno desceu para que nós pudéssemos subir. Ele assumiu nossa carne para nos elevar à comunhão com o Pai. A salvação não é conquista humana, mas dom divino que nos alcança pela humilhação de Cristo.

Em seguida, Jesus recorda a serpente de bronze erguida por Moisés no deserto. Santo Irineu de Lião via nesse sinal a profecia da cruz, quem olha para o Crucificado com fé é curado do veneno do pecado e encontra a vida. A cruz, que aos olhos do mundo é derrota, torna-se para os que creem fonte de cura e vitória.

E por isso, a Santa Mãe Igreja, nos coloca diante da Cruz não como sinal de derrota, mas como trono da vitória de Deus. O madeiro, que foi instrumento de suplício, torna-se para nós árvore da vida. O que parecia ser vergonha, torna-se glória; o que parecia condenação, torna-se salvação.

Santo Irineu de Lião diz que a obediência de Cristo na Cruz desfez a desobediência de Adão na árvore do Éden. Onde o pecado havia introduzido morte, ali o Filho de Deus introduziu vida. A serpente erguida no deserto, como recorda Jesus, era sinal de cura para os israelitas; a Cruz, erguida no Calvário, é remédio de eternidade para toda a humanidade.

São Tomás de Aquino, o doutor angélico, explica que a Cruz é necessária não porque Deus precisasse de sangue, mas porque nós precisávamos de um sinal visível do amor invisível de Deus. O Crucificado é o maior sacramento, nele vemos, tocamos e reconhecemos a medida infinita da misericórdia.

São João Paulo II dizia que “a Cruz é o verdadeiro trono de Cristo”, porque ali Ele reina não pela força, mas pelo dom de si. Por isso a Santa Mãe Igreja exalta a Cruz, não como instrumento de morte, mas como sacramento da vida. Celebrando Exaltação da Santa Cruz recordamos que não existe cristianismo sem cruz. Mas não se trata de buscar sofrimento pelo sofrimento. Trata-se de aprender que a cruz, quando abraçada por amor, se torna caminho de vida.

E chegamos ao versículo central, “Deus amou tanto o mundo” (Jo 3,16a). Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja, comenta que aqui se manifesta o amor gratuito de Deus, Ele nos amou não porque éramos bons, mas para que nos tornássemos bons. Não é amor que responde ao mérito, mas amor que cria a possibilidade de recomeço.

São Tomás de Aquino, o doutor angélico, explica que a entrega do Filho é a prova suprema do amor divino, porque ninguém pode dar mais do que dar a si mesmo. O Pai entrega o Filho, o Filho entrega a própria vida. E esse dom não tem outro objetivo senão a vida eterna para todos os que crerem.

São Bernardo de Claraval ensina que a cruz é o tribunal onde não reina a justiça fria, mas a misericórdia ardente. Ali Deus não condena o mundo, mas o salva, por isso o Papa Bento XVI, na Deus Caritas Est, retoma essa verdade ao afirmar que a fé cristã não nasce de uma ideia, mas do encontro com um amor que se doa até o extremo.

O desafio para nós é deixar que esse amor transforme nossa vida. Não basta admirar a cruz de longe, é preciso entrar na lógica do amor que se entrega. São João Paulo II prega que o cristão é chamado a ser testemunha desse amor, especialmente onde o ódio, o egoísmo e a indiferença parecem ter a última palavra.

E dessa maneira o Evangelho nos convida a contemplar não apenas um símbolo, mas uma realidade viva, Deus nos amou a ponto de se dar. E esse amor nos pede resposta, não uma resposta retórica ou teórica, mas uma ação viva de. crer, confiar, viver como filhos que receberam tudo de graça.

Não importa a situação na qual você se encontra hoje ou tudo o que já viveu, sequer o motivo pelo qual você leu esse texto até aqui. Jesus se humilhou por você e o que importa para Ele é o que você vai fazer a partir daqui, como você pretende aproveitar a dádiva que lhe é oferecida, a dádiva de alcançar a promessa da vida eterna e na eternidade poder alegrar-se na Santíssima Trindade. Porque não importa o motivo pelo qual você veio, mas o motivo pelo qual você fica. O que você vai fazer agora?

Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.