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O que é a Mansão dos Mortos?

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O que é a Mansão dos Mortos?

What is the Mansion of the Dead?

Sem Nome Responde

A expressão “mansão dos mortos”, tantas vezes mencionada nas Sagradas Escrituras e retomada na Tradição da Santa Igreja, evoca uma realidade misteriosa e profunda, situada no limiar entre o tempo e a eternidade. O Catecismo da Igreja Católica (n. 633) nos ensina que “Jesus, como todos os homens, experimentou a morte e sua alma desceu à morada dos mortos”. Esta descida de Cristo, o descensus ad ínferos, não foi uma simples permanência entre as sombras, mas o início da vitória sobre elas. A “mansão dos mortos” (Sheol, em hebraico; Hades, em grego) designa o estado de todos os que morreram antes da Redenção, tanto os justos quanto os ímpios, que aguardavam a manifestação plena da glória divina.

A distinção é importante, não se trata do inferno de condenação eterna, mas de um estado intermediário, o lugar do “esperar” dos justos. Santo Tomás de Aquino, na Suma Teológica (III, q.52), explica que a alma de Cristo desceu ao Hades não para sofrer, mas “para libertar os santos Padres que se encontravam detidos na esperança da bem-aventurança prometida”. Assim, o doutor angélico, ensina que havia na mansão dos mortos diferentes condições, uma para os condenados mergulhados nas trevas do afastamento de Deus, e outra para os justos, que purificados pela fé e pela promessa, aguardavam a abertura das portas do Céu. É este lugar dos justos que a tradição chama de seio de Abraão (Lc 16,22), uma imagem de acolhimento e esperança.

Santo Agostinho, refletindo sobre esse mistério (Enarrationes in Psalmos, Ps 85), recorda que Cristo, ao descer à mansão dos mortos, “não foi vencido pela morte, mas venceu-a em sua própria morada”. Assim o bispo de Hipona e doutor da Igreja, nos ensina que o Filho de Deus foi a morada dos mortos, para que nenhum homem permanecesse onde Ele não estivesse. É, portanto, uma descida de amor e poder, o Verbo eterno, que assumiu a carne mortal, penetrou o silêncio da morte para fazer ressoar ali a palavra da vida.

São João Crisóstomo, santo padre e doutor da Igreja, em sua célebre homilia pascal, proclama com júbilo, “O inferno foi entristecido porque foi aniquilado. Tomou um corpo e encontrou Deus; tomou terra e encontrou o Céu; tomou o que via e caiu no que não via”. Assim se cumpre mais um mistério paradoxal da fé cristã, aquele que morre é o mesmo que vivifica, aquele que desce é o mesmo que eleva. A mansão dos mortos, antes símbolo de separação e trevas, converte-se, pela presença de Cristo, em prelúdio da ressurreição.

Santo Anselmo nos ensina que a justiça divina exigia que Cristo redimisse o homem em todas as suas dimensões, corpo, alma e destino, portanto, Sua vitória deveria abranger também o domínio dos que já haviam perecido. O doutor da Igreja compreendeu como extensão da economia da salvação até o reino dos mortos, vendo na descida ao Hades o prolongamento da Encarnação no plano escatológico, o Filho desce até o extremo do afastamento humano de Deus para que nenhum abismo fique sem luz.

A mansão dos mortos é, pois, uma realidade de transição e revelação. É o lugar onde se manifesta a misericórdia que alcança o impossível e onde o tempo da espera é transformado no instante da redenção. Por isso, o Catecismo da Igreja Católica (n. 634) afirma, “o Evangelho foi anunciado também aos mortos”. Nosso Senhora e Salvador Jesus Cristo, descendo aos infernos levou a Boa-Nova àqueles que esperavam na sombra da morte, cumprindo o que os profetas anunciaram e o que Santa Mãe Igreja professa no Credo, “Desceu à mansão dos mortos”.

São Gregório de Nissa nos ensina que o “abraço de Deus à humanidade em seu estado mais extremo”, pois para o santo padre, Cristo não se contentou em redimir os vivos, mas quis que sua salvação se estendesse aos que haviam morrido na esperança da promessa.

Por isso, diante da pergunta, o que é a Mansão dos Mortos? Eu respondo que, a mansão dos mortos não é apenas um lugar, mas um mistério da economia divina, o encontro entre a morte e a Vida, entre a esperança e o cumprimento. Ela recorda que não há lugar, nem tempo, nem estado onde a graça de Cristo não possa alcançar o homem. No silêncio da mansão dos mortos, ressoou pela primeira vez o anúncio da Páscoa, “Desperta, tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos, e Cristo te iluminará!” (Ef 5,14).

A mansão dos mortos, portanto, é o testemunho da descida do Amor ao mais profundo da criação. É o ventre escuro onde germina a ressurreição, o limiar em que a luz vence as trevas, e a morte se torna passagem. Na perspectiva da fé, ela nos ensina que o amor de Deus não conhece fronteiras, nem mesmo as do túmulo.

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

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