“É permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,5-19).
33º Domingo do Tempo Comum | Domingo | Ano C

O Evangelho deste domingo nos introduz no discurso escatológico de Cristo, pronunciado diante da beleza do Templo de Jerusalém. Os discípulos, admirados com a grandiosidade das pedras e dos ornamentos, recebem do Senhor uma resposta que transcende a estética e penetra no mistério da história, “dias virão em que não ficará pedra sobre pedra” (Lc 21,6), dessa maneira Jesus desloca o olhar do visível para o eterno, da segurança humana para a confiança absoluta em Deus.
O Templo, orgulho de Israel, representava estabilidade, presença e glória. Entretanto, como recorda São João Crisóstomo, arcebispo e doutor da Igreja, “tudo o que é construído pelas mãos humanas é sombra e passagem; somente o que é fundado em Deus permanece para sempre”. Cristo, portanto, não destrói o valor do Templo, mas revela sua insuficiência. O que é belo, mas não é eterno, não pode ser fundamento da esperança. O olhar humano se deslumbra com as pedras, o olhar divino contempla os corações.
O Senhor anuncia perseguições, conflitos, terremotos, guerras e divisões. À primeira vista, parece um discurso de advertência, mas é, na verdade, um convite à confiança. Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja, ensina que “as tempestades que atingem o mundo não abalam quem está ancorado em Deus”. O cristão não lê os sinais dos tempos com desespero, mas com discernimento. A história não avança ao acaso é conduzida pela mão providente d’Aquele que tudo governa com sabedoria e amor.
Jesus adverte que muitos virão em seu nome dizendo “sou eu!” ou “o tempo está próximo” (Lc 21,15), essas palavras ecoam ainda hoje, como ensina São Gregório Magno, papa e doutor da Igreja, “os falsos profetas surgem sempre que o coração humano, afastado da verdade, se torna fértil para a mentira”. A confusão espiritual é, muitas vezes, fruto da falta de vigilância. A voz do Cristo não grita, ela se reconhece. O discípulo que vive na oração distingue facilmente o Som do Pastor das vozes estranhas que tentam seduzir.
Diante da promessa das perseguições, Cristo não promete livramento imediato, mas fidelidade contínua. Ele não diz, “não sofrereis”, mas “eu vos darei palavras tão acertadas, que nenhum dos inimigos vos poderá resistir ou rebater” (Lc 21,15). A Santa Mãe Igreja ensina que a providência divina não consiste apenas em remover o mal, mas em ordenar todas as coisas, inclusive as adversidades, para o bem daqueles que O amam. Assim, o sofrimento não é sinal de abandono, mas ocasião de crescimento na graça.
Jesus também anuncia que seremos entregues “até mesmo por pais, irmãos, parentes e amigos”. A cruz, às vezes, nasce dentro da própria casa. Mas Cristo garante, “vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça” (Lc 21,18). Não se trata de uma promessa de isenção da dor, mas da certeza da fidelidade divina. Tudo o que acontece ao cristão está no campo da providência, nada escapa ao olhar do Pai.
Ao final desse discurso, o Senhor oferece a chave de leitura pela qual devemos acessar todo o tesouro escondido de suas palavras de, “é permanecendo firmes que ireis ganhar a vida!” (Lc 21,19). Perseverar é permanecer firme quando tudo balança, é manter o olhar fixo em Deus quando o mundo desmorona. São Beda, o Venerável, interpreta a perseverança como “a constância da fé provada nas adversidades, pela qual o cristão se deixa moldar como ouro no fogo”.
A perseverança não é fruto de força humana, mas dom de Deus acolhido pela fidelidade cotidiana. Quem persevera não é o herói, mas o humilde, não é o que vence pela força, mas pela confiança. Santa Teresa d’Ávila, doutora da oração da Igreja, dizia que “perseverança é a maior de todas as virtudes, porque sustenta as outras”. É ela que transforma o caos do mundo em caminho, é ela que transforma o sofrimento em oferta, é ela que transforma a história em salvação.
As guerras, as crises e as perdas, que tanto angustiam o coração humano, são instrumentos pedagógicos nas mãos de Deus. Ele não provoca o mal, mas o utiliza para purificar o amor, fortalecer a fé, e abrir a alma para a esperança eterna. A destruição do Templo, anunciada por Cristo, prefigura a destruição de tudo o que é mera aparência para revelar o essencial, a eternidade.
Assim, a mensagem do Evangelho de hoje não é medo, mas esperança. Não é destruição, mas promessa. Cristo não nos convida a fugir dos tempos difíceis, mas a atravessá-los com o coração ancorado na eternidade.
Que aprendamos a viver com os olhos fixos n’Aquele que permanece. Que a nossa fé não dependa das pedras que caem, mas da Palavra que não passa. E que, na perseverança, descubramos o segredo da verdadeira vida.
Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.




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