,

No Domingo, ficai atentos e preparados

Written by

·

Ficai atentos e preparados! (Mt 24,37-44) 
1º Domingo do Advento | Ano A

O Advento abre o ano litúrgico não como um simples recomeço cronológico, mas um retorno ao essencial, ao coração vigilante que se inclina para Deus. A liturgia deste domingo nos coloca diante de uma verdade sempre atual, “a vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé” (Mt 24,37b). O Senhor nos faz contemplar o passado para iluminar o presente e orientar o futuro, porque para a fé católica a história nunca é apenas memória é sempre algo mais.

Assim como nos dias de Noé hoje muitos vivem mergulhados em suas ocupações ordinárias, comem, bebem, celebram e trabalham sem perceber que o tempo da graça se aproxima silencioso. Não se trata de demonizar as realidades humanas, mas de recordar, como ensina São Gregório Magno, papa e doutro da Igreja, que “o grande inimigo da alma não é o mundo em si, mas o coração que se deixa dominar por ele”, pois Cristo não condena o cotidiano, mas a distração espiritual que faz o homem esquecer-se de Deus enquanto vive.

Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja, ao meditar sobre a vigilância cristã ensina-nos, “não temas o último dia como ladrão, se tu cada dia vigiares como servo”. O Evangelho nos pede exatamente isso, a postura do servo desperto, que entende que a vida não se esgota nas tarefas diárias, pois caminha sempre na direção do encontro definitivo com o Senhor. Vigiar é viver orientado para Deus sem permitir que o imediato nos sufoque o eterno. 

Jesus faz uso da imagem do ladrão noturno para demonstrar a imprevisibilidade da visita divina, mas também para revelar um tesouro espiritual no qual Deus vem de modo inesperado, não para roubar, mas para restituir. O papa São João Paulo II ensina que “o Advento é o tempo no qual cada cristão aprende novamente a arte da espera, que é antes de tudo arte do amor”, é com esse olhar que esperar a vinda do Senhor não é ansiedade escatológica, mas amor vigilante que deseja o encontro.

Na figura dos dois homens no campo e das duas mulheres no moinho (Mt 24,40-41), Jesus nos lembra que a sua vinda não nos arrebata das nossas tarefas, mas nos encontra dentro delas. O critério que distingue é o coração, pois dois realizam o mesmo trabalho, mas apenas um o faz em estado de prontidão espiritual. O papa Bento XVI, refletindo sobre essa passagem, dizia que “o cristão não foge do mundo; ele o transfigura a partir de dentro, porque trabalha sempre diante do olhar de Deus”.

Assim o primeiro domingo do advento nos convida a inaugurar um itinerário de conversão discreto e firme. Porque esse é o tempo em que o céu toca a terra sem alarde, e Deus acende no interior do homem o desejo pela luz que vem. É tempo de recolocar o coração no eixo da esperança, retornar ao silêncio que discerne e afastar a tibieza que adormece. São Bernardo de Claraval, abade e doutor da Igreja, distinguia três vindas de Cristo, a histórica, em Belém; a futura, na glória; e a intermediária, quando Ele visita a alma pela graça. É a esta última que a vigilância do Advento especialmente se dirige, Cristo passa hoje, agora, e bate à porta.

O Evangelho deste domingo nos chama a esse duplo movimento, erguer o olhar para o horizonte da eternidade e ordenar o presente à luz deste encontro. Vigiemos não com medo, mas com amor e confiança filial. Que a Virgem Maria nos ensine a vigilância humilde e São José nos ensine a espera silenciosa e a prontidão obediente. Para que no início deste novo ano litúrgico alcancemos a graça de reconhecer a passagem do Senhor em cada detalhe e de acolher sua vinda com o coração desperto e agradecido. “Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá” (Mt 24,44), e feliz é o servo que Ele encontra desperto, ardendo em fé e esperança.

Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.