“És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?” (Mt 11,2-11)
3º Domingo do Advento | Domingo Gaudete | Ano A

No coração do Advento, a liturgia da Santa Mãe Igreja interrompe o tom mais sóbrio da espera e nos convida à alegria, Gaudete, “alegrai-vos”. Não se trata de um júbilo superficial, mas de uma alegria teologal, enraizada na certeza de que o Senhor está próximo. O Evangelho deste domingo nos apresenta São João Batista no cárcere, atravessado pela prova, perguntando “És tu aquele que há de vir ou devemos esperar outro?” (Mt 11,3). Paradoxalmente, é a partir dessa cena de aparente incerteza que a Santa Mãe Igreja proclama a alegria.
São João Batista, o profeta do deserto, encontra-se agora limitado, silencioso, privado da liberdade. Segundo Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja, a pergunta de São João Batista não nasce da dúvida incrédula, mas de uma pedagogia espiritual, ele interroga para que seus discípulos aprendam. “João não pergunta por ignorância, mas para conduzir outros ao conhecimento”, assim, o Advento nos ensina que a fé amadurece também na noite, quando a esperança precisa ser purificada de expectativas humanas.
Ao encontro da pedagogia catequética de São João Batista, a pedagogia catequética de Jesus retribui com uma resposta que não vem em forma de definição abstrata, mas de sinais concretos, “os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, …” (Mt 11,5). Cristo aponta para as obras messiânicas anunciadas pelos profetas, sobretudo Isaías, revelando que o Reino já está em ação. São João Crisóstomo, arcebispo e doutor da Igreja, observa que Jesus não diz simplesmente “Eu sou”, mas mostra o que faz, porque “a verdade do Messias se manifesta pela transformação da miséria humana”. O Advento é este tempo em que aprendemos a reconhecer Deus atuando na história, mesmo quando não corresponde às nossas expectativas imediatas.
A bem-aventurança por Cristo anunciada nessa cena, “feliz aquele que não se escandaliza por causa de mim” (Mt 11,6), revela o ponto decisivo. O escândalo não está em Cristo, mas no coração que espera um Messias moldado aos próprios critérios. Para São Gregório Magno, papa e doutor da Igreja, escandalizar-se é tropeçar na humildade de Deus. A alegria cristã do Gaudete não ignora a cruz, pelo contrário, ela nasce precisamente da confiança de que Deus cumpre suas promessas mesmo através da fraqueza.
Em seguida Jesus dirige-se à multidão para exaltar São João Batista. Ele não é um homem vacilante, “um caniço agitado pelo vento” (Mt 11,7), nem alguém seduzido pelos confortos do palácio, é um profeta e não é qualquer profeta. Santo Tomás de Aquino, o doutor angélico, explica que São João Batista é maior do que os antigos profetas porque não apenas anunciou o Messias, mas o indicou presente. No entanto, Jesus acrescenta uma afirmação desconcertante, “o menor no Reino dos Céus é maior do que ele” (Mt 11,11). Não se trata de diminuir São João Batista, mas de exaltar a graça da nova economia inaugurada por Cristo, na qual até o menor participa da vida divina e que mais valioso ser pequeno no Reino dos Céus do que grande na terra.
Papa Bento XVI ensinava que o Gaudete é a alegria de quem sabe que Deus já entrou na história e continua a visitá-la, não é a ausência de sofrimento, mas a presença do sentido. João, mesmo no cárcere, permanece fiel à sua missão de anunciar a Cristo, mesmo rejeitado por muitos, continua a curar, libertar e anunciar. Aqui está o fundamento da alegria cristã, Deus é fiel, e o seu Reino avança silenciosamente.
Maria, a Mãe do Advento, canta essa mesma alegria no Magnificat, não porque tudo esteja resolvido, mas porque “o Todo-Poderoso fez grandes coisas” (Lc 1,49). O Domingo Gaudete nos convida a partilhar dessa alegria madura, que sabe esperar sem desanimar e confiar sem exigir garantias humanas. Alegramo-nos porque o Senhor já está no meio de nós, agindo, salvando e preparando o encontro definitivo.
Neste domingo, a Santa Mãe Igreja nos chama a levantar o olhar e a reconhecer os sinais da presença de Deus. Mesmo nas prisões interiores, mesmo nas perguntas não respondidas, a alegria permanece possível, porque Cristo veio, vem e virá. Gaudete, o Senhor está perto, e feliz é aquele que não se escandaliza com a forma humilde pela qual Ele escolheu nos salvar.
Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.




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