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Como se dará este glorioso intercâmbio entre Deus e o homem? Visto que as “núpcias” do céu estão muito além de todo conhecimento humano, só podemos especular sobre ele, refletir, meditar. Contudo, nos casamentos da terra, podemos ter um pálido vislumbre do que acontecerá na outra vida.
O intercâmbio original entre homem e mulher deu-se através da “livre doação” e do “sentido esponsal do corpo”. Lembre que Deus nos concedeu a liberdade como a capacidade de amar, como a capacidade de tornar-nos uma “sincera doação” ao outro. “O homem só pode encontrar-se através da doação sincera de si mesmo” (GS n. 24). Além disto, Deus inscreveu este chamado à autodoação justamente em nossos corpos como homem e mulher. O “sentido esponsal” do corpo prende-se ao fato de sermos capazes de expressar o amor divino, “precisamente aquele amor no qual a pessoa se faz um dom e – através desse dom – realiza o verdadeiro sentido de seu ser e de sua existência” (16.01.1980).
Parafraseando João Paulo II, na ressurreição descobrimos numa nova e eterna dimensão, o mesmo significado esponsal do corpo. Desta vez, porém, o significado esponsal se realiza em nosso encontro com o Deus vivo, através da nossa visão “face a face” com Ele (cf. 09.12.1981). O Papa não explicita isto, mas, através da analogia esponsal, podemos concluir que, na ressurreição, o divino Esposo expressará seu dom (“isto é meu corpo dado por vós”) na sua mais plena realidade. Todos os que respondem ao convite nupcial se abrem para acolher esse dom, quais esposas de Cristo. Em retribuição a esse dom, nos doaremos totalmente ao divino Esposo, num abraço eternamente vivificante.
Como declara o Catecismo, a Igreja “aspira a estar unida a Cristo, na glória do céu”, onde “se alegrará com o (seu) Bem Amado, num gozo e deleite sem fim” (CIC n. 1821). Nesta realidade celestial, segundo o Papa, “a penetração e impregnação do essencialmente humano pelo essencialmente divino atingirá seu ponto máximo” (09.12.1981).
A imagem nupcial é inconfundível. Claro, quando se fala em união nupcial como imagem do céu, é imprescindível, mais do que nunca, recordar também a inadequação das analogias. Há que ter muita precaução. O céu não é uma eternamente engrandecida experiência da união sexual na terra. Como observa João Paulo II, a futura união “será uma experiência totalmente nova”. “Ao mesmo tempo”, porém, “não será alienada” do amor que homem e mulher experimentaram no “começo” e procuraram reaver ao longo da história (cf. 13.01.1982). A significação original do corpo “será então revelada novamente na mesma simplicidade e esplendor” quando todos os que respondem ao convite matrimonial viverão na plena liberdade sua autodoação de amor (cf. 13.01.1980). Os que ressuscitam para a vida eterna experimentarão “o absoluto e eterno significado esponsal do corpo glorificado na união com o próprio Deus” (24.03.1982).
Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.
Fonte: WEST, C. Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II. Madrid: Myrian, 2008.