Permitam-me enfatizar, se ainda não ficou bem claro, a abordagem “positiva” da pureza que, com a ajuda do Papa, estou fazendo, não pretende abrir as portas para todo e qualquer abuso. Se alguém usa alguma coisa deste livro como pretexto para justificar sua luxúria, não está buscando a pureza. As pessoas honestas conhecem seus limites. Conhecem as situações que as podem fazer cair e as evitam, levando a sério as exigências de Cristo. “Se teu olho direito é para ti causa de queda, arranca-o ( … ) se tua mão direita é para ti causa de queda, corta-a” (Mt 5, 29-30). Numa linguagem de hoje, poderíamos dizer: “Se o teu computador te leva ao pecado, joga-o fora. Se a tua TV te induz a pecar, fora com ela”. 

Concordo que nem sempre é fácil distinguir entre amor e luxúria. Ao reconhecer a beleza de uma mulher, por exemplo, um homem pode ficar pensando nela sem saber se a está admirando como um objeto para sua própria satisfação, ou se a enxerga com aquela admiração que toda pessoa, feita à imagem de Deus, merece. Como escreve João Paulo, a luxúria “nem sempre é clara, é óbvia; às vezes vem camuflada de tal forma que pode até ser confundida com ‘amor’ ( … ). Quer dizer então que devemos desconfiar do nosso coração? Não!”, insiste o Papa. “Isto quer apenas dizer que precisamos manter a luxúria sob controle” (23.07.1980). 

“Controle” aqui não significa meramente o domínio dos desejos desregrados, para mantê-los “em xeque”. Uma vez mais, este é só o lado “negativo” do quadro. Na medida em que crescemos no autocontrole, o vamos experimentando como “a capacidade de orientar as reações (sexuais), tanto com referência ao seu conteúdo, quanto ao seu caráter” (31.10.1984). Quem é realmente mestre de si mesmo sabe orientar seus desejos eróticos “para o verdadeiro, o bom e o bonito” (12.12.1980). Na medida em que isto acontece, compreendemos e experimentamos o mistério da sexualidade “numa profundidade, simplicidade e beleza até agora totalmente desconhecidas” (04.07.1984). 

Parafraseando uma passagem de muita percepção, o Papa adverte que para chegar a este ponto requer-se “perseverança e consistência” na aprendizagem do sentido de nossos corpos, de nossa sexualidade. Precisamos aprender isto, não apenas em abstrato (embora isto também seja necessário), mas, acima de tudo, nas reações internas de nossos “corações”. Esta, acrescenta o Papa, é uma “ciência” que não se adquire só nos livros, pois aqui se trata do profundo conhecimento da nossa vida interior. É no fundo de nosso coração que aprendemos a discernir entre o que, de um lado, constitui a riqueza da sexualidade e da atracão sexual e, do outro, o que somente exibe sinais de luxúria. Embora estes movimentos internos do coração possam, às vezes, confundir-se entre si, somos chamados por Cristo a fazer deles uma completa e madura avaliação. “Deve-se acrescentar, conclui o Papa, que isto pode ser alcançado e constitui certamente uma tarefa digna do homem” (12.11.1980). 

Concluamos com uma oração pedindo a pureza. 

Ajudai-me, Senhor, a discernir os movimentos do meu coração. Ajudai-me a distinguir entre as grandes riquezas da sexualidade, tal como quisestes que ela fosse, e as deformações da luxúria. Eu vos autorizo, Senhor, a tirar de mim os sentimentos de luxúria. Levai-os para longe. Crucificai-os, para que eu possa, desta forma, experimentar a ressurreição do desejo sexual tal como ele foi projetado por vós. Concedei-me um coração puro. Amém. 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

Fonte: WEST, C. Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II. Madrid: Myrian, 2008.

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