A maioria considera a moralidade cristã, especialmente a sexual, como uma opressiva lista de regras a observar. Como este mal-entendido está longe da “moralidade viva” proclamada por Cristo! O Evangelho não nos dá mais e mais regras para observar. O que ele visa é mudar nossos corações, de forma a não precisarmos mais de regras (cf, CIC n. 1968). Na medida em que experimentamos essa mudança de coração, experimentamos também “a liberdade diante da lei” ( cf. Rm 7; Gl 5), liberdade não para transgredi-la, e sim para cumpri-la. 

Um exemplo do que é a liberdade em face da lei: acaso experimenta você o desejo de matar seu melhor amigo? Pode parecer uma pergunta estranha, no entanto, serve para demonstrar meu ponto de vista. Ao admitir que não experimenta esse desejo, você não precisa do mandamento “não matar o melhor amigo”, pois nunca pensou em transgredi-lo. Quanto a isto, você está “livre da lei”. Não a experimenta como uma imposição, porque seu coração já se conforma com ela. 

Antes do pecado, o coração humano estava em total sintonia com a vontade de Deus. Por exemplo, o primeiro casal não precisava de uma lei que proibisse o adultério. Eles nem sentiam desejo de cometê-lo (e não só pelo fato de não haver mais ninguém por lá). Somente com a “síndrome dos pneus furados” passamos a perceber uma ruptura entre nossos desejos e a vontade de Deus a nosso respeito. É aqui onde a lei cumpre seu objetivo essencial. Ela nos foi dada para convencer-nos do pecado (cf. Rm 7,7). Por outro lado, quando Cristo diz: “Ouvistes o que dizem os mandamentos ( … ) mas eu vos digo…” ele quer indicar que precisamos de algo mais do que os meros preceitos podem oferecer. 

A lei do Antigo Testamento é boa e justa. Mas “não dá por si mesma a força, a graça do Espírito, para cumpri-la” (CIC n. 1963). Noutras palavras: ela prova que “dirigimos com os pneus furados”, mas por si mesma é incapaz de recalibrá-los. “A Lei Evangélica”, no entanto, “reforma a raiz dos atos, o coração, onde o homem faz a opção entre o puro e o impuro” (CIC n. 1968). 

Na medida em que permitimos a Cristo “recalibrar nossos pneus”, a necessidade da lei irá diminuindo, pois estamos decididos a não mais transgredi-la. De que leis precisamos então? Que ensinamentos da Igreja nos parecem ainda como uma carga ou imposição? O problema, talvez, nem seja com a lei ou com a Igreja, e sim com a sua própria “dureza de coração”. Não jogue fora a lei; entregue a Cristo seus desejos desordenados e deixe que ele os transforme. 

É inútil tentar seguir todas as regras, sem buscar o ar necessário para encher os pneus. Os que assim fazem tomam-se fariseus hipócritas, ou então abandonam a lei de Deus, substituindo-a por uma versão racionalizada e diluída do Evangelho. Tanto num caso como no outro, será um “evangelho” sem a boa nova, um cristianismo sem Cristo. Ambos, os hipócritas farisaicos e os sem lei, precisam ainda “passar” da escravidão do código ético para a liberdade do “novo etos”, a liberdade da redenção. 

Tal liberdade liberta-nos, não da “coação” externa, que nos chama para o bem, mas da coação interna que retarda a nossa escolha do bem. Somente quando aspiramos ao que é verdadeiro, bom e bonito, é que somos realmente livres – livres para amar, livres para abençoar, noutras palavras, livres da compulsão de agarrar, de possuir. Os que se dispensam da lei para entregar-se à luxúria podem imaginar-se livres. Assim como um alcoólatra que não consegue dizer “não” à garrafa, também é escravo aquele que não consegue dizer “não” à luxúria. “Foi para sermos livres que Cristo nos libertou. Ficai firmes e não vos deixeis amarrar de novo ao jugo da escravidão” (Gl 5,1). 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

Fonte: WEST, C. Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II. Madrid: Myrian, 2008.

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