O ETOS CRISTÃO: A MORALIDADE “DO CORAÇÃO” 
O ETOS CRISTÃO: A MORALIDADE “DO CORAÇÃO” 

O ETOS CRISTÃO: A MORALIDADE “DO CORAÇÃO” 

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Não basta adequar o nosso comportamento a uma norma externa apenas. Sabemos todos que é possível “seguir as regras”, sem jamais alcançar a santidade (isto é, sem um coração “inspirado” pelo amor de Deus). Esta rígida e morta conformidade com regras chama-se “legalismo” ou “moralismo”. No Sermão da Montanha, Cristo nos convida para algo bem diferente. Para uma “moralidade viva” que brota do coração. 

Jesus começa a preparar o palco para essa “nova” moralidade, dizendo: “Se a vossa justiça não for maior que a dos escribas e fariseus, não entrareis no reino dos céus” (Mt 5,20). Como teriam soado estas palavras aos ouvidos dos judeus que as ouviram? Os escribas e os fariseus eram considerados como os mais justos de todos. Em muitos deles, entretanto, ao menos aos que Jesus se dirigia, tudo não passava de mera exterioridade. Embora se conformassem com a ética da lei, seus “etos” continuavam tortos. 

Uma ética, sabemos, é uma norma externa, uma regra: “faça isto”, “não faça aquilo”. O caráter, porém, refere-se ao mundo interior de valores do indivíduo, que o atrai ou o repele no fundo do coração. No Sermão da Montanha, Cristo não está interessado em confirmar o código ético apenas. Ele proclama também o verdadeiro caráter dos Mandamentos de Deus, o que eles exigem de nós internamente. Com efeito, ele declara: “Ouvistes o ético, não deveis cometer adultério, mas o problema é que desejais cometer adultério. Vosso caráter é falho, pois estais cheios de luxúria”. 

Isto parece quase cruel. Mesmo sabendo-nos cheios de luxúria, Jesus insiste: “Não ceda à luxúria”. Muito bem! Que fazer então? Cristo apresenta um padrão, mesmo sabendo que não podemos fazê-lo nosso. Ele parece impossível, a não ser que ( … ) a não ser que seja possível experimentar alguma espécie de redenção ou transformação de nossos desejos. É aqui, precisamente, que o Evangelho se toma boa nova. Como repetidas vezes acentua João Paulo II, o “caráter novo”, proclamado por Cristo no Sermão da Montanha, não nos é dado somente como uma tarefa. Ele nos é dado também como um dom. Não estamos à mercê de nossos defeitos, fraquezas e pecados. No “Sermão da Montanha ( … ) o Espírito do Senhor dá forma nova aos nossos desejos, estas moções interiores que animam nossa vida” (CIC n. 2764). 

Segundo o Papa, “o caráter cristão identifica-se pela transformação da consciência e das atitudes de ( … ) ambos, homem e mulher, de forma a expressar e realizar o valor do corpo e do sexo conforme o plano original do Criador” (22.10.1980). Que notícia maravilhosa! Que esperança! Que alegria! Não somos reféns da luxúria. “A nova dimensão do caráter está sempre conectada com ( … ) a nossa libertação da ‘luxúria’” (08.1 0.1980). Na medida em que somos libertados de suas correntes, ficamos livres para amar segundo o plano original de Deus. Esta é, diz o Papa, “uma moral viva”, na qual realizamos o verdadeiro sentido de nossa humanidade (cf. 16.04.1980). 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

Fonte: WEST, C. Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II. Madrid: Myrian, 2008.

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