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AS FOLHAS DE FIGUEIRA EM CENA:
OS EFEITOS DO PECADO E A REDENÇÃO DA SEXUALIDADE
No Sermão da Montanha, o Espírito do Senhor dá forma nova aos nossos desejos, estas moções interiores que animam nossa vida (CIC n. 2764).
Nesta segunda etapa de reflexões, o Papa aborda as experiências sexuais e corporais dos “históricos” homem e mulher. A história, neste sentido, começa com a entrada em cena das folhas de figueira – isto é, com o amanhecer do pecado (cf. Gn 3,7-10). No entanto, como homens e mulheres históricos, não fomos só afetados pelo pecado, mas também redimidos em Cristo. Portanto, devemos sempre contrabalançar a “má notícia” do pecado com a “boa notícia” da redenção.
A má notícia, que pretendemos examinar mais detidamente neste capítulo, é a perda da pureza de nossas origens. A boa notícia é que “Jesus veio restaurar a criação na sua pureza original” (CIC n. 2336). Como dissemos anteriormente, não podemos voltar ao estado de inocência; mas, pela força da morte e da ressurreição de Cristo, podemos progredir na sua restauração mais do que a maioria pensa. Esta jornada pode ser muito “confusa”. No entanto, mesmo que a plena redenção se dê somente no céu, nossos pneus vazios podem receber uma boa quantidade de ar e equilíbrio ainda nesta terra.
ADULTÉRIO NO CORAÇÃO
Uma vez mais o Papa fundamenta suas reflexões nas palavras de Cristo, desta vez no Sermão da Montanha: “Ouvistes o que foi dito: ‘não cometerás adultério’. Ora, eu vos digo: todo aquele que olhar para uma mulher com o desejo de possuí-la, já cometeu adultério com ela em seu coração” (Mt 5,27-28).
Cristo fala aqui diretamente na luxúria do homem, mas aplica o princípio também à mulher. A maioria concorda que a luxúria do homem parece voltar-se mais para a gratificação física à custa de uma mulher, enquanto na mulher a luxúria parece orientar-se mais para a gratificação emocional à custa de um homem. Isto, naturalmente, não acontece em cada caso. Há mulheres que experimentam ardentes desejos físicos, assim como homens têm desejos emocionais. Mas o dito que os “homens usam o amor para conseguir sexo, enquanto as mulheres usam sexo para conseguir amor” parece, ao menos até certo ponto, corresponder à verdade.
Também se observa que certas pessoas sentem luxúria pelo mesmo sexo. É a homossexualidade, um problema complexo que não podemos explanar mais amplamente aqui. Mas, embora se note hoje um enorme esforço para considerar a homossexualidade como algo normal, ela realmente não passa de outra manifestação da “síndrome dos pneus furados”. Seja qual for a nossa experiência pessoal de luxúria, todos precisamos de uma “recalibragem de pneus”. A boa nova do Evangelho é que, se tomarmos nossas cruzes e seguirmos Cristo, ele poderá dar força a todos, para viverem de acordo com o sábio plano de Deus, que nos criou homem e mulher. Ninguém – não importa quais sejam suas distorções – está fora do alcance do amor redentor de Cristo.
Quando ele fala no “olhar com luxúria”, não está dizendo que uma olhada de soslaio ou um pensamento momentâneo nos tome culpados de adultério. Como seres humanos descaídos, estamos sempre sujeitos a sentir a “atracão” da luxúria em nossos corações, em nossos corpos. O que não significa necessariamente estarmos pecando. Nosso procedimento ao experimentar a atracão da luxúria é que vai fazer a diferença. Depende se, neste momento, voltamos nossa atenção a Deus e lhe pedimos ajuda para resistir, ou nos entregamos a ela. Se a aceitamos, resolvendo “em nosso coração” tratar aquela pessoa como um mero objeto para a nossa própria satisfação, estamos violando gravemente a dignidade dela e também a nossa. Fomos criados para sermos amados “para o nosso bem”, e não para sermos usados como objetos de satisfação para outros. Para São João Paulo II, o oposto do amor não é o ódio, mas o uso de alguém para fins egoístas.
Ademais, é significativo que Cristo se refira a olhar com luxúria para uma “mulher” no sentido genérico. Não distingue se é uma outra mulher ou a própria esposa. Como observa o Papa, um homem comete “adultério em seu coração” não somente quando olha com luxúria para uma mulher com a qual não está casado, “mas precisamente por olhá-la de forma ilícita. Até mesmo olhando assim para a própria mulher, poderá cometer adultério ‘em seu coração’” (08.10.1980). Noutras palavras, o casamento não justifica a luxúria. Usar a mulher não é “correto”, mesmo que seja sua esposa. Sei que isto é um chavão, mas por que será que tantas esposas alegam estar com “dor de cabeça”, quando os maridos querem unir-se sexualmente a elas? Se uma mulher nota que está sendo usada pelo marido, é plenamente compreensível que se recuse. O amplexo sexual deve ser sempre figura e expressão do amor divino. Qualquer coisa em contrário é uma falsificação que, além de não satisfazer, machuca terrivelmente.
Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.
Fonte: WEST, C. Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II. Madrid: Myrian, 2008.