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Que sensação inesperada
Senti diante da multidão
Havia muita gente em volta
Mas eu senti sua respiração
Ofegante e sofrida
Havia muita tensão
O peso de nossas vidas
Estava em suas mãos
Quando eu vi o rastro
Foi difícil de aceitar
Quem para tantos foi luz
Sangrava sem parar
De um lado para o outro
O arrastavam sem pensar
Agredido e maltratado
Humilhavam-No sem pestanejar
Seguir te olhando de longe
Não consegui me aproximar
Até tentei algumas vezes
Mas tive medo de me arriscar
Eram muitos os gritos
O ódio estava no ar
Mesmo já sabendo disso
Não é fácil de aceitar
É muito mais fácil
Só ouvir e imaginar
Mas ao ver tudo aquilo
Senti que ia desmaiar
De todas as coisas tristes
Que eu pude acompanhar
Meus olhos ainda doem
Só por tentar lembrar
A dor de todos os tapas
Bofetões e cusparadas
Açoites e chibatas
Nada disso me fez chorar
Já lá em cima do monte
Na cruz estavam a O colocar
A carne sagrada rasgada por pregos
E mais sangue a derramar
Uma imagem perturbadora
Que eu evitava encarrar
Mas ao desviar meu rosto
Contemplei-a a chorar
Preso entre duas faces
Que não queria visualizar
Vê-Lo no alto da cruz
E sua mãe embaixo a chorar
Foi quando lhe deram vinagre
Que senti meu corpo desmontar
Lembrei daquilo que disse
E não pude me controlar
Se bebia do fruto da videira
Então estava a consumar
Toda a promessa feita
De pela humanidade se entregar
Senti na boca um gosto
Que não me era familiar
Se era sangue, vinagre ou vinho
Eu já não sabia diferenciar
Disseste “está consumado”
E se entregou lá da cruz
Minha vista ficou escura
Morreste por nós Jesus
Lentamente fui voltando
A visão recuperando
Ainda estava pensando
Onde é que fui parar?
Continuava ali mesmo
Parado no mesmo lugar
Num banco vazio da Igreja
Onde comecei a chorar
Foi o fim da Santa Missa
Uma celebração que estava cheia
E não vi o tempo passar
Nem onde o povo foi parar
(Jo 18,1–19,42)
Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.