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Chegamos ao dia 24 de dezembro, uma das datas mais comemoradas do mundo, muito embora o Natal do Senhor seja festejado no dia 25 de dezembro, a véspera de Natal é o dia em que as festividades acontecem com maior força, dentre essas festividades, a ceia é uma das mais simbólicas, infelizmente muitas vezes e para muitas famílias sendo mais importantes do que a Santa Missa.
Depois de anos conturbados de pandemia, de guerras, de polarizações políticas, de disputas ideológicas e religiosas, uma sensação em comum é vivenciada e relatada por muitos dos sem nomes, a sensação de que as pessoas estão divididas. Uma divisão que vai além de meras opiniões contraditórias e é evidenciada em comportamentos e escolhas visíveis que impactam a vida das pessoas, desde que roupa vestir, que marcas consumir, que músicas ouvir, que ambientes frequentar e tantas outras escolhas que vão demonstrando quem somos. A divisão tornou a ceia de Natal um momento de grande expectativa e preocupação por reunir ao redor da mesa pessoas com posições muitas vezes antagônicas.
Mas será que essa divisão é uma coisa ruim?
Correndo o risco de ser interpretado como intolerante ou de propagador da desunião e outras coisas do gênero, eu afirmo que isso não é tão ruim quanto parece. Afirmo isso porque divididos nós sempre estivemos e sempre estaremos, lembremos o que nos disso o Senhor.
“Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Eu vim para lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso! Devo receber um batismo, e como estou ansioso até que isto se cumpra! Vós pensais que eu vim trazer a paz sobre a terra? Pelo contrário, eu vos digo, vim trazer divisão. Pois, daqui em diante, numa família de cinco pessoas, três ficarão divididas contra duas e duas contra três; ficarão divididos: o pai contra o filho e o filho contra o pai; a mãe contra a filha e a filha contra a mãe; a sogra contra a nora e a nora contra a sogra”
(Lc 12, 49-53).
Ser cristão já inclui uma certa dose de divisão, mas cuidado, não quer dizer que devamos procurar briga sem motivo ou simplesmente sermos fonte de desentendimento entre as pessoas a nossa volta. São Cirilo de Alexandria observa que é costume das Sagradas Escrituras designar por “fogo” os discursos sagrados e divinos. Ou seja, assim como o fogo purifica os metais, a palavra de Deus purifica as inteligências e corações. Por isso precisamos estar aptos as consequências que esse “fogo” provoca em nossa vida, a Palavra de Deus incomoda e esse incomodo gera divisão e a divisão em si também é promessa de Nosso Senhor.
“Deixem que cresçam juntos até a colheita. Então direi aos encarregados da colheita: Juntem primeiro o joio e amarrem-no em feixes para ser queimado; depois juntem o trigo e guardem-no no meu celeiro’ “
(Mt 13, 30).
Claro que o conflito, a divisão e discórdia não são coisas que devemos cultivar e tão pouco atribuir a Deus, são o posto disso, fruto de nossas próprias desordens morais e espirituais que precisamos combater durante o nosso caminho de conversão em busca da santidade. O que eu estou defendendo aqui é um ensinamento de Santo Agostinho que já é velho conhecido dos que acompanham o semnome.org.
“Deus não permitiria um mal se não soubesse tirar dele um bem maior”
(Santo Agostinho).
Não foi a pandemia, a guerra, a polarização política ou a disputa ideológica e religiosa que separou as pessoas, foi o amor. O amor que somos capazes de demonstrar em nossas escolhas foi que acentuou a separação que já existia, mas que ainda estava oculta nos corações de muitos.
Talvez na reunião de família para a ceia de Natal de cinco anos atrás você não soubesse que diante da necessidade de escolher entre defender a vida ou o aborto aquela sua tia escolheria o aborto. Que havendo a necessidade de escolher entre a liberdade de um povo ou a mão pesada do estado, aquele teu tio escolheria a conveniência de obedecer ao estado. Que entre uma ideologia que promete o paraíso na terra e a fé na vida eterna, aquele seu irmão seria facilmente seduzido pela ideologia. São tantas as escolhas descobertas que antes estavam ocultas a nós que demonstram onde depositamos o nosso amor e essas descobertas potencializaram a divisão.
Mas então o que deveríamos fazer para resolver, voltar a ocultar as escolhas que revelam o que realmente amamos? Não, pois essas escolhas sempre estiveram guardadas conosco e ocultas apenas ao próximo, mas nunca ocultas de Deus.
A nós cabe o exercício das três virtudes teologais. A fé, que devemos cultivar cada dia mais, não só em nós, mas também no próximo, aprendendo e ensinando para que cada dia mais sejamos firmes na escolha de na Santíssima Trindade depositar o nosso amor. A esperança, de que o que é hoje divisão, não vem apenas para nos separar, mas para que possamos claramente saber por quem rezar, a quem acolher e com quem ser cauteloso para que não sejamos levados a pecar pelo engado e para que possamos evangelizar e buscar retirar do engano aqueles que nele estão. E a caridade, para oferecer ao próximo aquilo que for possível, não para simplesmente materialmente assisti-lo, mas principalmente para salvar sua alma e ajudá-lo a chegar no reino dos céus, onde verdadeiramente nos reuniremos para a ceia de Natal definitiva.
Um feliz Natal do Senhor
Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.