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A duas semanas atrás eu faltei a missa dominical e na semana passada uma sem nome me questionou,
“Você não está indo à missa, o que está acontecendo?! Escreva um ‘sobre’ sobre isso.”
A primeira coisa que eu tenho a dizer a respeito é que este tipo de amizade são as melhores, tenham por perto mais pessoas que sintam sua falta na missa e venham em busca de você, porque aqueles que só te convidam a outros lugares e os que até sentem falta de você na missa, mas fazem uso disso para falar mau de você, precisam mais de suas orações do que eles mesmos imaginam.
Quanto a mim, eu poderia resumir o motivo daquele domingo fatídico em uma frase que certa vez eu me deparei na internet que era atribuída ao Papa Emérito Bento XVI,
“O verdadeiro milagre da Igreja é conseguir sobreviver a cada domingo, apesar dos milhões de péssimas homilias”.
Como não encontrei o documento ou registros do momento em que o papa tenha proferido tal afirmação, tendo a pensar que essa é mais uma daquelas frases onde alguém quer inflar a importância do que pensa e atribui a outro que tenha mais credibilidade do que ele, a final quem nunca leu um frase de autoajuda atribuída a Albert Einstein?
A Missa por si só já é um mistério grandioso, como ponto alto da fé católica ela vai muito além de eloquentes homilias, pois a Santa Missa é a presença de Deus em sua plenitude, meio pelo qual Ele se faz presente, no geral, de quatro formas diretas e distintas.
Na Liturgia da Palavra, pois a Escritura é Palavra viva de Deus e Ele está vivo nela. Na presença de Deus Filho, em Espírito, sendo Ele mesmo a nos assegurar sua presença onde dois ou mais estiverem reunidos em nome Dele (Mt 18, 20). No “alter Christus”, que é presença de Cristo por meio do próprio Sacerdote que preside a missa, principalmente no momento da Consagração. E na Presença Real na Santa Eucaristia, onde o Cristo Salvador está sob a forma das substâncias consagradas e após a prece Eucarística faz-se fisicamente presente no meio de nós.
Pensando sobre isso, sim existe na Santa Missa muitos mistérios, mas o católico que vai à missa em busca apenas de boas homilias se equivoca várias vezes, primeiro porque esperar que Deus fale apenas por meio da homilia é reduzir Deus a nossa insignificância, segundo porque na Santa Missa só buscar Deus na homilia é desprezar a maior parte do ministério e do sacrifício de Cristo, terceiro porque esperar sempre uma homilia que nos preencha (mental, emocional ou espiritualmente) é retirar Cristo do centro da missa e colocar a nós mesmo.
É preciso lembrar que a Santa Missa é um sacrifício divino de amor, a missa é sobre a nossa fé em Cristo, é sobre seguir a vontade do Pai, é sobre amar a Deus sobre todas as coisas, é sobre rejeitar os nossos pecados, pode ser sobre muitas coisas, mas não pode ser sobre nós, porque ao olhar para o altar, é Ele quem está pregado no madeiro, é sobre Ele que as escrituras falam (no antigo e no novo testamento), é Ele quem está se entregando em corpo e sangue por nós.
Isso quer dizer que a homilia não importa? Claro que não. A homilia importa e é mais uma maneira pela qual Deus pode nos alcançar, mas um coisa daquela frase é verdadeira, existem milhões de homilias ruins. Quando eu digo ruim não estou falando sobre homilias mágicas, sim sabemos que o dom da palavra habita em alguns mais do que em outros, a final há uma variedades de dons, mas o Espírito é o mesmo (I Cor 12, 4). Sei que para algumas pessoas a homilia é boa quando deixa arrepiado, quando chora, quando sente o corpo balançar e etc. todas essas coisas são válidas, mas a ausência delas não podem fazer de uma homilia ruim, o que faz uma homilia ruim é a falta de fidelidade a Cristo e a sua Igreja.
Pode soar incômodo, em tempos de padres famosos e fiéis mau catequizados, mas uma verdade precisar ser dita, não é porque o padre falou que devemos seguir sem questionar ou contestar. Mas pode ir parando aí! Não é para ir contestar seu pároco só porque você não gostou do que ouviu, todo católico deve cultivar o respeito e amor ao sacerdócio, no entanto a fidelidade do católico é a Igreja de Cristo e não a um padre, independente de se você gosta ou não dele dele.
Para ficar mais claro, vale lembrar que muitas das heresias historicamente combatidas pela igreja não surgiram dos leigos, mas sim do clero, como por exemplo o pelagianismo, o nestorianismo, o apolinarismo, o arianismo, a teologia da libertação e tantas outras, que poderia citar aqui que demonstram que o bom católico deve sim questionar o sacerdote e não deve acreditar cegamente no que ele diz.
Mas é importante dizer a esse respeito três coisas. Primeiro, o leigo não tem autoridade para apontar o que é certo ou errado na igreja, esse questionamento deve vir da matéria de fé presente na tradição da igreja, no catecismo, na doutrina católica e afins de igual fidedignidade e nada fora disso. Segundo, não é porque o padre está falando algo que fere a doutrina da igreja que ele é um herege, as pessoas erram e o padre também é humano passível de erro. Terceiro, sua correção deve ser fraterna (Mt 18, 15-20), se sua correção não vem para aproximar ainda mais a alma de Deus, ela não passa de seu grande e arrogante ego, busque a confissão, neste caso muito bom seria se fosse com o mesmo sacerdote que você busca corrigir.
No fim, se você, assim como eu, ainda não está educado o suficiente para se manter concentrado diante dos possíveis “deslises” cometidos durante a homilia, lhe cabe a boa tradição dos antigos cristãos, nos tempo em que a Santa Missa era celebrada em Latim, as pessoas que não compreendiam o idioma se colocavam em oração durante a missa, muitas rezando o Santo Terço. Hoje a celebração pode estar em nosso idioma, mas talvez ainda não estejamos prontos para compreender ou talvez Deus nos deu a graça de não compreender mesmo para não nos desviarmos da verdade.
E peça a Deus o dom da paciência, pois sabemos que a alguns o Espírito Santo deu o dom da palavra para converter multidões como deu a São Pedro (At 2, 41) e de outros um anjo tira a voz para que seja fiel (Lc 1, 20), mas independente de qual seja o caso do padre que presidirá a Santa Missa, nós devemos lá está, em honra a Cristo e pela nossa salvação, sem desanimar, a final Deus fez um burro falar para ensinar a um pagão (Nm 21, 28), então Ele pode nos ensinar muitas coisas em uma homilia mão feita, pois olhando com a lente da fé para uma heresia Deus facilmente nos ensina o que Ele não é e o que Ele não quer de nós.
Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.