Sobre o tempo comum 
Sobre o tempo comum 

Sobre o tempo comum 

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Dentro de poucos dias será Quarta-Feira de Cinzas e com essa celebração a Santa Mãe Igreja entra no tempo quaresmal, um tempo litúrgico voltado a penitencias e reflexões mais aprofundadas de nossa fé como preparação para a maior de todas as festas, a Festa da Páscoa do Senhor.

Mas antes que adentremos nesse tempo e porventura sejamos bombardeados com ideias (sempre bem-vindas) de penitencias, de roteiros de leitura, de guias de oração e de tantas outras coisas permita-me fazer uma simples pergunta.

O que você fez no verão passado?

A pergunta é apenas uma alegoria, pense um pouco sobre como você viveu a fé no último ano, contemplando todo o período entre a Páscoa passada até agora e reflita um pouco sobre o que você fez no último período quaresmal e o que fará igual ou parecido novamente esse ano. Não me interprete mau, não sou contra repetir ações piedosas e obras de misericórdia, se assim eu fosse, não poderia ser católico. Mas faça essa breve reflexão, se é que já não a fez, enquanto eu explico o porquê. 

Embora para a maioria dos católicos e para muitos cristãos não católicos também, períodos como o quaresmal, o pascal (mais importante deles) e o natalino estejam entre os preferidos e mais lembrados, eu sempre nutro um carinho e uma admiração especial pelo tempo comum. O tempo comum que se espalha pelo ano litúrgico quase como se fosse um tempo que passa despercebido, sem grandes momentos especiais ou uma liturgia mais marcante, é para mim um tempo todo propício para o desafio de sermos Igreja.

O tempo litúrgico está intimamente ligado a vida de Cristo na Terra e com o tempo comum não é diferente, mas enquanto, no período quaresmal por exemplo, a liturgia nos convida a buscarmos mais fortemente a nossa conversão em preparação para o tempo pascal, é no tempo comum que essa conversão se põem a prova, quando não há uma lembrança constante e direcionada para a vigia e reflexão de nossas ações. 

Por muitas vezes eu olho para o tempo comum com o mesmo olhar que contemplo a infância de Jesus, aquele período “comum” e sem muitas informações, alguns até teorizam como a infância de Jesus poderia ter sido, mas não vamos fazer isso aqui, apenas ficamos com as palavras do evangelista São Lucas.

“Terminando de fazer tudo conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galiléia, para Nazaré, sua cidade. E o menino crescia, tornava-se robusto, enchia-se de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele”

(Lc 2, 39-40)

Depois disso é como se Jesus vivesse ali um tempo comum, que não merecia muitos registros, assim como o tempo comum durante o ano litúrgico, sem grandes eventos ou festas. Mas é claro que isso não quer dizer que Jesus foi uma criança largada, pois ele enchia-se de sabedoria e a Graça de Deus estava com ele, essa é a chave de leitura, o tempo comum não é um tempo largado onde esperamos uma nova grande festa litúrgica, o tempo comum é um tempo no qual precisamos nos dedicar a encher-nos de sabedoria e permitir que a Graça de Deus haja em nós.

Sem esquecer da Igreja e do serviço para edificar o Reino dos Céus, algo que o evangelista nos mostra que Jesus dedicou-se a fazer desde sua juventude, no segundo e último relato feito por São Lucas a respeito da infância de Jesus. 

“Desceu então com eles para Nazaré e era-lhes submisso. Sua mãe, porém, conservava a lembrança de todos esses fatos em seu coração. E Jesus crescia em sabedoria, em estatura e em graça, diante de Deus e diante dos homens”.

 (Lc 2, 51-52)

O tempo comum é o tempo em que infelizmente os pecados veniais passam despercebidos, é nele onde nós pensamos em faltar o grupo de oração, onde falhamos em nossa oração pessoal, onde deixamos a missa dominical de lado por qualquer motivo banal. No tempo comum é onde muito da nossa vida cristã acontece, é onde caímos, é onde somos motivo de queda para os outros, mas também é onde podemos levantar e ser o braço amigo para levantar o irmão.

Por isso, quando começar a pensar sobre suas possíveis ações e penitencias quaresmais, sim olhe para o que você fez na quaresma do ano passado e pode fazer novamente e pode até fazer melhor. Mas não esqueça de olhar para o que você fez no verão passado, reflita com muita atenção o tempo comum pois nele podemos encontrar muito do que precisamos renunciar durante a quaresma e para todo o sempre. Busquemos ser cristãos que crescem em sabedoria e graça diante de Deus o ano inteiro, sempre preocupados com as coisas do Pai. 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

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