Uma pessoa que tira a própria vida vai direto para o inferno ou ela tem alguma chance de passar pelo purgatório
Uma pessoa que tira a própria vida vai direto para o inferno ou ela tem alguma chance de passar pelo purgatório

Uma pessoa que tira a própria vida vai direto para o inferno ou ela tem alguma chance de passar pelo purgatório

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Uma pessoa que tira a própria vida vai direto para o inferno ou ela tem alguma chance de passar pelo purgatório?

Does a person who takes his own life go straight to hell or does he have any chance of passing through purgatory?

Sem Nome Responde

O purgatório é um dos mais benevolentes presentes que Deus em sua infinita misericórdia preparou para nós, pois deseja ardentemente que nossas almas sejam purificadas para estarmos em Tua presença, mas a quem essa dádiva é ou não confiada é um mistério que não é simples interpretar. Por isso para responder à pergunta, uma pessoa que tira a própria vida vai direto para o inferno ou ela tem alguma chance de passar pelo purgatório? Precisamos firmar os pés na tradição da Santa Mãe Igreja, pois um simples sim ou não é incapaz de servir como resposta aqui. 

O primeiro passo é resgatarmos a razão de existir do purgatório e das almas serem enviadas até lá. São Boaventura nos ensina que o purgatório existe porque nós precisamos nos purificar, como aponta Santo Agostinho ao destacar que existem três ordens de pessoas: Umas inteiramente más, e a essas não aproveitam os sufrágios da Igreja; outras inteiramente boas, que não precisam de tais sufrágios; outras, enfim, que não são de todo más, nem de todo justas e a estas cabem as penas passageiras do Purgatório, porque suas faltas são veniais. E nessas situações cabe-nos reconhecer que toda ofensa pede um castigo, todo dano uma reparação, todo mal um remédio; portanto é necessário também (neste mundo ou no outro) uma pena que corresponda ao pecado.

Sendo assim, as duas causas principais para uma alma ir para o purgatório são: A falta de satisfação suficiente pelos pecados remetidos. É de fé que Deus, perdoando os pecados cometidos depois do batismo e a pena eterna devida a esses pecados quando são mortais, deixa ordinariamente ao pecador já reconciliado a dívida de uma certa pena temporal que ele há de solver nesta vida ou na outra; E os pecados veniais de que os justos podem estar maculados quando partem deste mundo. 

O segundo passo é deixar claro a diferença entre pecados mortais e pecados veniais, para isso, recorremos ao Catecismo da Igreja Católica que nos ensina que,

1857.Para que um pecado seja mortal, requerem-se, em simultâneo, três condições: “É pecado mortal o que tem por objeto uma matéria grave, e é cometido com plena consciência e de propósito deliberado”.

Mas como saber o que é matéria grave? O Catecismo da Igreja Católica também nos ensina, 

1858. A matéria grave é precisada pelos dez Mandamentos, segundo a resposta que Jesus deu ao jovem rico: “Não mates, não cometas adultério, não furtes, não levantes falsos testemunhos, não cometas fraudes, honra pai e mãe” (Mc 10, 18). A gravidade dos pecados é maior ou menor: um homicídio é mais grave que um roubo. A qualidade das pessoas lesadas também entra em linha de conta: a violência cometida contra pessoas de família é, por sua natureza, mais grave que a exercida contra estranhos.

Diferentemente do pecado mortal o pecado venial é caracterizado por ser uma matéria leve, como também nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, 

1862. Comete-se um pecado venial quando, em matéria leve, não se observa a medida prescrita pela lei moral ou quando, em matéria grave, se desobedece à lei moral, mas sem pleno conhecimento ou sem total consentimento.

1863. O pecado venial enfraquece a caridade, traduz um afeto desordenado aos bens criados, impede o progresso da pessoa no exercício das virtudes e na prática do bem moral; e merece penas temporais. O pecado venial deliberado e não seguido de arrependimento, dispõe, a pouco e pouco, para cometer o pecado mortal. No entanto, o pecado venial não quebra a aliança com Deus e é humanamente reparável com a graça de Deus. “Não priva da graça santificante, da amizade com Deus, da caridade, nem, portanto, da bem-aventurança eterna”.

O terceiro passo é compreender que a entrada da alma no purgatório, embora seja para padecer pelos pecados cometidos, é uma graça alcançada pelas almas que tendo fé e não morreram em total inimizade com Deus, ou seja, em pecado mortal. 

A maneira mais prática e segura de se estar em estado de graça é por meio do Sacramento da Confissão, mas não é a única, uma alma arrependida pode entrar em estado de graça com uma contrição perfeita, embora raros os casos em que isso acontece, muitas vezes tal graça é reservada para grandes místicos e Santos de sétima morada, não é impossível. 

Mas minha recomendação pessoal é que nenhum cristão confie em si mesmo e sempre que possível e que se julgar necessário busque o sacramento da confissão e/ou da unção dos enfermos, para em estado de graça ter a oportunidade de entrar no purgatório. Pois apenas Deus conhece o mais profundo da nossa alma e Ele sabe muito melhor do que nós do que precisamos. 

No quarto passo precisamos lançar um olhar de atenta caridade sobre uma pessoa que morre nessas condições. Pensemos em uma pessoa hipotética que cometeu suicídio, o que sabemos é a causa da morte, ela tirou a própria vida. 

Mas não sabemos como ela viveu, não sabemos quais boas obras ela praticou, não sabemos quais outros pecados mortais ou veniais ela carregava, não sabemos se estava arrependida deles ou não. Não sabemos quais foram suas motivações para tirar a própria vida, não sabemos em que estado de consciência ela estava quando praticou esse atentado contra o bem mais valioso confiado a nós por Deus, a vida humana. 

Todos esses pontos dos quais não temos conhecimento são essenciais por dois motivos, primeiro, porque como nos ensina o Catecismo da Igreja Católica, 

1859. Para que o pecado seja mortal tem de ser cometido com plena consciência e total consentimento. Pressupõe o conhecimento do carácter pecaminoso do ato, da sua oposição à Lei de Deus. (…) 1861. (…) No entanto, embora nos seja possível julgar se um ato é, em si, uma falta grave, devemos confiar o juízo sobre as pessoas à justiça e à misericórdia de Deus.

Segundo, porque nossa limitação humana nos torna incapazes de conhecer profundamente todos as motivações e desordem existentes em nós e não podemos dominá-las sem a graça de Deus, tão pouco somos capazes de julgar a lucidez e as motivações de alguém que atenta contra a própria vida. Menos ainda somos capazes de julgar conforme a Justiça de Deus para sabermos se aquela alma desordenada carregava em si a lucidez integra de seu ato e/ou a chama acessa da fé para suplicar a Deus um perdão sincero de uma contrição perfeita em seu último segundo nessa vida.

Desta forma, diante da pergunta, uma pessoa que tira a própria vida vai direto para o inferno ou ela tem alguma chance de passar pelo purgatório? Eu respondo que, atentar contra a própria vida é pecado grave, mas é caridade católica não ter certeza do destino da alma de quem tal ato comete. A nós católicos cabe o fiel compromisso de rezar por todas as almas que padecem no purgatório e nessa vida buscar a graça da companhia de Deus e a prática da retidão de agir conforme os seus ensinamentos para que ao final de nossa jornada nessa terra, tenhamos a graça de adentrar no purgatório, com a felicidade contrita de que uma vez lá, a única saída é a entrada para o céu. 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

Sem Nome Responde é uma sessão onde buscamos responder perguntas que são enviadas a nossa redação, nos envie suas perguntas ou contribuições para as respostas por nossos canais de comunicação, ficaremos muito felizes em nos conectar com vocês. 

Não temos aqui a intenção de dar respostas definitivas para nenhuma pergunta, apenas buscamos a luz da sabedoria da Santa Mãe Igreja dar um passo na direção da verdade. Correções nas respostas podem ser realizadas a qualquer tempo, sempre que a luz dos ensinamentos da Santa Mãe Igreja nos permitir.

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