Hoje, dia 23 de junho a Santa Mãe Igreja celebra a natividade de São João Batista, o maior dos nascidos de mulher, como nos disse o Nosso Senhor Jesus Cristo. 

“Eu vos afirmo que dentre os nascidos de mulher não há um ser humano maior do que João”

(Lc 7, 28a)

Apesar de ser o último dos profetas, o que teve a honra de presenciar a própria profecia encarnada, se compararmos com outros profetas do antigo testamento, não há muito sobre ele, sobre suas pregações, sua vida, seus feitos, tudo narrado de maneira breve e concisa no novo testamento. 

Mas isso não é um acaso da história da Igreja ou uma simples escolha estratégica dos evangelistas e outros cristãos da Igreja primitiva de sua época, sempre olhei para esse fenômeno como mérito do próprio João e como uma de suas virtudes mais admiráveis, que é inclusive inspiração para muitas das ações do sem nome. São João Batista sabia o seu lugar e ensinou a todos nós,


“É necessário que Ele cresça e que eu diminua.”

(Jo 3, 30)

Recentemente, no Brasil, a mídia e as redes sociais iniciaram mais uma daquelas campanhas de novidade da semana, expondo um caso em que uma juíza tentava dissuadir uma garota a não realizar um aborto e se você não estava off-line na última semana, com certeza você ouviu ou leu em algum lugar “criança não é mãe” e “estuprador não é pai”. 

Deixarei de lado a complexa discussão sobre se a juíza poderia ou não fazer o quê fez, também não irie reproduzir pequenas bravatas desconexas antiaborto só para destacar que sou a favor da vida, ser católico é ser a favor da vida, se você criar quaisquer contorcionismos retórico para justificar algo diferente disso, faça sem citar a Igreja Católica, porque não é dela que você está falando. E claro, não vou defender o aborto, pelos motivos já esclarecidos acima, se você desejar compreender de maneira mais lúdica meus pensamentos a esse respeito, recomendo a leitura de Treze Semanas, uma breve história que pode te ajudar a perceber que esse não é um problema de respostas simples que cabem em duas ou três frases.   

Quero convidar você a um pensamento um pouco mais parecido com o de São João Batista neste dia, todos nós somos convidados no nosso processo de conversão a saber qual o nosso lugar, se por nele, firmar os pés e não desviar do caminho da santificação. 

Maria disse, “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38).

Isabel disse, “Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?” (Lc 1, 40).

João disse, “Ele é aquele que vem depois de mim, cujas correias das sandálias não sou digno de desamarrar” (Jo 1, 27).

São incontáveis os exemplos dos santos que sabiam bem qual era o seu lugar, arrisco dizer que não se pode alcançar a santidade sem saber qual o seu lugar e nele permanecer. Talvez por isso a santidade esteja escassa em nossos tempos, porque a internet e as redes sociais nos deram a falsa sensação de que qualquer lugar é nosso, que podemos opinar sobre qualquer coisa, que temos conhecimento e opinião válida sobre tudo. Mas na verdade, não temos, e fazemos um grande desserviço a nós mesmos quando assim agimos e um desserviço maior ainda para aqueles que pensamos estar ajudando, seja qual for o trauma, ficar sendo lembrado dele a cada minuto por pessoas que você nem conhece, pode não ser a melhor maneira de ajudar. 

Se você não é católico, se você não é cristão ou se você teve uma formação cristã muito falha, talvez seja difícil para você compreender esse conceito e você tem inclusive a escolha de ignorá-lo, mas vou explicá-lo de maneira simples. O ser humano não define o que é certo ou o quê é errado, nem a Igreja Católica ou qualquer outra igreja cristã. Jesus, o Verbo encarnado já fez isso, Deus já falou pelos profetas e fez isso. A Igreja não inventa ou adapta nada de acordo com o que convém. Em bom português, Deus definiu o que é e o que não é pecado, nós enquanto seres humanos temos apenas que aceitar isso e escolher obedecer ou não. 

Desde o jardim do Éden já era dessa maneira e se você pesquisar ou perguntar para algum jurista intelectualmente honesto (ele nem precisa ser cristão), ele vai dizer que muitas das leis humanas que temos hoje são reflexo das leis divinas e da moral judaico cristã. E se você professa a fé, cabe sempre lembrar, o primeiro que quis editar as leis de Deus de acordo com o que ele considerava certo ou errado, foi também o primeiro a ser expulso do paraíso, mas se você pensa que são outros tempos e que a muita gente já pensa diferente, não se preocupe, quando ele foi expulso, levou com ele uma terça parte das estrelas do céu, ele não caiu sozinho.

Por isso, no dia em que a Igreja celebra a Natividade de São João Batista, busquemos seguir o seu exemplo, reconhecer o nosso lugar, não somos nós que temos a autonomia de dizer o que é certo ou errado. Não precisamos nos posicionar a respeito de tudo, principalmente quando não temos informações suficientes para fazê-lo. Não cabe a nós darmos eco a todas as vozes, não nos cabe sermos a voz para tudo. E se posso recomendar algo, recomendo a delicada sabedoria e a paciência de São João Batista, diante de qualquer situação, entendamos qual o nosso lugar, firmemos os pés nele e preparemos o caminho do Senhor. 

Porque quase nunca entenderemos de imediato o que acontece, mas como Jesus pediu a João, 

“Deixe que seja assim agora, pois é dessa maneira que faremos tudo o que Deus quer.”

(Mt 3, 15)

Assim também Ele pede a cada um de nós, não para que silenciemos diante do mau, não para que fiquemos parados diante das injustiças, mas para que façamos segundo aquilo que professa o nosso batismo e no futuro vamos entender. Não precisamos de grandes posições e ecos, por vezes, na pequenez do nosso lugar, podemos nos firmar e fazermos muito.

São João Batista, rogai por nós. 

Percebam Deus nos pequenos detalhes. 

Graça, Paz e Misericórdia.

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