Os incrédulos respondem que isto é “impossível”, pois o corpo nu sempre vai suscitar a luxúria. Para alguém dominado por ela, isto é verdade. Mas, aplicando uma das mais corajosas declarações do Papa sobre a redenção, perguntamos: afinal, “de que homem estamos falando? Do homem dominado pela luxúria ou do homem redimido por Cristo? É isto que está em jogo: a realidade da redenção de Cristo. Cristo nos redimiu! Isto quer dizer que ele nos deu a possibilidade de compreender a verdade completa de nosso ser; tornou a nossa liberdade livre da dominação da luxúria” (VS n. 103). 

Como Karol Wojtyla escreveu em Amor e Responsabilidade, não podemos, pura e simplesmente, equiparar nudez com imodéstia e luxúria. A imodéstia, por certo, encontra-se presente “quando a nudez desempenha um papel negativo no tocante ao valor da pessoa, quando sua finalidade é provocar luxúria”. Wojtyla, porém, acrescenta: “Isto não é inevitável” (AR, p.176). Se admitimos que o “olhar luxurioso” é a única maneira de se poder olhar o corpo humano, então subscrevemos o que João Paulo II denomina “a interpretação da suspeita”. Os que vivem na suspeição continuam tão fechados em sua própria luxúria que projetam a mesma sujeição nos outros. Não conseguem imaginar outro modo de entender o corpo humano e a relação sexual, senão pelo da luxúria. 

Quando mantemos o coração humano “num estado de suspeição contínua e irreversível” (29.10.1980), por causa da luxúria nos condenamos a nós mesmos a uma existência sem esperança e sem amor. Condenamo-nos a observar regras (éticas) sem uma mudança do coração (etos). Às vezes acabamos abandonando a lei de Deus simplesmente por não conseguirmos observá-la. Um tal tipo de suspeição permanente acaba distanciando-nos do poder do Evangelho. 

Como nos adverte São Paulo, precisamos evitar a armadilha de “cultivar a aparência da piedade”, enquanto “negamos sua força” (2 Tm 3,5). “A redenção é uma verdade, uma realidade, em cujo nome a pessoa deve sentir-se chamada, e chamada com eficácia” (29.10.1980). Noutras palavras, a morte e a ressurreição de Cristo são eficazes, podem mudar nossas vidas, nossas atitudes, nossos corações e nossos desejos sexuais. “Não esvaziar de sua força a cruz de Cristo” (cf. 1 Cor 1,17). Este, segundo o Papa, “é o grito da Nova Evangelização” (OL n. 3). 

Muita coisa está em jogo. “O sentido da vida é a antítese da interpretação ‘de suspeita’. Esta interpretação é bem diferente, radicalmente diferente daquela do Sermão da Montanha. Aqui as palavras de Cristo revelam (…) uma outra visão das possibilidades do homem” (29.10.1980). Se não entramos nesta “outra visão das possibilidades do homem”, acharemos impossível amar como Cristo ama; e ficaremos distantes do sentido da vida. 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

Fonte: WEST, C. Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II. Madrid: Myrian, 2008.

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