ALÉM DAS FOLHAS DE FIGUEIRA: A RESSURREIÇÃO DO CORPO

Os que aceitarem o convite ao casamento “se alegrarão um dia com o Bem-Amado, num gozo e deleite que não podem ter fim” CIC n. 1 821.

Vimos brevemente a nossa origem antes do pecado e a nossa história afetada por ele, mas também redimida por Cristo. Para termos agora uma visão completa do que significa ser homem, demos uma olhada para o nosso destino final, quando (se dermos um “sim” ao plano divino) o Senhor ressuscitar nossos corpos para a glória. 

Retomando a imagem dos pneus furados, o nosso destino não pode ser entendido apenas como um retorno ao estado de perfeita “calibragem” do começo. Na ressurreição, entramos numa dimensão inteiramente nova da vida humana, que “supera toda compreensão e toda imaginação” (CIC n. 1027). Com pneus, pode-se dizer, capazes de voar. 

CÉU – UMA EXPERIÊNCIA CORPÓREA 

Muitos têm uma errônea visão “supra espiritual” do céu. Veem o corpo como uma casca, da qual anseiam por libertar-se. A visão cristã das coisas, porém, é diferente. Os cristãos concluem a recitação do Creio com uma audaciosa proclamação: “Creio na ressurreição da carne e na vida eterna. Amém”. E o Catecismo observa: “Em nenhum ponto a fé cristã se depara com mais contradição do que no da ressurreição da ‘carne’. Aceita-se muito comumente que, após a morte, a vida humana prossegue de modo espiritual. Como, porém, admitir que este corpo tão manifestamente mortal possa ressuscitar para a vida eterna?” (CIC n. 996). Que mistério! Em Cristo, “este corpo mortal se reveste de imortalidade” (1 Cor 15,54). 

Com frequência falamos das “almas” no céu. Quando enterramos minha avó, eu vi seu corpo entrar na terra, e estou confiante que sua alma esteja agora gozando uma forma de união com Deus. As almas que atualmente estão no céu (“atualmente” é sem dúvida uma palavra relacionada com o tempo, e não faz sentido usá-la com relação ao céu), porém, permanecem em estado “desumano” (sem a humanidade) até a ressurreição de seus corpos. Nem pode haver outro caminho para nós, seres humanos. Como Deus nos criou numa união de corpo e alma, a separação dos dois na morte é inteiramente “artificial”. Nossos corpos serão, claro, diferentes em seu estado de ressuscitados (lembre que os discípulos não reconheceram imediatamente Jesus, após a ressurreição – cf. Lc 24, 15- 16), mas nós ainda continuaremos com eles. 

A diferença é que nossos corpos serão totalmente “espiritualizados” (cf. 1 Cor 15,44). Espiritualização quer dizer que “as forças do espírito irão permear as energias do corpo” (09.12.1981). E porque o “espírito” que permeará nossos corpos não será́ somente o nosso próprio e criado espírito humano, mas também o divino e incriado Espírito Santo, João Paulo II fala também na “divinização” do corpo. De um modo totalmente inacessível para nós agora, participaremos em corpo e alma “da natureza divina” (2 Pe 1,4). 

Lembre a nossa exposição anterior sobre o mais íntimo segredo de Deus: “Ele mesmo é eternamente intercâmbio de amor, Pai, Filho e Espírito Santo, e nos destinou a participar desse intercâmbio” (CIC n. 22 1). É isto que entendemos com “espiritualização” e “divinização” do corpo. Até onde é possível às criaturas, participaremos em corpo e alma no eterno intercâmbio do amor de Deus. E, desde o início, este “grande mistério” encontra-se prefigurado no “intercâmbio de amor” entre homem e mulher, isto é, em e através do seu ser, “uma só carne”.

Muitos perguntam se haverá sexo no céu. Depende do que entendermos por esta palavra. Sexo não é, em primeiro lugar, o que as pessoas fazem, e sim o que as pessoas são como homem ou mulher. João Paulo II lembra três vezes, na sua audiência de 02.12.1981 (e noutras ocasiões também), que ressuscitaremos como homem e mulher. Neste sentido sim haverá sexo no céu. Mas, de acordo com as palavras de Cristo sobre a ressurreição, a união dos sexos, como a conhecemos agora, cederá lugar a uma união infinitamente maior. Os que ressuscitarem para a glória experimentarão uma felicidade tão superior à união sexual terrena, que nossos pequeninos cérebros, nem de longe, conseguem imaginar. “Os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, nem o coração humano imaginou os bens que Deus preparou para os que o amam” (cf. 1 Cor 2,9). 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

Fonte: WEST, C. Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II. Madrid: Myrian, 2008.

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