Durante o período da quaresma a Igreja nos convida a reflexão fazendo uso das práticas do jejum, da oração e da penitência. Embora a sabedoria milenar da Santa Mão Igreja a esse respeito seja abundante, todos os anos muitas ideias e novidades surgem na tentativa de adaptar essas práticas aos tempos de nossa modernidade. Mas como diz o ditado popular, de boas intenções o inferno está cheio, por isso, antes de embarcar em ideias criativas para a quaresma eu recomendo que vá primeiro a tradição da Igreja, calma, não digo que não possa fazer nada de novo, mas ressalto que antes de adotar qualquer nova ideia teste se ela se mantem de pé ao confrontá-la com a Sagrada Tradição. 

O jejum, talvez por ser algo que envolve uma ação natural que todo ser humano precisa realizar, é que percebo provocar mais ideias estapafúrdias e que sinceramente, só são amplamente compartilhadas e divulgadas porque as pessoas não se dão ao trabalho de pensar um pouco a respeito, pois não precisa ser um santo de sétima morada ou um doutor da Igreja para perceber que muitas das novidades que surgem para praticar o jejum durante a quaresma estão no mínimo equivocadas. 

Para perceber isso, resgatemos o que nos ensina Santo Tomás de Aquino a respeito do jejum, o doutor Angélico reflete que o jejum se pratica por três motivos, para reprimir as concupiscências da carne, para mais livremente nos elevar a alma na contemplação das sublimes verdades e para satisfazer pelos nossos pecados. 

Ou seja, a prática do jejum tem sentido na vida do cristão a partir do momento que se compreende o jejum como uma ação que livremente realizamos para acrescentar virtude em nossas vidas com a intenção de comtemplarmos e agradarmos a Deus. 

Embora no primeiro momento a prática do jejum nos leva a retirar o consumo de alguma comida ou bebida, a prática do jejum precisa ter uma motivação diferente, no sentido de acrescentar virtude, como destaca Santo Tomás de Aquino ao citar os ensinamentos de São Jerônimo, “sem Ceres e Baco Vênus esfria”, tal alegoria com os deus greco-romanos é feita para demonstrar como sem Ceres, deusa dos frutos da terra (comida) e sem Baco, deus do vinho e das festas (bebida), Vênus a deusa do amor (luxuria) tente a se esfriar, pois se somos capaz de contrariar nossos impulsos humanos e controlar nossas vontades de comer e beber, mais facilmente podemos controlar o impulsos luxuriosos do nosso corpo, passando a sermos guiados pela virtude. 

Tendo isso bem claro em nossas cabeças, fica muito fácil perceber por que algumas ideias de jejum são no mínimo aquele tipo de ideia que parece boa, mas nos leva para o inferno. Mesmo assim todos os anos elas voltam renovadas e muitas vezes passam despercebidas, vejamos algumas delas.

Fazer o jejum da língua, embora pareça virtuoso ter como proposito passar o período da quaresma sem xingar palavrão, sem fofocar, sem falar da vida dos outros. Eu tenho que dizer que isso não é compatível com a fé da Igreja, por um motivo muito simples, o cristão não deve fazer isso em nenhum período do ano, se você faz isso o proposito de não mais fazer é bem-vindo, mas não vem com essa de jejum, você está pecando, despreze completamente esse hábito da sua vida, procure o sacramente da confissão e suplique a Deus a graça de nunca mais fazer isso. 

Fazer o jejum de sexo, eu quero acreditar que quando essa ideia surgiu ela foi sugerida para casais unidos no sagrado matrimônio, mas infelizmente ela é muito popular entre casais de namorados e solteiros hoje em dia. Não deveria ser necessário, mas não custa lembrar, a relação sexual fora do matrimonio é pecado, não existe essa de jejum de sexo durante a quaresma para quem não é casado, o jejum é o ano inteiro e tem outro nome, se chama castidade. 

Fazer o jejum da desobediência, esse é muito popular entre os jovens, inclusive presenciei catequistas recomendando aos jovens em uma catequese de crisma, consiste em passar o período da quaresma sem desobedecer aos pais. Eu sei que é bastante sedutor usar a quaresma como propostas para que os adolescentes sejam mais obedientes em casa, mas o quarto mandamento não existe para ser cumprido apenas 40 dias por ano. Também sei que quando se é jovem a tendencia é discordar de muito daquilo que os pais falam e fazem, mas aqui falo diretamente aos jovens que nos leem (sabemos que vocês são a maioria), o caminho de santidade não passa por fazer só aquilo que nos agrada, olhem para a vida dos santos e vocês terão certeza de que o caminho de santidade passa muito mais por obedecer do que por deixar nossos impulsos e vontades comandarem. 

Fazer o jejum de pornografia e masturbação, assim como as outras ideias, também parece algo virtuoso, mas esbarra no mesmo problema, o consumo de pornografia e a prática da masturbação são pecados graves, não é o tipo de coisa que se deixa por 40 dias. É preciso abdicar, buscar a confissão com o firme proposito de não mais fazer e pedir a graça de Deus para deixar esse mau para traz. Aqui também aproveito para deixar um conselho, além de pecado isso também pode já ser para você um vício e como muitos vícios você pode não conseguir se livrar disso sozinho, não tenha vergonha de pedir ajuda, de procurar um bom confessor ou diretor espiritual que possa encaminhá-lo aos profissionais adequados para te ajudar com isso. 

Existem muitas ideias como essas circulando por aí na internet e em nossas paróquias, muitas são sugeridas por pessoas que respeitamos e amamos, as vezes com a ideia de que no passar da quaresma você vai ter se habituado e não mais cometerá tais pecados, mesmo assim, esse não é o caminho que a Igreja orienta que sigamos, não podemos ficar negociando com pecados, não tente negociar com o mau, você vai perder se o fizer. 

Além disso, ideias como essa demonstram a dificuldade que temos em diferenciar jejum de penitência, o que acaba nos levando a mais equívocos. Por isso, na dúvida, fique com o básico e tradicional da Igreja, faça seu jejum simples, com o firme propósito de buscar virtudes que te aproximem de Deus, mantendo a fé e a confiança, Ele fará o resto.  

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

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