Sobre a vocação matrimonial 

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A vocação matrimonial pode ser considerada a mais fácil de compreender, por muitas vezes apresentar-se como uma escolha de ordem natural, já pensada por Deus Pai desde a criação, como está escrito no livro do Genesis.

“Mas no princípio da criação Deus ‘os fez homem e mulher’. ‘Por esta razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne’. Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, ninguém o separe.”

(Mc 10, 6-9)

Porque a vocação matrimonial é uma vocação familiar, uma vocação impossível de ser vivida sozinho, e por ser uma vocação familiar, poderíamos facilmente evocar o exemplo da Sagrada Família para guiarmos por essa reflexão, pois aqueles que abraçando a vocação matrimonial tem em Jesus, Maria e José seus exemplos, jamais estão desamparados e trilham seguramente em seus exemplos o caminho para o céu. 

Mas infelizmente, os tempos atuais exigem de nós relembramos conceitos simples e reafirmamos o que em gerações passadas seria piada afirmar de tão evidente, a necessidade dessas afirmações é emergente ao ponto de que pessoas de boa vontade, viventes na fé da Santa Mãe Igreja, acabam o fazendo, até mesmo como se fosse algo novo ou especial, quando na verdade estão apenas sendo católicos.

A vocação do matrimonio exige muito mais do que um mero papel no cartório ou de morar junto com alguém. Se faz necessário o sacramento do matrimonio, indissolúvel até a morte, vivido na fidelidade a Deus e ao cônjuge, sempre tendo em mente que isso não é ser santo, esse ainda é o básico que todo católico precisa fazer. 

Não diferente da fidelidade, ser aberto a vida, permitindo que a graça de Deus conduza o casal e pela vontade Dele lhe sejam agraciados com quantos filhos Deus assim desejar (o número aqui é irrelevante, pode ser 0 como pode ser 20), não é ser diferenciado, ainda é apenas o básico do católico que acolheu a vocação matrimonial. 

Nascidos os filhos desse matrimonio, conforme a vontade de Deus, educá-los na fé segundo manda a Santa Mãe Igreja, não é uma coisa para se der tempo, a catequese das crianças não é obrigação da paroquia local, é dever de todos que acolhem a vocação matrimonial apresentar Deus e educar na fé seus filhos no seio familiar.

Destaco propositalmente o óbvio para deixar bem claro, que a vacação matrimonial e familiar é um chamado nobre e sagrado, como muitos santos já exemplificaram ao longo dos séculos. A vida matrimonial não é apenas uma união de duas pessoas, mas uma vocação que reflete o amor de Deus e o propósito divino para a humanidade. Ao longo da história a Santa Mãe Igreja nos presenteou com diversos santos que se destacaram não apenas por suas virtudes individuais, mas também por sua dedicação à família e ao sagrado matrimônio. Suas vidas e ensinamentos continuam a inspirar e orientar os casais e famílias na busca da santidade.

Exemplos como o de Santo Isidoro e Santa Maria da Cabeça que abraçaram a vida matrimonial com profunda fé. Eles encarnaram a vocação ao matrimônio, mostrando que é possível viver em constante comunhão com Deus, até nas ocupações diárias. A vida e as palavras de Santo Isidoro nos lembram da importância de compartilhar o fardo da vida cotidiana com o cônjuge.

“O casal não deve recusar-se um ao outro, a não ser com mútuo consentimento. Não devem privar-se, a não ser por algum tempo, a fim de se dedicarem à oração. Depois, devem reunir-se novamente, para que Satanás não os tente por causa da falta de continência.”

Santo Isidoro de Pelúsio

Em tempo mais contemporâneos, Santa Gianna Beretta Molla nos ofertou um grande exemplo de vocação matrimonial e familiar. Viveu como médica e mãe de família que, mesmo diante de um diagnóstico de doença grave durante a gravidez, escolheu sacrificar sua própria vida para salvar a vida de seu filho. Sua atitude de amor e sacrifício reflete o exemplo de Cristo e ressalta a importância do dom da vida em todas as suas formas.

“O amor é a força mais forte e humilde que existe no mundo, e é aí onde se exprime de forma mais bela. Por isso, é o privilégio dos fortes, daqueles que conseguem amar e amar-se nos momentos mais difíceis.”

Santa Gianna Beretta Molla

Podemos nos espelhar também no exemplo de São Luís e Santa Zélia Martin, pais de Santa Teresa de Lisieux, demonstraram a importância da educação cristã na formação dos filhos. Eles viveram uma vida de profunda fé, devoção e amor, transmitindo esses valores aos seus filhos. Sua influência na vida de Santa Teresa de Lisieux, uma das maiores santas da Igreja, mostra como a família pode ser uma escola de santidade.

“Meus queridos filhos, desejo-vos uma virtude acima de tudo, e esta virtude é a pureza, a santa pureza. (…) Se um pai ou uma mãe tiver o desgosto de ver um filho seu perder a sua inocência, seria mais feliz vendo-o morrer diante dos seus olhos.”

São Luís Martin

E se falei do grande doutor da Igreja Santo Agostinho de Hipona, ao refletir sobre as vocações ordenadas, é preciso destacar o papel crucial da intercessão de sua mãe, Santa Mônica, na conversão dele, ela que não cessou suas orações e recebeu a graça da consolação.

“Vai em paz e continua a viver assim, porque é impossível que pereça o filho de tantas lágrimas.”

Um exemplo de mãe que gerou o santo que veio mais tarde a afirmar sobre a importância da família. 

“Ama e faz o que quiseres. Se te calas, calarás com amor; se gritas, gritarás com amor; se corriges, corrigirás com amor; se perdoas, perdoarás com amor. Se tens o amor enraizado em ti, nenhuma coisa senão o amor serão os teus frutos.”

Santo Agostinho de Hipona

No ceio da família católica é onde brota todas as vocações, santos de todas as épocas e vidas vocacionais reconhecem isso, como nos ensina São João Paulo II, um papa profundamente dedicado à família, exaltou a vocação matrimonial como uma expressão concreta do amor divino.

“A família, apesar de todos os seus problemas, é ‘o santuário da vida’. É o lugar onde a vida – dom de Deus – pode ser acolhida e protegida de maneira adequada contra os múltiplos ataques a que está exposta, e pode desenvolver-se segundo as exigências de um autêntico crescimento humano.”

São João Paulo II

Santo Antônio de Pádua, conhecido por sua sabedoria e suas pregações (e para alguns como santo casamenteiro), também deixou sua marca na compreensão da família.

“O casamento não é uma inclinação do homem, mas sim uma providência de Deus. Portanto, quando Deus chama, o homem não deve resistir.”

Santo Antônio de Pádua

É com o olhar atento nesses e em tantos outros ensinamentos sobre a importância da vocação matrimonial é que devemos orar sempre pelas famílias, para que a Igreja seja fecundada com matrimônios santos e para que sejamos capazes de sermos famílias de Cristo, com Cristo e por Cristo na eternidade, como nos ensina o São Francisco de Sales, doutor da Igreja e padroeiro dos escritores.

“Um bom pai ou uma boa mãe é aquele que possui o Espírito Santo e faz a mesma obra que Ele fez em Maria. Assim como o Espírito Santo formou Jesus Cristo em Maria, Ele formará Jesus Cristo em você, a ponto de você se tornar pai ou mãe de Cristo para a eternidade.”

São Francisco de Sales

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.