(Jo 13,31-33a.34-35)

“Filhinhos, por pouco tempo ainda estou convosco. Eu vos dou um novo mandamento: amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns pelos outros” (Jo 13,33a.34-35).
Há palavras que não deveriam ser lidas com pressa. E há momentos na vida em que a urgência do coração de Cristo deve ecoar no nosso com o mesmo peso e ternura com que Ele as pronunciou naquela ceia.
Jesus sabia que os minutos com os Seus estavam se esgotando. Sabia que Judas já tinha saído. Sabia que Pedro O negaria. Sabia que o peso da cruz se aproximava. E, ainda assim, não faz um apelo político, não ensina uma nova doutrina, não revela um segredo místico. Ele apenas diz: “amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.”
São João Crisóstomo explica que o novo desse mandamento não está em amar, mas em amar “como Eu vos amei”. O Antigo Testamento já nos dizia para amar o próximo. Mas o Cristo vai além, Ele nos manda amar com medida divina.
E como foi que Ele nos amou? Com entrega. Com paciência. Com perdão. Com verdade. Com cruz.
Santo Agostinho escreve que amar como Cristo é o mais alto grau da caridade, pois é dar-se por inteiro, mesmo aos que não merecem, mesmo aos que traem, mesmo aos que não compreendem. É um amor que não depende da resposta do outro para continuar sendo amor.
Mas esse mandamento também carrega uma identidade, “nisto todos reconhecerão que sois meus discípulos” (Jo 13,35a).
Jesus não diz que seremos reconhecidos por nossos milagres, nem pela nossa eloquência, nem pelas nossas vestes, nem por nossos eventos, ministérios ou títulos. Ele diz que o mundo reconhecerá os seus verdadeiros discípulos pelo modo como se amam.
São Gregório Magno afirma que amar ao modo de Cristo é o sinal distintivo do cristão, pois aquele que ama até o sacrifício revela a presença de Deus em si. Porque, afinal, “Deus é amor” (1Jo 4,8) e ninguém pode dar o que não tem.
Santo Tomás de Aquino, na Suma Teológica, ensina que a caridade é a forma de todas as virtudes. Nenhum ato bom agrada a Deus se não estiver enraizado na caridade. Mesmo a fé, diz o doutor angélico, só é perfeita quando atua pela caridade (cf. Gal 5,6).
Ou seja, não basta apenas crer. É preciso amar. E não basta amar “do nosso jeito”, é preciso amar como Cristo amou. Aí está o desafio e aí está a promessa.
Jesus não impõe esse amor como um fardo, mas como um caminho. Ele não apenas nos manda amar, Ele nos mostrou como fazer. E ao nos mandar, Ele também nos dá a graça necessária para isso. A cada sacramento da confissão, a cada Eucaristia recebida, a cada cruz abraçada, somos conformados a Ele. Amamos como Ele, porque vivemos n’Ele.
E se um dia alguém perguntar se você é mesmo discípulo de Cristo, que essa não seja uma pergunta difícil de responder, que seja uma pergunta que sequer precise ser feita. Que baste olhar para como você ama.
Como ama quem pensa diferente, como ama quem te fere, como ama os que Deus colocou no seu caminho, como ama mesmo sem ser amado de volta. É nesse amor que está a nossa fé mais profunda, é nesse amor que nos reconhecem como discípulos, é nesse amor que Deus se torna visível no mundo.
É nesse amor que percebemos Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.





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