“Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,13-19).

Neste domingo, a liturgia nos convida a celebrar a fé com o rosto de dois homens muito diferentes, mas inseparáveis na missão: Pedro e Paulo. Um era pescador, o outro estudioso; um impulsivo, o outro perspicaz; um acolheu o Senhor desde o início, o outro perseguiu-O até ser derrubado pela graça. Ambos, no entanto, confessaram a mesma fé, derramaram o mesmo sangue, serviram à mesma Igreja. E é sobre essa fé confessada e esse sangue oferecido que o Senhor quis edificar o Seu Corpo místico.
O Evangelho nos leva a Cesareia de Filipe, onde Jesus, após um momento de oração, dirige aos discípulos a pergunta mais decisiva da vida cristã, “E vós, quem dizeis que Eu sou?” (Mt 16,15b). Pedro responde, não com palavras próprias, mas movido pelo Pai que habita o céu, “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16,16b). São Leão Magno nos recorda que a grandeza dessa confissão não está na eloquência de Pedro, mas na origem de sua inspiração. Ele fala, mas é o Espírito Santo quem sopra. Ele declara, mas é o céu quem revela. E é sobre essa fé, viva e sincera, que Cristo ergue a Sua Santa Igreja, “tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja” (Mt 16,18).
Essa rocha, como ensina Santo Agostinho, não é a fragilidade da carne de Simão, mas a força da fé que o une à divindade do Filho. Pedro é rocha porque se apoia na Rocha, que é Cristo, e essa missão que lhe é confiada, não é privilégio pessoal, mas serviço e responsabilidade. O mesmo Pedro que professa a fé é aquele que, pouco depois, ouvirá que não compreende ainda o modo como o Messias há de se manifestar pela cruz.
Na primeira leitura (At 12,1-11), Pedro aparece mais uma vez, agora não como proclamador, mas como prisioneiro, acorrentado, vigiado e humilhado. Mesmo assim, a Igreja não o abandona, reza por ele com insistência e é então que o Senhor intervém. O anjo do Senhor o liberta, as correntes caem, os portões se abrem. Pedro compreende que foi Deus quem o livrou, não por seus méritos, mas porque a missão ainda não havia terminado. Aquele que um dia andou sobre as águas e afundou por duvidar, agora caminha firme pela noite, conduzido pela graça.
Na segunda leitura (II Tm 4,6-8.17-18), vemos Paulo às portas do martírio, já não escreve com ímpeto, mas com serenidade. Não há mais corridas, nem viagens, nem disputas. Há apenas a consciência tranquila de quem combateu o bom combate. “Completei a corrida, guardei a fé” (II Tm 4,7). Todos o abandonaram, mas o Senhor permaneceu e isso lhe basta. São João Crisóstomo ensina que a glória de Paulo não estava nos milagres que realizava, mas na constância com que suportava as perseguições, tudo por amor a Cristo.
Pedro e Paulo, juntos, são as colunas que representam a Igreja em sua totalidade. Pedro, o princípio visível da unidade, o guardião da fé, o pastor do rebanho. Paulo, o arauto incansável da Palavra, o teólogo do amor, o missionário até os confins da terra. Santo Tomás de Aquino nos lembra que ambos são complementares, Pedro sustenta a estrutura; Paulo espalha a doutrina. Um edifica a casa, o outro a expande e ambos a entregam ao Senhor, com o selo do martírio.
Celebrar essa solenidade é deixar-se interpelar, qual é a minha resposta à pergunta de Jesus? Quem Ele é para mim? Porque confessar que Ele é o Cristo exige mais que palavras. Exige cruz, e a cruz, sabemos, não é confortável. Ela exige renúncia, perseverança, entrega diária, não basta dizer com os lábios se o coração não está disposto a seguir até o fim.
Pedro e Paulo não foram santos prontos, foram moldados na dor, na contradição, na misericórdia. Pedro negou e Paulo perseguiu, mas ambos foram alcançados por um amor mais forte que suas quedas e deixaram-se transformar. Amaram a Santa Igreja não com romantismos, mas com sangue, serviram-na até o limite das forças, sabendo que, no fim, não se tratava de mérito, mas de graça. A mesma graça que os levantou, os enviou e os sustentou.
Hoje, o Senhor continua perguntando. E espera uma resposta que seja mais que teoria, Ele espera uma vida entregue. Que Pedro nos ensine a amar a Santa Mãe Igreja mesmo nas noites de prisão. Que Paulo nos ensine a não recuar diante das dificuldades. E que nós, ainda peregrinos, saibamos nos apoiar na mesma fé que os sustentou, certos de que o Senhor, que começou a boa obra, há de levá-la à perfeição.
São Pedro e São Paulo, colunas da Igreja de Cristo, rogai por nós!
Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.




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