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No Domingo, obedeça em silêncio

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“José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado” (Mt 1,18-24) 
4º Domingo do Advento | Ano A

Às portas do Natal, a liturgia da Santa Mãe Igreja nos conduz ao silêncio decisivo de São José. No quarto domingo do Advento, não encontramos discursos longos nem gestos espetaculares, mas o drama interior de um homem justo que aprende a obedecer quando tudo parece fugir à lógica humana. O Evangelho nos apresenta a origem do nascimento de Jesus não a partir da Virgem Maria, mas a partir do coração de São José, lugar onde a fé é provada e purificada.

José descobre que Maria está grávida, diante de um fato que não compreende, escolhe não expor, não acusar, não ferir. Santo Agostinho, bispo e doutor da Igreja, vê nessa atitude a marca da verdadeira justiça, não a justiça que condena, mas aquela que se deixa guiar pela caridade. José é justo porque ama sem possuir, porque confia antes de entender, pois sua justiça não é legalista, mas profundamente teologal.

A decisão de “abandonar Maria, em segredo” (Mt 1,19b) revela um homem que prefere sofrer em silêncio a causar escândalo. São João Crisóstomo, arcebispo e doutro da moral da Igreja, afirma que José não suspeita de pecado em Maria, mas reconhece um mistério que o ultrapassa. Ele se retira não por desconfiança, mas por reverência. Aqui se manifesta uma virtude raríssima, a humildade diante da ação de Deus. O Advento chega ao seu ápice exatamente nesse ponto, quando o homem aprende a não ocupar o lugar que pertence a Deus.

É então que o Senhor intervém em sonho, o anjo não explica tudo ele apenas ordena “não tenhas medo de receber Maria como tua esposa” (Mt 1,20). São Gregório Magno, papa e doutor da liturgia da Igreja, recorda que Deus frequentemente fala no sonho porque o silêncio exterior favorece a escuta interior. O medo de José não é covardia, mas consciência do sagrado e é justamente esse temor reverente que o torna capaz de obedecer.

A revelação do nome Jesus é central, “ele vai salvar o seu povo dos seus pecados” (Mt 1,21b), como nos ensina Santo Tomás de Aquino, o doutor angélico, que o nome expressa a missão e a missão de Cristo não é política nem triunfalista, mas redentora. O Emanuel não vem apenas habitar entre nós, mas restaurar aquilo que o pecado feriu. José, ao aceitar dar o nome ao menino, assume juridicamente a paternidade e, com ela, a missão de proteger o Redentor do mundo. Seu silêncio torna-se serviço e sua obediência, cooperação direta com o plano da salvação.

A citação do profeta Isaías confirma que nada acontece por acaso, é a história se cumprindo no escondimento, longe dos palácios e das expectativas humanas. Papa Bento XVI sublinha que o nascimento virginal não é um mito, mas um sinal, Deus inicia algo absolutamente novo sem romper com a história, mas entrando nela de modo humilde. José é testemunha dessa novidade discreta, onde a grandeza de Deus se manifesta na obediência silenciosa de um homem comum.

José não pronuncia uma única palavra no Evangelho, mas sua fé fala por ações. Ele acorda e faz como o anjo ordenara. São Bernardo de Claraval, abade e doutor das almas da Igreja, observa que José acreditou antes de ver, e por isso viu. Sua prontidão contrasta com a demora de tantos corações que exigem garantias antes de confiar e é por isso que no limiar do Natal, José nos ensina que a fé verdadeira não elimina a obscuridade, mas caminha dentro dela com confiança.

Neste quarto domingo do Advento, a Santa Mãe Igreja nos convida a contemplar o mistério a partir da obediência, onde a Virgem Maria acolhe pela fé e São José sustenta pela fidelidade. Ambos nos mostram que Deus entra no mundo quando encontra corações disponíveis, por isso às vésperas do Natal, busquemos aprender com São José a escutar em silêncio, a obedecer sem reservas e a acolher o Emanuel não segundo a nossa coerência, mas segundo o desígnio de Deus. Porque o Verbo se faz carne onde há fé confiante e amor servil, das grandes missões aos pequenos detalhes. 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.