Sempre que algo toma de assalto os holofotes da mídia nós naturalmente tendemos a prestar mais atenção no assunto. Ao passo em que vivemos em uma sociedade   com abundância de informações, nós por muitas vezes escolhemos negligenciar a oportunidade de consumir informação de qualidade e nos aprofundar sobre o algum assunto do qual desejamos nos posicionar. Mais fácil do que dedicar tempo e esforço para compreender a fundo algo e somente depois opinar, é nos contentarmos com vídeos curtos que mais desinformam do que informam, títulos de manchetes construídos para gerar cliques e imagens criadas para receber curtidas, a final de contas, não temos tanto tempo a perder, pois quando finalmente aprendermos sobre algo já será tarde, a eternidade da semana já terá passado e nós queremos falar quando todo mundo está falando sobre. Por isso eu quase sempre espero passar, para assim tentar evitar de embarcar em um delírio coletivo por não dedicar tempo para pensar. 

Com o fim do mês de agosto, as tropas de ocupação estadunidenses deixaram definitivamente o Afeganistão e como sempre a internet foi a loucura, mas uma vez os cientistas políticos que outrora eram todos infectologistas especialistas em Sar-Covid-19 mudaram de área e se tornaram especialistas em geopolítica militar, com ênfase em Oriente Médio, para mim o ague dos especialistas chegou quando eu estava na feira tentando comprar alface e a vendedora estava discutindo a maneira como o presidente dos EUA ordenou a retirada das tropas. 

É claro que nada impede de a vendedora ter conhecimento para comentar a respeito disso, mas que é bastante inusitado, sim é. Vi muita gente nas redes sociais revoltados e apontando quase sempre a maneira como as mulheres voltariam a serem tratadas pelo regime do Talibã que assumiu o poder no país, a repressão aos direitos de estudar, de sair sozinha na rua, de trabalhar, os casos de violência, tortura, estupro etc. Muitos falando sobre as violações dos direitos humanos básicos, da perseguição as minorias e a outras crenças. 

Todas essas coisas são preocupantes e é penoso saber que cerca de 4,6 milhões de pessoas no Afeganistão estão agora a mercê de viver dessa maneira. Contudo cabe perguntar, onde fica o Afeganistão? Talvez você saiba, talvez não, vou deixar aqui uma imagem do mapa-múndi para que você aponte onde ele fica. 

Se você não conseguiu localizar pense um pouco sobre isso e realize esse exercício com os seus amigos que demonstraram tanta indignação e realizaram declarações nas redes sociais com suas opiniões a respeito. Não estou dizendo que só porque alguém não sabe onde fica um país ele não pode se preocupar com o sofrimento de um povo, mas é importante observar uma triste verdade, a maioria de nós só sabe que o Afeganistão existe porque a mídia noticiou a respeito e a mídia só fez isso porque quem estava retirando as tropas de lá eram os EUA e a OTAM.

Mas faça mais um exercício prático, dá um Google e descobre quantos países vivem hoje sobre lei islâmica, quantos deles possuem uma interpretação extrema como a que o Talibã defende, você vai descobrir que talvez essa situação que revoltou tanta gente na semana passada não é uma situação exclusiva de um só lugar. 

Mas aprendamos um pouco com isso, qual o nosso papel de cristão diante disso tudo? A primeira coisa que nós cristãos devemos observar é que a nossa fé está pautada na liberdade, ninguém pode ou deve exigir que professemos a fé cristã ao passo que também vem de nós cristãos os conceitos modernos de liberdade religiosa e de livre culto. Temos essa dádiva nas mãos e não vivemos a fé direito, mas arrumamos tempo para dar opinião sobre a fé dos outros da qual conhecemos menos ainda? Precisamos repensar um pouco nossas prioridades. 

Muitas nações de maioria islâmica professam sua fé livremente e muito embora eu não professe a fé islâmica, uma coisa precisa ficar clara, o problema não está na religião dizer que a mulher deve cobrir o rosto ou a cabeça, não há problema nela precisar da autorização do marido para fazer as coisas ou para sair na rua devidamente acompanhada, essas e quaisquer outras regras são para mim simples. Assim como considero simples padres não poderem se casar e precisarem viver o celibato ou mulheres não receberem o sacramento da ordem no catolicismo. 

Ninguém deve querer mudar o sistema de fé só porque não gosta, o ponto principal não pode ser mudar a fé, deve ser sempre professar uma fé livre, se você professa a fé islâmica siga todos os preceitos dessa fé, assim como se você professa a fé católica deve com igual fidelidade seguir os preceitos da fé católica. O único problema real do Talibã é chegar ao extremo de impor a fé que o grupo professa sobre os outros por meio do terror e da força bruta e esse problema é algo que não diz respeito a nós. 

Por mais incomodo que seja, não diz respeito a nós, talvez seja algo para resolver em uma cúpula de paz, com tropas armadas, com sansões econômicas ou seja lá mais o quê. Mas a nós católicos e cristãos do mundo inteiro, nos cabe uma luta muito mais longa, nos educar na fé e nesta mesma fé educar os nossos, só assim poderemos fazer real diferença no mundo. A fé viva em obras que educa na compreensão do mundo que vivemos, no respeito as diferenças, na solidez da fé e no entendimento da vontade de Deus. De nada adianta para nós sermos mordazes e seletivamente indignados com uma novidade por semana, se todos os dias ignorarmos o nosso irmão que sofre, sofre não só pela falta do essencial como comida e abrigo, mas também pela falta do Eterno, sem compreender os designíos de Deus e sem a instrução mínima para compreender o mundo a nossa volta. 

Nos preocupemos com os que sofrem mundo a fora, mas se nossa preocupação está em fazer o verdadeiro bem não precisamos ir para tão longe, é certo que Deus tem uma oportunidade bem do seu lado esperando para que você possa praticar. Como nos disse uma vez Madre Teresa de Calcutá,

“É fácil amar os que estão longe. Mas nem sempre é fácil amar os que vivem ao nosso lado”.

Santa Madre Teresa de Calcutá

Percebam Deus nos pequenos detalhes. 

Graça, Paz e Misericórdia. 

Foto: This Broekkamo Photography

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