“Quando foi que te vimos como estrangeiro e te recebemos em casa, e sem roupa e te vestimos?”

(Mt 25, 38).

Quando olhamos para as promessas da boa nova muitas vezes nossa humanidade fala mais alto deixando todas elas muito distantes, sempre para uma vida que só alcançaremos após terminar nossa jornada terrena, ainda mais distante muitas vezes as colocamos como inalcançáveis ou exclusivas da vida dos Santos.

Sabemos que neste mundo está reservado a nós grande tormentas (Jo 16, 33; Lc 21, 12), aqueles que prometem o paraíso nessa terra não entenderam o evangelho de Cristo. Mas aqueles que nada fazem para ajudar o seu próximo (Lc 10, 25; Mt 25, 34) também não terão parte na glória Deus.

A dois meses, antes de mudar, eu doei muitas roupas para a caridade, não queria viajar com muita bagagem e pretendia renovar o guarda-roupa comprando tudo novamente quando chegasse no Brasil, se não preciso, a solução mais humana foi doar. 

Ao chegar no Brasil, tive vários gastos previstos e muitos outros inesperados, o que deixou meu orçamento muito apertado e quando fui comprar as roupas meu cartão foi negado. Ainda bem que a compra era on-line assim a vergonha de não poder pagar foi menor (pode rir porque eu estou rindo). 

Um dia depois de ter meu cartão recusado, uma senhora passou a porta, ela apresentava idade avançada, ao seu lado estava seu marido, também já bem idoso, ambos de aparência humilde e com linguajar simples, pediam roupas usadas para levar para seus parentes pobres no interior, roupas usadas são minhas palavras, pois as dela foram 

“Qualquer roupa ou pano velho que você tiver e não queira mais, não importa se estiver manchando ou rasgado, só para ter qualquer coisa para vestir. Pode ser assim.”

O “pode ser assim” ela disse apontando para o chão, onde havia uma camisa velha usada como pano de chão na porta. Minha mãe entrou e separou várias peças, eu fiz o mesmo, ensacamos tudo e eles seguirão muito agradecidos, com um brilho renovado no olhar.

Momentos depois eu pensei “agora só tenho quatro camisas”, mas em seguida pensei “melhor quatro do que nenhuma. Eu estou quase sem roupa, mas tem gente que não tem nem o que quase”. Depois desse pensamento eu me senti diferente, não era a mesma sensação de quando realizei a doação antes de viajar, doar quando se tem e não fará falta me trouxe uma sensação de realização pessoal, mas dessa vez não me sentir doando, me sentir dividindo porque sabia que sentiria falta, mas não me doía em nada partilhar. 

Fui a missa à noite e após a missa reunir-me para um lanche com duas amigas e um outro amigo que encontramos pelo caminho. Eles não sabiam de nenhum desses fatos e quando estávamos voltando para casa, o meu amigo olhou para mim do nada e disse “vou lhe dar uma camisa”.

Nessa hora eu não senti a promessa distante, eu senti que ela estava bem ali a minha frente. Então pensei “recebida a mensagem” e comecei a brincar com eles caminhando pela rua. 

Só depois comentei sobre isso com uma delas e aqui estamos falando sobre partilha, não conto isso para me enaltecer, mas para pedir, vivemos tempos complicados de pandemia, desemprego e crise financeira, se você tem recursos sobrando e não sabe como pode ajudar, procure a igreja do seu bairro, a igreja sempre sabe onde estão os irmãos que sofrem e toda a ajuda é bem vinda. 

Se você não tem sobrando, mas ainda pode dividir, lembre-se que foi na partilha do pão que Jesus se revelou aos discípulos (Lc 21, 13), se no momento você não pode fazer nenhuma das duas coisas, ofereça suas orações diárias pela igreja, pelo papa, pelos sacerdotes, religiosos e leigos que lutam pelo bem comum nesses tempos difíceis e em especial no mês de novembro pelas almas que estão no purgatório. 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

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