O brasileiro, assim como quase todos os povos latinos são por padrão um povo emocionalmente inflamado, quando nos envolvemos com alguma coisa é um envolvimento em nível íntimo e profundo.
Não é difícil ver brasileiros gritarem para personagens fictícios na frente da televisão enquanto assistem a uma novela. Não é atoa que nossos programas esportivos podem ser resumidos como um programa onde pessoas falam sobre o jogo que já aconteceu por mais tempo do que durou o próprio jogo. Um país de dimensões continentais onde para iniciar uma discussão sem fim na internet é necessário apenas perguntar qual a praia mais bonita ou a comida típica mais saborosa.
Mas existe um lado bom em tudo isso, quando a novela termina desliga-se a TV e acabou, talvez a vejamos novamente numa reprise ou quem sabe na internet. Quando os campeonatos terminam quase sempre o que fica é aquela boa zoação para se fazer com o cunhado que não torce pelo mesmo time e o tio que precisa pagar as cervejas da rodada já que perdeu a aposta do jogo da final. Qual a praia mais bonita do Brasil? No final não importa, o importante é que ao tentar escolher uma descobrirmos lugares novos e admiramos a beleza nacional. E qual a comida típica mais saborosa? Tem para todos os paladares, dietas e habilidades culinárias.
Durante a última semana fiquei observando a reação de colegas e amigos nas redes sociais por causas do segundo turno das eleições presidenciais no Brasil. Não fui longe, não foi uma pesquisa de números frios e de rostos desconhecidos como as pesquisas eleitorais que dizem que o país está dividido, eu estava olhando para parentes, amigos de infância, colegas próximos. Pessoas que se conhecem a anos, que já estiveram juntos de joelhos diante do Santíssimo Sacramento, pessoas com as mais variadas vivências e histórias juntos, apresentações, batizados, crismas, matrimônios, unção dos enfermos e até missas de corpo presente. Pessoas que já partilharam refeições a mesa e lanches no chão da calçada, confidentes das mais íntimas aspirações, dos mais secretos medos e dos sonhos mais verdadeiros.
Mas lá estavam eles se digladiando nas redes sociais com algumas das mais baixas ofensas, usando erros passados e fazendo acusações uns aos outros em nome de defender a preferência por um candidato, saindo do espectro político e enveredando por acusações morais e religiosas muito intensas. Sim, somos um povo emocionalmente inflamado com aquilo que nos envolvemos, mas independente do resultado das eleições, como será depois?
Será preciso se preparar para limpar as feridas e acreditem são muitas, será preciso pedir perdão a muita gente, será preciso perdoar muita gente e isso só será possível se toda essa cristandade que se alega ter nas redes sociais para defender um ou outro candidato for de fato verdadeira e colocada em prática.
Será preciso muita oração, muito arrependimento, muita humildade para pedir e para ofertar perdão e aí terá chegado a nossa hora de mostra a verdadeira grandiosidade de ser cristão, pois diante de seus adversários Jesus poderia ter apontado todos os pecados de cada um, mas Ele foi silêncioso, manso e humilde de coração (Mt 26).
Independente do resultado das eleições, seja cristão e assuma a sua responsabilidade, foi você quem quebrou e é você quem tem que realizar o esforço para consertar. É você quem precisa perdoar e aceitar o perdão, é você quem precisa se desculpar, é você quem precisa se retratar pois sem isso, não haverá vencedores. A não ser que você prefira amizades desfeitas, famílias divididas e sacramentos desrespeitados apenas para poder dizer que seu candidato foi o vencedor. Se for o caso, espero profundamente que não seja, você pode se considerar muitas coisas, mas cristão não é uma delas.
E se você não for capaz disso, pense com um pouco de lógica, se o seu candidato perder e tudo de ruim que você acredita que acontecerá com o outro candidato acontecer. Os cristãos precisarão estar mais unidos do que nunca para suportar os dias tenebrosos que vem por aí. Se o seu candidato vencer e tudo de bom que você acredita que acontecerá de fato acontecer, a coisa certa a fazer não é buscar reunir a todos nessa alegria? Ou não voltará para buscar a ovelha que se perdeu? (Lc 15).
Percebam Deus nos pequenos detalhes.
Graça, Paz e Misericórdia.
Sem Nome 