Deus os tinha prevenido: se comessem daquela árvore, morreriam. E foi o que aconteceu. Não caíram mortos corporalmente, mas espiritualmente. No ato da criação, Deus tinha “inspirado” seus corpos com sua própria vida e seu amor (cf. Gn 2,7). Seus corpos agora estão “expirados”, isto é, perderam o sopro do Espírito de Deus. Vazios do amor de Deus, o desejo que sentem um do outro mudou totalmente. Tendo “renegado o dom” na sua relação com Deus, passaram a não mais experimentar o desejo sexual como o poder de tornar-se dom para o outro. Em vez disto, o que desejavam agora era agarrar-se e possuir-se mutuamente para sua própria gratificação. Nas palavras de João Paulo II, com o amanhecer da luxúria, o “relacionamento de doação tomou-se um relacionamento de apropriação” (23.07.1980). “Apropriar-se”, neste sentido, significa “apoderar-se de” com desejo de usufruir. 

O Papa chama a isto de “segunda descoberta do sexo”. Na “primeira” descoberta do sexo, eles experimentaram uma paz e uma tranquilidade totais. De repente, porém, sentem-se “ameaçados”. Originariamente a nudez revelava-lhes sua dignidade de semelhança divina. Agora eles, instintivamente, escondem sua nudez do olhar do outro. 

A vergonha tem, pois, um duplo sentido: primeiro, indica que eles perderam de vista o significado esponsal de seus corpos (o plano de Deus em relação ao amor, inscrito na sexualidade); em segundo lugar, revela uma inerente necessidade de proteger o sentido esponsal do corpo contra a degradação da luxúria. Conforme o expressou poeticamente o Papa, a luxúria “passa sobre as ruínas” do sentido esponsal do corpo, para satisfazer direta e unicamente sua “necessidade sexual” (cf. 17.09.1980). Busca a “sensação da sexualidade”, sem levar em conta o verdadeiro dom de si mesmo e a verdadeira comunhão de pessoas. A luxúria, na verdade, espedaça a sua comunhão. 

Seguidamente ouve-se falar em benefícios que a luxúria pode trazer ao relacionamento sexual ou é concebida como um aumento ou intensificação do desejo sexual. Na realidade, a luxúria é uma redução da plenitude original prevista por Deus para o desejo sexual. Nós não ganhamos “mais” quando nos damos à luxúria, mas perdemos muito. Entregar-se à luxúria equivale a matar a fome comendo lixo, quando Deus nos convida para a festa da vida eterna. Por que então escolhemos o lixo? A resposta só pode ser uma: porque realmente não acreditamos no grandioso dom do banquete de Deus – um dom que o homem e a mulher rejeitaram com o pecado original. A vergonha, por outro lado, revela nossa atração para o “lixo”. 

De modo geral, homem e mulher acusam de luxúria seus corpos. Uma tal afirmação, porém, não passa de uma “ocultação”, ou quase uma “desculpa”, para não enfrentarem a desordem profunda de seus corações. Como Jesus acentua no Sermão da Montanha, a luxúria é, primeiro e antes de tudo, um problema do coração, não do corpo. Enquanto não colocarmos ordem nos desejos desordenados do coração, jamais conseguiremos viver de acordo com a imagem de homens e mulheres, como quis Deus ao criar-nos. Como observamos anteriormente, a luxúria costuma afetar de maneira diferente o homem e a mulher. Os corações de ambos, porém, “tornaram-se um campo de batalha entre o amor e a luxúria” (23.07.1980). 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

Fonte: WEST, C. Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II. Madrid: Myrian, 2008.

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