Se queremos experimentar a redenção da nossa sexualidade, precisamos primeiro examinar como e por que caímos fora do plano original de Deus a respeito dela. Eis porque, uma vez mais, o Papa nos reconduz ao Gênesis, desta vez para analisar a natureza do pecado original e a entrada em cena das folhas da figueira. 

O Papa descreve o pecado original como o “questionamento do dom”. Permita explicar-me. O mais íntimo anseio do coração humano é ser “igual a Deus”, participar em sua vida, em seu amor. Desde o início, Deus já havia concedido ao homem e à mulher uma certa participação em sua própria vida, em seu amor, de forma absolutamente gratuita. Usando a imagem esponsal, Deus iniciou o dom de si mesmo como “esposo”, e dispôs o ser humano (homem e mulher) para receber o dom como “esposa”. Por sua vez, o homem e a mulher foram habilitados a refazer essa mesma imagem de “intercâmbio de amor”, através da mútua doação na união matrimonial. 

Para manterem esta semelhança divina e permanecerem em seu amor, Deus só lhes pediu uma coisa: não comer “da árvore da ciência do bem e do mal”. Caso contrário, perderiam o contato com a fonte da vida e do amor. Em outras palavras, morreriam (cf. Gn 2,16-17). 

Parece tão simples. Por que então deu tudo errado? “Atrás da desobediência de nossos primeiros pais, esconde-se uma voz sedutora oposta a Deus que, por inveja, os leva a cair na morte. A Escritura e a Tradição da Igreja veem neste ser um anjo decaído, chamado ‘Satanás’ ou ‘Diabo’” (CIC n. 391). Como observamos no capítulo 1, Satanás não é burro. Ele sabe que Deus criou a união dos sexos como uma participação na vida divina; e seu objetivo foi, e continua sendo, apartar-nos disto. Daqui porque ele centraliza seu ataque “exatamente no coração daquela união que, ‘desde o começo’, era formada pelo homem e pela mulher, criados e escolhidos para serem ‘uma só carne’” (05.03.1980). 

Aproximando-se da mulher, aquela que nos representa a todos como “esposa” em nossa receptividade em relação ao dom de Deus, a serpente insiste: “De jeito nenhum vão morrer. Pelo contrário, Deus sabe muito bem que, no dia em que comerem da árvore proibida, os olhos de vocês se abrirão, e serão como Deus, conhecedores do bem e do mal” (Gn 3,4-5). Mas também é possível entender assim a tentação da serpente: “Deus não os ama coisa nenhuma, não liga o mínimo para vocês. Ele é um tirano, um senhor de escravos, que, no fundo, não está a fim de lhes dar o que realmente desejam. Foi por isto que lhes proibiu comer daquela árvore. Se quiserem ter vida e felicidade, se quiserem ser ‘como Deus’, devem ir à luta e apanhar vocês mesmos as frutas da árvore, porque Deus não lhas dará jamais de mão beijada”. 

Aqui está o questionamento e, por fim, a negação do dom de Deus. No momento em que se recusam a recebê-lo de Deus e tentam agarrar a sua “felicidade”, dão as costas ao amor de Deus, ao dom de Deus. De certa forma, expulsam o amor de Deus de seus corações. “Então seus olhos se abriram e, vendo que estavam nus, teceram para si tangas com folhas de figueira” (Gn 3,7). 

A tendência de “agarrar” parece estar implantada em nossa natureza decaída. Podemos constatá-la até nas criancinhas. Por exemplo, quando meu filho pede um doce de sobremesa, antes ainda de eu tirá-lo da caixinha para lho entregar, que é que ele faz? Agarra a caixinha. Então aproveito para ensiná-lo, dizendo-lhe, por exemplo: “Calma, Tomás, deste jeito você está desprezando o presente do papai. Papai gosta de você. Quer dar-lhe este doce de presente. Se você acredita, não precisa fazer outra coisa que estender sua mãozinha e receber o doce”. Este é o problema de todos nós. Não acreditamos bastante no amor do Pai, e por isto avançamos e tentamos agarrar a felicidade. 

Percebam Deus nos pequenos detalhes.

Graça, Paz e Misericórdia.

Fonte: WEST, C. Teologia do corpo para principiantes: uma introdução básica à revolução sexual por João Paulo II. Madrid: Myrian, 2008.

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